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Jesus conforta os discípulos

14 “Que o vosso coração não se aflija. Creem em Deus, creiam também em mim. Há muitas moradas onde vive o meu Pai e vou aprontá-las para a vossa chegada. Quando tudo estiver pronto, então virei para vos levar, para que possam estar sempre comigo onde eu estiver. Se assim não fosse, eu próprio vos teria dito claramente. Aliás, vocês sabem para onde vou e como se vai para lá.”

Jesus é o caminho para o Pai

“Não, não sabemos!”, interrompeu Tomé. “Se não fazemos a menor ideia para onde vais, como podemos conhecer o caminho?”

Jesus disse-lhe: “Sou eu o caminho. Sim, e a verdade e a vida. Ninguém pode chegar ao Pai sem ser através de mim. Se tivessem sabido quem sou, então saberiam também quem é o meu Pai. A partir de agora, já o conhecem e o têm visto!”

Filipe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.”

Jesus respondeu: “Ainda não sabes quem eu sou, Filipe, mesmo depois de todo este tempo que passei convosco? Todo aquele que me viu, viu também o Pai. Então, porque me pedes para o veres? 10 Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que digo não são minhas, mas vêm do meu Pai, que vive em mim. E é através de mim que ele realiza as suas obras. 11 Creiam somente que estou no Pai e que o Pai está em mim. Ou então acreditem por causa das obras que me viram fazer.

12 É realmente como vos digo: quem crer em mim fará as mesmas obras que eu, e maiores até, porque vou para junto do Pai. 13 Podem pedir-lhe tudo, em meu nome, que eu o farei, pois isso contribuirá para a glória do Pai, por causa daquilo que eu, o Filho, farei por vocês. 14 Se pedirem qualquer coisa em meu nome, eu o farei.

Jesus promete o Espírito Santo

15 Se me amam, obedeçam-me. 16 E eu pedirei ao Pai que vos envie outro Consolador[a] e este nunca vos abandonará. 17 Ele é o Espírito Santo, o Espírito que conduz a toda a verdade. O mundo não o pode receber, porque não o procura nem o reconhece. Mas vocês, sim, pois ele vive convosco e estará mesmo no vosso íntimo. 18 Não, não vos abandonarei nem vos deixarei órfãos; antes virei até vós. 19 Mais um pouco e terei saído do mundo, mas continuarei convosco. Pois tornarei a viver e vocês também. 20 Quando eu voltar à vida, hão de saber que eu estou no meu Pai, e vocês em mim e eu em vocês. 21 Aquele que tem os meus mandamentos e lhes obedece é aquele que me ama. E, por ele me amar, meu Pai o amará; e também eu o amarei e me revelarei a ele.”

22 Judas (não o Judas Iscariotes) perguntou-lhe: “Senhor, porque é que te revelarás unicamente a nós e não a todo o mundo?”

23 Jesus respondeu: “Só me revelarei àqueles que me amam e me obedecem. Também o Pai os amará e viremos para eles e com eles viveremos. 24 Aquele que não me obedece não me ama. Esta resposta à vossa pergunta não é imaginação minha! É a resposta dada pelo Pai que me enviou. 25 Digo-vos estas coisas enquanto estou ainda convosco. 26 Mas o Pai mandará o conselheiro em meu nome, esse Consolador é o Espírito Santo, e ele vos ensinará todas as coisas e vos lembrará tudo o que eu próprio vos tenho dito.

27 Deixo-vos a minha paz. E a paz que eu dou não é como aquela que o mundo dá. Por isso, não se aflijam nem tenham receio. 28 Lembrem-se do que vos disse: Retiro-me, mas voltarei de novo para vocês. Se realmente me amam, sentir-se-ão felizes, pois agora posso ir para o Pai, que é maior do que eu. 29 Disse-vos estas coisas antes de acontecerem para que, quando se realizarem, possam crer.

30 Não tenho muito mais tempo para falar convosco, pois aproxima-se o chefe deste mundo. Ele não tem poder sobre mim. 31 Mas o mundo deve saber que amo o Pai e que faço exatamente aquilo que o meu Pai me mandou fazer. Levantem-se! Vamos!”

