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Jesus envia os doze discípulos

(Mc 3.15-19; Lc 6.14-16; At 1.13)

10 Chamando os doze discípulos, deu-lhes autoridade para expulsar os espíritos impuros e curar toda a espécie de doenças e enfermidades.

Estes são os nomes dos doze apóstolos: Simão, também chamado Pedro; André, irmão de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu; João, irmão de Tiago; Filipe; Bartolomeu; Tomé; Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu; Tadeu; Simão, o zelote e Judas Iscariotes que viria a traí-lo.

Jesus envia os doze discípulos

(Mc 6.7-13; Lc 9.2-6; 10.4-12)

Jesus enviou os doze com as seguintes instruções: “Não vão aos gentios nem aos samaritanos, mas só às ovelhas perdidas de Israel. Vão e anunciem-lhes que o reino dos céus está próximo. Curem os doentes, deem vida aos mortos, sarem os leprosos e expulsem os demónios. Deem gratuitamente, tal como gratuitamente receberam!

Não prendam a bolsa à cintura com ouro prata ou cobre, 10 nem saco de viagem com uma muda de roupa e calçado, nem sequer um bordão. Porque digno é o trabalhador do seu sustento. 11 Na cidade ou aldeia em que entrarem, procurem uma pessoa digna e fiquem na sua casa até à vossa partida. 12 Ao entrarem na casa, saúdem os presentes. 13 Se de facto for uma casa digna da vossa saudação, deixem-lhe a vossa paz; se não for digna, que a vossa paz volte para vocês. 14 Se uma qualquer cidade ou casa não vos receber, quando saírem, sacudam até o pó que se pegou aos vossos pés. 15 É realmente como vos digo: as cidades ímpias de Sodoma e Gomorra estarão em melhor situação no dia do juízo do que essa cidade!

Perseguições aos discípulos

(Mc 13.11-13; Lc 10.3; 21.12-19)

16 Agora envio-vos como ovelhas para o meio de lobos. Sejam cautelosos como as serpentes e simples como as pombas. 17 Tenham cuidado com os homens. Levar-vos-ão aos tribunais e açoitar-vos-ão nas suas sinagogas. 18 Conduzir-vos-ão diante de governadores e reis, por minha causa, para darem testemunho a eles e aos gentios. 19 Quando vos entregarem, não se preocupem com o que vão dizer, porque vos serão inspiradas as palavras a dizer naquele momento. 20 Pois não serão vocês quem falará, mas o Espírito do vosso Pai celestial, falará pela vossa boca!

21 Um irmão entregará outro irmão à morte e os pais aos próprios filhos. Os filhos levantar-se-ão contra os pais e os farão morrer. 22 Todos vos odiarão por causa do meu nome, mas quem resistir até ao fim será salvo! 23 Quando forem perseguidos numa cidade, fujam para a seguinte. É realmente como vos digo: voltarei antes de terem passado por todas as cidades de Israel.

24 O discípulo não é mais do que o mestre, nem o servo mais do que o seu senhor. 25 Basta ao discípulo ser como o mestre e ao servo como o seu senhor! E se a mim, que sou dono da casa, me chamam Belzebu[a] quanto mais não o farão a vocês!

A quem devemos temer

(Lc 12.4-9)

26 Não tenham medo de quem vos ameaça, pois nada há escondido que não venha a revelar-se, nem há nada oculto que não venha a ser conhecido. 27 O que agora vos digo nas trevas gritem-no à luz e o que vos for dito ao ouvido proclamem-no pelos telhados!

28 Não temam os que podem matar-vos o corpo, sem poderem matar-vos a alma! Temam antes Deus, que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo. 29 Não se vendem dois pardais por uma moedinha? E nem um só deles cairá no chão sem que o vosso Pai o saiba. 30 Os próprios cabelos da vossa cabeça estão contados. 31 Portanto, não se preocupem! Para ele, vocês valem mais do que muitos pardais juntos.

32 Quem me reconhecer diante dos homens, também eu o reconhecerei diante do meu Pai que está nos céus. 33 Mas quem me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

Jesus, motivo de conflitos

(Lc 12.51-53; 14.26-27; 17.33)

34 Não julguem que vim trazer paz à Terra! Pelo contrário, vim trazer conflitos[b]. 35 De facto, vim para lançar o homem contra o seu pai, a filha contra a mãe, a nora contra a sogra. 36 Os piores inimigos de um homem estarão justamente dentro da sua própria casa[c]! 37 Quem amar mais pai e mãe do que a mim não merece ser meu; quem amar o filho ou filha mais do que a mim não merece ser meu.

38 Quem não levar a sua cruz para me seguir não merece ser meu. 39 Quem encontrar a sua vida perdê-la-á. E quem perder a sua vida por minha causa encontrá-la-á.

Recompensas por serem discípulos

(Mc 9.41; Lc 10.16; Jo 13.20)

40 Quem vos receber é a mim que recebe. E quem me receber, recebe quem me enviou. 41 Quem receber um profeta na qualidade de profeta receberá a recompensa devida a um profeta. Quem receber uma pessoa justa na qualidade de justa receberá a recompensa devida a uma tal pessoa. 42 E quem der, nem que seja um copo de água a um dos mais pequenos dos meus discípulos, é realmente como vos digo, não deixará, de modo algum, de ter a sua recompensa.”

Jesus e João Batista

(Lc 7.18-23)

11 Dadas estas instruções aos doze discípulos, Jesus saiu a ensinar nas suas cidades.

João, que estava na prisão, ao ouvir falar daquilo que Cristo andava a realizar, mandou os seus discípulos perguntar-lhe: “És tu aquele que havia de vir ou devemos aguardar outro?”

Jesus disse-lhes: “Voltem para João e contem-lhe o que estão a ouvir e a ver: ‘cegos veem e coxos andam, leprosos são curados, surdos voltam a ouvir, mortos regressam à vida e os pobres ouvem o evangelho. Feliz é aquele que não se escandaliza em mim.’ ”

Jesus fala de João Batista

(Lc 7.24-35; 16.16)

Depois dos discípulos de João terem partido, Jesus começou a falar à multidão acerca João: “O que foram ver no deserto? Um caniço ao sabor do vento? Mas então o que foram lá ver? Um homem vestido de roupas caras? Reparem: quem se veste de roupa cara é nos palácios reais que se encontra. Terá sido antes um profeta que foram encontrar? Sim, digo eu! E mais do que um profeta. 10 É a João que as Escrituras se referem ao dizerem:

‘Envio o meu mensageiro diante de ti,
para preparar o caminho à tua frente.’[d]

11 É realmente como vos digo: de homens nascidos de um ventre materno, nenhum é maior do que João Batista. E, contudo, até o menor no reino dos céus é maior do que ele! 12 Desde o tempo de João Batista até aos dias de hoje, o reino dos céus está debaixo de força e os fortes apoderam-se dele. 13 Todos os profetas e a própria Lei profetizaram até que João apareceu. 14 E se estão dispostos a compreender, dir-vos-ei que ele é o Elias, aquele cuja vinda foi anunciada. 15 Quem tem ouvidos, ouça!

16 Que posso dizer acerca das pessoas desta geração? Esta gente é como as crianças que se queixam aos seus amigos:

17 ‘Brincámos aos casamentos
e ninguém se quis alegrar;
então brincámos aos funerais,
e também ninguém quis ficar triste.’

18 Veio João, e lá porque não bebe vinho e jejua vocês dizem: ‘Tem demónio!’ 19 Vim eu, o Filho do Homem, e porque aceito ir a uma festa e beber o vinho que me é oferecido, logo se queixam de que sou comilão e beberrão e de que sou amigo de cobradores de impostos e pecadores! Mas a sabedoria foi justificada pelas suas obras.”

Aviso às cidades impenitentes

(Lc 10.13-15)

20 Então, começou a censurar as cidades onde tinha realizado a maior parte dos seus milagres por, apesar disso, não se terem voltado para Deus. 21 “Ai de ti, Corazim, e ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que vos fiz tivessem sido realizados nas cidades de Tiro e Sídon, o seu povo ter-se-ia sentado, há muito, em profundo arrependimento, vestindo pano de saco e deitando cinzas sobre a cabeça em sinal de remorso. 22 Contudo, eu vos digo: Tiro e Sídon estarão em melhor situação do que vocês no dia do juízo! 23 E tu, povo de Cafarnaum, serás tu levantado até ao céu? Serás antes mergulhado no inferno! Porque, se os milagres espantosos que operei em ti tivessem tido lugar em Sodoma, ainda hoje ela aqui estaria. 24 Contudo, eu vos digo: Sodoma estará em melhor situação do que tu no dia do juízo!”

Descanso para os cansados

(Lc 10.21-22)

25 E Jesus orou assim: “Pai, Senhor do céu e da Terra, graças te dou por teres escondido estas coisas aos instruídos e aos sábios e as revelares às criancinhas. 26 Sim, obrigado, Pai, pois foi assim que quiseste!

27 O meu Pai deu-me autoridade sobre todas as coisas; e ninguém conhece verdadeiramente o Filho a não ser o Pai; e ninguém conhece verdadeiramente o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho tiver por bem revelá-lo.