A videira e os ramos

15 “Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o lavrador. Ele corta todos os ramos que não produzem fruto. E, aos que produzem, poda-os para que frutifiquem ainda mais. Ele já cuidou de vocês, podando-vos para que tenham mais vigor e utilidade, graças aos ensinamentos que vos dei. Tenham o cuidado de viver em mim e deixem-me viver em vocês. Porque um ramo não pode dar fruto quando separado da videira. Por isso, não poderão dar fruto afastados de mim.

Sim, eu sou a videira e vocês são os ramos. Aquele que viver em mim e eu nele produzirá muito fruto. Pois sem mim nada podem fazer. Se alguém se separar de mim, será lançado fora por ser um ramo inútil; seca e é posto com todos os outros que serão depois queimados. Mas se continuarem em mim e obedecerem aos meus mandamentos, poderão pedir o que quiserem, que vos será concedido. Os meus verdadeiros discípulos produzem muito fruto, o que traz grande glória ao meu Pai.

Amei-vos como o Pai me amou. Vivam no meu amor. 10 Se guardarem os meus mandamentos estarão a viver no meu amor, assim como eu obedeço ao meu Pai e vivo no seu amor. 11 Disse-vos isto para que possam encher-se da minha alegria. Sim, a vossa taça de alegria transbordará! 12 Mando-vos que se amem uns aos outros como eu vos amei. 13 E é esta a medida: o maior amor é mostrado quando alguém dá a vida pelos seus amigos. 14 E vocês serão meus amigos se fizerem o que vos mando. 15 Já não vos chamo criados, pois estes não acompanham o que faz o patrão. Vocês são meus amigos, e a prova disso é o facto de vos ter revelado tudo o que o Pai me disse. 16 Não foram vocês que me escolheram, mas fui que vos escolhi e vos nomeei para irem e produzirem fruto, e fruto que perdure, para que o Pai vos dê tudo o que lhe pedirem em meu nome. 17 É pois isto o que vos mando: que se amem uns aos outros!

O mundo odeia os discípulos

18 Se o mundo vos aborrece, primeiro me aborreceu a mim. 19 O mundo amar-vos-ia se lhe pertencessem; mas vocês não lhe pertencem. Eu vos escolhi para sairem do mundo, e por isso o mundo vos odeia. 20 Lembrem-se do que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor! Assim, visto que me perseguiram, também vos perseguirão. Se me tivessem escutado, também vos escutariam. 21 A gente do mundo perseguir-vos-á por me pertencerem, pois não conhecem a Deus que me enviou. 22 Se eu não tivesse vindo e não lhes tivesse falado, não seriam culpados. Mas agora o seu pecado não tem desculpa. 23 Qualquer que me repudia, repudia também o meu Pai. 24 Se eu não tivesse feito entre eles as coisas que mais ninguém fez, não seriam considerados culpados. Mas eles viram esses milagres, e mesmo assim aborreceram-nos, a mim e ao meu Pai. 25 Assim se cumpriu o que está escrito na sua Lei: ‘Odeiam-me sem motivo.’[b]

26 Contudo, mandar-vos-ei o Consolador, o Espírito da verdade. Ele virá desde o Pai e vos dirá tudo a meu respeito. 27 E também vocês devem testemunhar de mim, porque têm estado comigo desde o princípio.”

16 “Disse-vos estas coisas para que não se desviem. Porque serão expulsos das sinagogas. Aproxima-se o momento em que aqueles que vos matarem julgarão ter feito um serviço a Deus. Porque nunca conheceram nem o Pai nem a mim. Sim, digo-vos estas coisas agora para que, quando chegar o momento, se lembrem de que vos avisei. Não vos disse mais cedo, porque ia ainda estar convosco mais algum tempo.

A obra do Espírito Santo

Agora, volto para aquele que me enviou, mas nenhum de vocês me pergunta para onde vou. Em vez disso, sentem apenas tristeza. Na verdade, é melhor que eu vá, porque se eu não for não virá o Consolador. Se eu for, ele virá, pois vou enviá-lo. E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, de que têm de contar com a justiça de Deus e de que haverá um juízo. O pecado do mundo é não crer em mim. 10 Haverá justiça porque eu vou para o Pai e vocês não me verão mais. 11 O juízo virá porque o chefe deste mundo já foi julgado.

12 Ficam ainda tantas outras coisas que vos queria dizer, mas agora não as podem suportar!

13 Mas quando o Espírito da verdade vier, ele vos guiará em toda a verdade. Ele não apresentará as suas próprias ideias, mas irá transmitir aquilo que ouviu. Ele vos revelará o futuro. 14 Glorificar-me-á, pois recebê-la-á de mim e vo-la mostrará. 15 Tudo quanto o Pai tem é meu e é isto que vos quero dizer ao afirmar que a receberá de mim e vo-la mostrará.

16 Mais um pouco de tempo e terei partido, e não me tornarão a ver! Mais um pouco de tempo ainda e ver-me-ão de novo!”

A tristeza dará lugar à alegria

17 “Mas o que está ele a dizer?”, interrogavam-se os discípulos. “Que é isto quando ele diz: ‘Não me verão, mas mais tarde hão de ver-me’? Que quer dizer: ‘Eu vou para o Pai’? 18 E o que significa: ‘Um pouco mais tarde’? Não entendemos!”

19 Jesus percebeu que pretendiam que se explicasse melhor e disse: “Interrogam-se sobre o que quero dizer? 20 É realmente como vos digo: num breve tempo partirei e não me verão mais. Então um pouco mais tarde, vocês me verão de novo. O mundo ficará feliz com o que me vai acontecer e vocês chorarão. Mas o vosso choro se transformará de súbito em alegria. 21 É a mesma alegria que tem uma mulher quando nasce o seu filho, pois ao medo segue-se o encanto, e a dor fica esquecida. 22 Agora estão desgostosos, mas eu tornarei a ver-vos, e então alegrar-se-ão; e essa alegria ninguém a poderá roubar. 23 E naquele dia não precisarão de me pedir nada. É realmente como vos digo, para que o Pai vos dê tudo o que lhe pedirem em meu nome. 24 Ainda não experimentaram fazê-lo; mas peçam, invocando o meu nome, e receberão, e terão alegria abundante.

25 Falei-vos destas coisas por meio de parábolas, mas virá o momento em que isso não será necessário e de forma bem clara vos revelarei o Pai. 26 Então poderão apresentar os vossos pedidos em meu nome. E não será preciso eu pedir ao Pai por vós; 27 pois o Pai ama-vos muito por me amarem e crerem que venho dele. 28 Sim, vim do Pai a este mundo e deixarei o mundo para voltar para o Pai!”

29 “Até que enfim falas claramente e não por parábolas!”, reconheceram os discípulos. 30 “Agora compreendemos que sabes tudo e sabes até o que precisamos de conhecer, sem te interrogarmos. Por isso, acreditamos que foi de Deus que vieste.”

31 Jesus disse: “Acreditam finalmente? 32 Mas virá o momento, e é agora, em que serão espalhados, cada um seguindo o seu próprio caminho, deixando-me só. No entanto, não estarei sozinho, porque o Pai está comigo! 33 Disse-vos tudo isto para que tenham paz. Aqui na Terra terão muitos sofrimentos. Mas tenham coragem, porque eu venci o mundo!”

Jesus fala com o Pai

17 Depois de ter falado em todas estas coisas, Jesus levantou o olhar para o céu e disse: “Pai, chegou a hora. Revela a glória do teu Filho para que ele te possa dar também glória a ti. Porque lhe deste autoridade sobre cada ser humano em toda a terra. Ele dá a vida eterna a todo aquele que tu lhe confiaste. E a vida eterna significa conhecer-te a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo a quem enviaste ao mundo. Trouxe-te glória aqui na Terra fazendo o que me deste a fazer. E agora, Pai, dá-me a glória que eu tinha junto de ti, antes do mundo existir.

Jesus ora pelos discípulos

Revelei-te a estes homens. Eles estavam no mundo, mas depois deste-mos. Foram sempre teus e tu deste-mos e têm obedecido à tua palavra. Agora sabem que tudo o que tenho provém de ti. Porque lhes transmiti as ordens que me deste; e eles aceitaram-nas e sabem de certeza que eu desci à Terra vindo de ti, e creem que me enviaste.

Peço, não pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque te pertencem. 10 E todos eles, uma vez que são meus, pertencem a ti também; e tu mos tornaste a dar com tudo o mais que é teu, e assim eles são a minha glória. 11 Agora vou deixar o mundo e deixá-los também, para ir para junto de ti. Pai Santo, guarda sob o teu cuidado todos aqueles que me deste, para que permaneçam unidos, como nós estamos unidos. 12 Durante o tempo que aqui estive, tenho conservado seguros em teu nome todos estes que me deste, guardando-os de modo que nenhum se perdeu, exceto aquele que tinha de perder-se, conforme predisseram as Escrituras.

13 E agora vou para junto de ti. Disse-lhes muitas coisas, enquanto estive com eles, para que ficassem cheios da minha alegria. 14 Dei-lhes a tua palavra. E o mundo quer-lhes mal, porque não se adaptam ao mundo, como eu também nele não tenho lugar. 15 Não te peço que os tires do mundo, mas que os conserves a salvo do Maligno. 16 Eles não são parte deste mundo, como também eu o não sou. 17 Torna-os santos, ensinando-lhes as tuas palavras da verdade. 18 Assim como me enviaste ao mundo, também eu os envio ao mundo. 19 E em benefício deles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade.

Jesus ora por todos os crentes

20 Não oro só por estes, mas também por todos os futuros crentes que venham a mim pelo testemunho que estes derem. 21 E a minha oração por todos eles é que estejam unidos, como tu e eu o estamos, Pai. Para que, assim como estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo acredite que tu me enviaste.

22 Dei-lhes a glória que me deste, para que possam ser um, como nós o somos. 23 Eu neles e tu em mim, e tudo perfeito num só, para que o mundo saiba que me enviaste e compreenda que os amas tanto como tu me amas a mim. 24 Pai, quero tê-los comigo, aqueles que me deste, para que possam ver a minha glória. Essa glória que tu me deste, por me amares antes do princípio do mundo.

25 Pai justo, o mundo não te conhece, mas eu conheço-te e estes discípulos sabem que me enviaste. 26 Revelei-lhes o teu nome e continuarei a revelar-lho, para que o amor que tens por mim esteja neles e eu neles esteja também.”

Jesus é preso

(Mt 26.47-56; Mc 14.43-50; Lc 22.47-53)

18 Depois de dizer estas coisas, Jesus atravessou o vale de Cedron com os discípulos e entrou num olival. Um local conhecido de Judas, o traidor, por Jesus ali ter ido muitas vezes com os discípulos. Os principais sacerdotes e fariseus tinham dado a Judas um destacamento de soldados e guardas que o acompanharam. Chegaram ao olival à luz de archotes e lanternas, e de armas na mão.

Jesus sabia bem tudo o que lhe ia acontecer e, avançando ao encontro deles, perguntou: “Quem procuram?”

“Jesus de Nazaré”, responderam.

“Sou eu!”, disse Jesus. Judas estava ali com eles quando Jesus se identificou.

Quando Jesus disse: “Sou eu!”, todos recuaram e caíram por terra. Uma vez mais lhes perguntou: “Quem procuram?”

“Jesus de Nazaré.”

“Já vos disse que sou eu”, disse-lhes Jesus. “Uma vez que é a mim que procuram, deixem estes outros ir embora.” Procedeu assim em cumprimento daquilo que tinha dito, havia pouco tempo, quando orava: “Não perdi um único daqueles que me deste.”[c]

10 Então Simão Pedro puxou de uma espada e cortou a orelha direita de Malco, servo do sumo sacerdote. 11 Porém, Jesus disse a Pedro: “Guarda a espada! Não devo eu beber o cálice que o meu Pai me deu?”

Jesus perante Anás

(Mt 26.69, 70; Mc 14.66-68; Lc 22.54-57)

12 Os guardas dos judeus e os soldados, mais o comandante, prenderam Jesus e amarraram-no. 13 E levaram-no primeiro a Anás, sogro de Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano. 14 Fora Caifás quem dissera aos outros anciãos: “É preferível que morra um único homem pelo povo.”

Pedro nega Jesus

15 Simão Pedro seguiu-os, assim como um outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote. Por isso, esse outro discípulo foi autorizado a entrar no pátio juntamente com Jesus, 16 enquanto que Pedro ficou fora do portão. O outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, voltou e falou à criada que guardava o portão, e esta deixou Pedro entrar. 17 A criada perguntou a Pedro: “Não és um dos discípulos de Jesus?”

“Não, não sou!”, respondeu.

18 Os guardas e os criados estavam à volta de uma fogueira que tinham feito, pois o tempo ia frio. Pedro encontrava-se com eles, a aquecer-se.

O sumo sacerdote interroga Jesus

19 Lá dentro, o sumo sacerdote começou a interrogar Jesus acerca dos seus discípulos e do que lhes andara a ensinar. 20 Jesus respondeu: “O que tenho ensinado é bem conhecido, pois preguei com regularidade nas sinagogas e no templo. Todos os judeus me ouviram e nada ensinei em particular que não tivesse já dito em público. 21 Aliás, porque me fazes tal pergunta? Interroga aqueles que me ouviram. Alguns estão aqui e sabem o que eu disse.”

22 Um dos soldados que ali se encontrava deu-lhe uma bofetada: “É assim que respondes ao sumo sacerdote?”

23 “Se menti, prova-o!”, replicou Jesus. “Se não, porque me feres?”

24 Então Anás enviou Jesus amarrado, a Caifás, o sumo sacerdote.

Pedro nega Jesus mais duas vezes

(Mt 26.71-75; Mc 14.69-72; Lc 22.58-62)

25 Entretanto, estando Simão Pedro junto à fogueira, tornaram a perguntar-lhe: “Não és um dos seus discípulos?”

“Não sou, não!”, disse Pedro.

26 Mas um dos criados da casa do sumo sacerdote, parente do homem cuja orelha Pedro tinha cortado, perguntou: “Não foi a ti que eu vi no olival com Jesus?” 27 Uma vez mais, Pedro negou. E imediatamente cantou um galo.

Jesus perante Pilatos

(Mt 27.11-14, 15-31; Mc 15.2-20; Lc 23.2-5, 13-25)

28 O julgamento de Jesus na presença de Caifás só acabou de madrugada. Levaram-no em seguida para o palácio do governador romano. Os seus acusadores não podiam entrar, porque isso os tornaria impuros, segundo diziam, impedindo-os de comer o cordeiro pascal. 29 Assim, Pilatos, que era o governador, saiu ao encontro deles e perguntou: “Que queixa têm contra este homem?”

30 “Se não fosse malfeitor não to teríamos trazido”, retorquiram.

31 “Pois então levem-no e julguem-no vocês mesmos de acordo com a vossa Lei!”, tornou-lhes Pilatos.

“Mas queremos que seja morto e nós não podemos fazê-lo”, replicaram os judeus. 32 Assim se cumpriu a predição de Jesus acerca do modo como haveria de morrer.

33 Pilatos voltou para dentro do palácio e mandou que lhe levassem Jesus. “És o rei dos judeus?”, perguntou-lhe.

34 Jesus replicou: “Perguntas isso de ti mesmo ou são outros que o querem saber?”

35 “Sou porventura judeu?”, replicou Pilatos. “O teu povo e os principais sacerdotes é que te trouxeram aqui. Que fizeste?”

36 Então Jesus respondeu: “Não sou um rei terreno. Se o fosse, os meus discípulos teriam lutado, quando os judeus me prenderam. Mas o meu reino não é deste mundo.”

37 “Então és rei?”, perguntou Pilatos.

Jesus respondeu: “Tens razão em dizer que sou rei. De facto, foi para isso que nasci. E vim para trazer a verdade ao mundo. Todos os que amam a verdade escutam a minha voz.”

38 “O que é a verdade?”, perguntou Pilatos. Tornando a sair ao povo, anunciou: “Ele não é culpado de crime algum. 39 Todavia, é vosso costume pedir-me que solte alguém da prisão todos os anos pela Páscoa.” E perguntou: “Então, não querem que vos solte o rei dos judeus?”

40 Mas eles, em alta gritaria, responderam: “Não! Não soltes este, mas sim Barrabás!” Barrabás era um salteador.

Jesus é condenado

19 Então Pilatos mandou açoitar Jesus. Os soldados fizeram uma coroa de espinhos e colocaram-lha na cabeça, vestindo-lhe um manto cor de púrpura. “Viva, ó rei dos judeus!” E batiam-lhe.

Pilatos apareceu de novo: “Vou tornar a trazê-lo, mas que fique bem entendido que não o acho culpado de coisa nenhuma.” Jesus surgiu com uma coroa de espinhos e uma túnica cor de púrpura. Pilatos disse: “Eis o Homem!”

Ao vê-lo, os principais sacerdotes e os guardas do templo começaram a gritar: “Crucifica-o! Crucifica-o!”

“Levem-no e crucifiquem-no vocês”, disse Pilatos, “que eu não acho que seja culpado de nada.”

Os judeus responderam-lhe: “Pela nossa Lei deve morrer, porque se intitulou Filho de Deus.”

Quando Pilatos ouviu isto, ficou mais assustado do que nunca. Tornando a levar Jesus para dentro do palácio, perguntou-lhe: “De onde és tu?” Mas Jesus não deu resposta. 10 “Não queres dizer nada?”, insistiu Pilatos. “Não compreendes que tenho poder para te soltar ou para te crucificar?”

11 Jesus disse: “Não terias poder nenhum sobre mim se não te tivesse sido dado do alto. Por isso, ainda maior é o pecado de quem me trouxe aqui.”

12 Pilatos tentou ainda soltá-lo, mas os judeus avisaram-no: “Se soltares esse homem, não és amigo de César. Quem se proclama rei é culpado de rebelião contra César!”

13 Perante estas palavras, Pilatos tornou a levar-lhes Jesus e presidiu à sessão do tribunal, na plataforma de lajes, que em hebraico se chama Gabatá. 14 Era agora cerca do meio-dia da véspera da Páscoa. E Pilatos disse aos judeus: “Aqui têm o vosso rei!”

15 “Fora com ele!”, clamavam. “Fora com ele! Crucifica-o!”

“O quê? Crucificar o vosso rei?”, perguntou Pilatos.

“Não temos outro rei senão o César”, gritaram os principais sacerdotes.

16 Então Pilatos entregou-lhes Jesus para ser crucificado.

Jesus é crucificado

(Mt 27.32-44; Mc 15.21-32; Lc 23.26-43)

Pegaram nele e levaram-no para fora da cidade. 17 Carregando a cruz, Jesus foi para o local a que chamavam “Lugar da Caveira” (em hebraico, Gólgota). 18 Ali o crucificaram na companhia de dois outros homens, um de cada lado. 19 E Pilatos pôs por cima dele uma tabuleta que dizia:

jesus de nazaré, rei dos judeus.

20 Muitos judeus puderam ler estes dizeres, porque o sítio onde Jesus foi crucificado ficava perto da cidade. A tabuleta estava escrita em hebraico, latim e grego.

21 Os principais sacerdotes disseram a Pilatos. “Muda a frase de modo que, em vez de ‘rei dos Judeus’, fique o que ele disse de si: ‘Eu sou o rei dos Judeus.’ ”

22 Mas Pilatos respondeu: “O que escrevi, escrevi.”

23 Depois de crucificarem Jesus, os soldados fizeram quatro lotes com a sua roupa, um para cada um deles. 24 Mas disseram: “Não rasguemos a túnica!”, porque não tinha costura. “Lancemos sortes para ver quem fica com ela.” Assim se cumpriu a profecia das Escrituras:

“Repartem a minha roupa entre si
e tiram à sorte a minha túnica.”[d]

Ora, assim fizeram os soldados.

25 Junto à cruz, estavam a mãe de Jesus, a sua tia Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. 26 Quando Jesus viu a sua mãe ali de pé, junto ao discípulo a quem ele amava, disse-lhe: “Ele é teu filho!” 27 E ao discípulo: “Ela é tua mãe!” E a partir daquele momento este discípulo recolheu-a em sua casa.

A morte de Jesus

(Mt 27.45-56; Mc 15.33-41; Lc 23.44-49)

28 Jesus sabia que estava já tudo acabado e, para cumprir as Escrituras, disse: “Tenho sede!” 29 Encontrava-se ali pousado um recipiente com vinho azedo; mergulharam nele uma esponja e, colocando-a num hissopo, aproximaram-lha dos lábios. 30 Depois de o ter provado, Jesus disse: “Está acabado!” E curvando a cabeça, entregou o espírito.

31 Os anciãos não queriam que as vítimas continuassem ali penduradas no dia seguinte, que era sábado, mas um sábado especial, por ser o da Páscoa. Por isso, pediram a Pilatos que lhes mandasse partir as pernas e já poderiam ser apeados. 32 Assim os soldados vieram e partiram as pernas dos dois que tinham sido crucificados com Jesus. 33 Mas quando se aproximaram dele, viram que já estava morto e não lhas quebraram. 34 Mesmo assim, um dos soldados ainda lhe atravessou o lado com uma lança, saindo sangue e água da ferida. 35 Eu próprio assisti a tudo isto e escrevi este relato exato, para que também vocês possam crer. 36 Os soldados fizeram isto em cumprimento da passagem das Escrituras que diz: “Nem um dos seus ossos será quebrado.”[e] 37 E também: “Olharão para aquele a quem trespassaram.”[f]

Jesus é sepultado

(Mt 27.57-61; Mc 15.42-47; Lc 23.50-56)

38 Depois disto, José de Arimateia, que fora discípulo secreto de Jesus, com medo dos judeus, pediu a Pilatos que autorizasse a descida do corpo. Pilatos deixou e ele levou o corpo. 39 Nicodemos, o homem que procurara Jesus de noite, veio também, trazendo uns trinta e cinco quilos de unguento feito de mirra e aloés. 40 Os dois envolveram o corpo de Jesus em lençóis de linho embebidos em perfumes, de acordo com o costume judaico de enterramento. 41 O local da crucificação ficava perto de um jardim onde havia um túmulo novo que nunca fora usado. 42 E assim, devido à necessidade de se apressarem antes que chegasse o sábado, e também por o túmulo ficar perto, colocaram ali o corpo.

O túmulo vazio

(Mt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12)

20 Na madrugada de domingo, fazendo ainda escuro, Maria Madalena foi ao túmulo e viu que a pedra tinha sido afastada da entrada. Correu logo a buscar Simão Pedro e o outro discípulo, por quem Jesus tinha muita afeição, e disse: “Levaram do túmulo o corpo do Senhor e não sei onde o puseram!”

Pedro e o outro discípulo correram ao túmulo para ver. O companheiro, mais veloz do que Pedro, chegou primeiro. Curvando-se, espreitou e viu os lençóis abandonados, mas não entrou. Depois, chegou Simão Pedro e entrou no túmulo, reparando também no lençol ali caído. No entanto, a ligadura que cobrira a cabeça de Jesus encontrava-se dobrada a um canto. Então, também o outro discípulo entrou e creu. Porque até ali não se tinham apercebido de que as Escrituras diziam que ele tornaria a viver. 10 E os discípulos voltaram para casa.

Jesus aparece a Maria Madalena

(Mt 28.9-10; Mc 16.9-11)

11 Maria regressou ao túmulo, ficando do lado de fora a chorar. Enquanto chorava, espreitou para dentro 12 e viu dois anjos vestidos de branco, sentados à cabeceira e aos pés do local onde estivera o corpo de Jesus. 13 “Porque choras?”, perguntaram-lhe os anjos.

“Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram!”

14 Então reparou que alguém estava atrás de si. Era Jesus, mas não o reconheceu.

15 “Porque choras?”, perguntou ele. “Quem procuras?”

Ela pensava que fosse o jardineiro: “Se foste tu que o levaste, mostra-me onde o puseste que eu vou buscá-lo.”

16 “Maria!”, disse Jesus.

Ela voltou-se para ele: “Raboni!”, que quer dizer: “Meu Mestre!”

17 “Não me toques”, disse Jesus, “porque ainda não subi para meu Pai. Mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes que subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.”

18 Maria Madalena procurou os discípulos e disse-lhes: “Vi o Senhor!”, dando-lhes em seguida este recado.

Jesus aparece aos discípulos

(Mt 28.16-20; Mc 16.14-18; Lc 24.36-49)

19 Naquela noite, encontravam-se os discípulos reunidos à porta fechada, com medo dos judeus, quando Jesus surgiu no meio deles, saudando-os: “A paz seja convosco!” 20 Depois de saudar os discípulos, mostrou-lhes as mãos e o lado. E qual não foi a alegria deles ao verem o Senhor! 21 Ele tornou a falar-lhes: “A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio!” 22 E soprando sobre eles, acrescentou: “Recebam o Espírito Santo! 23 Se perdoarem a alguém os seus pecados, perdoados ficam. Se se recusarem a perdoá-los, ficarão por perdoar.”

Jesus aparece a Tomé

24 Um dos discípulos, Tomé (o Gémeo), não se encontrava ali com os outros. 25 Mais tarde, quando os outros discípulos lhe contaram: “Vimos o Senhor!”, ele replicou: “Não acredito, a não ser que veja as feridas dos pregos nas suas mãos, ponha nelas os meus dedos e toque com a minha mão na ferida do seu lado.”

26 Passados oito dias, os discípulos estavam outra vez juntos. Nessa ocasião encontrava-se Tomé também presente. As portas estavam fechadas mas, tal como antes, Jesus apareceu no meio deles e disse: “Paz seja convosco!” 27 Depois disse a Tomé: “Coloca o dedo nas feridas das minhas mãos e a tua mão no meu lado. Não sejas descrente. Acredita!”

28 “Meu Senhor e meu Deus!”, exclamou Tomé.

29 Então Jesus observou: “Crês porque me viste! Felizes os que não me viram e, mesmo assim, creem.”

30 Os discípulos de Jesus viram-no realizar muitos outros sinais além dos registados neste livro. 31 Estes vêm aqui descritos para que creiam que ele é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida em seu nome.

Jesus e a pesca milagrosa

21 Mais tarde, Jesus tornou a aparecer aos discípulos junto ao Tiberíades[g]. Eis como tudo se passou: Estava lá um grupo formado por Simão Pedro, Tomé (o Gémeo), Natanael de Caná na Galileia, os filhos de Zebedeu, e outros dois discípulos.

Simão Pedro disse: “Vou à pesca.”

“Também nós!”, responderam todos. Assim fizeram, mas nada apanharam toda a noite.

Ao romper do dia, avistaram um homem de pé na praia, mas os discípulos não conseguiram ver quem seria. “Amigos, apanharam algum peixe?”, perguntou-lhes.

“Não!”, responderam.

Então ele disse: “Lancem a rede do lado direito do barco e apanharão bastante!” Assim foi e nem sequer conseguiam puxar a rede, devido ao peso do peixe, pela sua abundância.

Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!” Ao ouvir isto, Simão Pedro vestiu a roupa que tinha despido e saltou para dentro da água. Os outros discípulos continuaram no barco e puxaram a rede carregada até à praia, a cerca de cem metros de distância. Quando lá chegaram, viram uma fogueira com peixe em cima; também havia pão.

10 “Tragam-me do peixe que acabaram de apanhar”, disse-lhe Jesus. 11 Simão Pedro foi e puxou a rede para terra. Pela sua contagem, havia cento e cinquenta e três peixes grandes, sem que, contudo, a rede se tivesse rompido.

12 “Agora venham comer!” E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-lhe se era realmente ele, o Senhor, pois no fundo sabíamos bem que sim. 13 Jesus começou então a servir-lhes pão e peixe. 14 Foi esta a terceira vez que Jesus apareceu aos discípulos depois da sua ressurreição.

Pedro é restaurado

15 Terminando a refeição, Jesus disse a Simão Pedro: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?”

“Sim!”, respondeu Pedro. “Sabes que eu te amo!”

Jesus disse-lhe: “Então alimenta os meus cordeiros.”

16 Jesus repetiu a mesma pergunta: “Simão, filho de João, amas-me?”

“Sim, Senhor!”, disse Pedro. “Sabes que eu te amo!”

“Então, pastoreia as minhas ovelhas.”

17 Uma vez mais lhe perguntou: “Simão, filho de João, amas-me?”

Pedro sentiu-se magoado por Jesus o ter questionado pela terceira vez: “Senhor, tu conheces tudo e sabes que eu te amo.”

Jesus insistiu: “Toma conta das minhas ovelhas. 18 Presta bem atenção: Quando eras novo, fazias o que te apetecia e ias para onde querias. Porém, quando fores velho, estenderás as mãos e outros te guiarão e levarão para onde não queres ir.” 19 Jesus disse-lhe isto para que soubesse como iria morrer para glória de Deus. Depois acrescentou: “Segue-me!”

20 Pedro voltou-se e viu que os seguia o discípulo que Jesus amava; aquele que se curvara na ceia para perguntar a Jesus: “Mestre, quem é aquele que te vai trair?”

Footnotes

  1. 14.16 Consolador refere-se ao Espírito Santo.
  2. 15.25 Sl 35.19; 69.4.
  3. 18.9 Jo 6.39.
  4. 19.24 Sl 22.18.
  5. 19.36 Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20.
  6. 19.37 Zc 12.10.
  7. 21.1 Isto é, o mar da Galileia.