28 Venham a mim todos os que estão cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. 29 Levem o meu jugo e aprendam de mim, porque sou brando e humilde, e acharão descanso para as vossas almas; 30 pois só vos imponho cargas suaves e leves.”

O Senhor do sábado

(Mc 2.23-28; Lc 6.1-5)

12 Sucedeu por aquela altura que Jesus atravessava umas searas com os seus discípulos. Era sábado[e] e, como os discípulos sentiam fome, começaram a arrancar espigas de trigo e a comer o grão. Mas os fariseus, ao vê-los fazer isso, protestaram: “Os teus discípulos estão a fazer o que não é permitido no dia de sábado!”

Jesus disse-lhes: “Nunca leram o que o rei David fez quando ele e os companheiros estavam com fome, como entraram na casa de Deus, ele e os seus companheiros, e comeram os pães da Presença, que apenas aos sacerdotes era permitido comer?[f] E nunca leram na Lei que os sacerdotes de serviço no templo podem trabalhar ao sábado, ficando isentos de culpa? Pois aqui está um que é maior do que o templo!

Se soubessem o que quer dizer esta passagem das Escrituras: ‘Mais do que os vossos sacrifícios, quero a vossa misericórdia’,[g] não teriam condenado quem não tem culpa. Porque eu, o Filho do Homem, sou o Senhor do próprio sábado.”

Jesus cura um homem com mão paralisada

(Mc 3.1-6; Lc 6.6-11)

Depois foi para a sinagoga. 10 E viu ali um homem com uma das mãos aleijadas. Os fariseus perguntaram-lhe: “A Lei permite fazer curas no dia de sábado?” Fizeram-no para terem de que o acusar.

11 A sua resposta foi: “Qual de vocês, se tivesse apenas uma ovelha e ela caísse numa vala num sábado não iria tratar de tirá-la de lá? 12 Quanto mais não vale uma pessoa do que uma ovelha! Evidentemente que é justo fazer o bem num sábado.” 13 E disse ao homem: “Estende o braço!” Ele assim fez e imediatamente a sua mão ficou completamente normal, tal como a outra.

O Servo escolhido por Deus

(Mc 3.7-12; Lc 6.17-19)

14 Os fariseus saíram, a fim de combinarem como haveriam de o matar. 15 Jesus, sabendo o que tramavam, partiu dali, seguido por grandes multidões. Curou todos os doentes 16 e advertiu-os que não revelassem quem ele era. 17 Assim se cumpriu a profecia de Isaías a seu respeito:

18 “Aqui está o meu Servo, a quem escolhi.
Ele é o meu amado, em quem a minha alma tem prazer.
Porei o meu Espírito sobre ele e proclamará a minha justiça às nações.
19 Não discutirá nem gritará; nem se porá a discutir alto nas praças públicas.
20 Não esmagará a cana trilhada, nem apagará o pavio que ainda fumega,
até fazer triunfar a justiça.
21 No seu nome as nações têm a sua esperança.”[h]

Jesus e Satanás

(Mc 3.22-29; Lc 11.14-23; 12.10)

22 Então um cego e mudo, cativo de demónios, foi trazido a Jesus que o curou, de modo que o homem já falava e via. 23 A multidão, cheia de espanto, exclamava: “Não será este o Filho de David, o Cristo?” 24 Mas, quando os fariseus souberam do milagre, puseram-se a dizer: “Expulsa os demónios pelo poder de Belzebu[i], líder dos demónios.”

25 Jesus, conhecendo os seus pensamentos, respondeu: “Todo o reino dividido fica deserto. E toda a cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. 26 Ora, se Satanás expulsa Satanás, está dividido contra si próprio. Então, como subsistirá o seu reino? 27 E se expulso os demónios pelo poder de Belzebu, a que poder recorrem os vossos, quando fazem o mesmo? Por esta razão, eles serão os vossos juízes! 28 Mas, se expulso os demónios pelo Espírito de Deus, então é porque o reino de Deus já está no vosso meio. 29 Como pode alguém entrar na casa do homem forte e levar os seus bens, sem antes amarrá-lo? Só então poderá roubar-lhe a casa.

30 Quem não é por mim é contra mim; quem não ajunta comigo, espalha. 31 Portanto, digo-vos: todo o pecado ou blasfémia pode ser perdoado, exceto a blasfémia contra o Espírito Santo, a qual nunca será perdoada. 32 Até o dizer mal do Filho do Homem pode ser perdoado, mas há um pecado: falar contra o Espírito Santo, que jamais terá perdão, seja neste mundo seja no futuro.

33 Uma árvore de boa qualidade dá fruto de boa qualidade e uma árvore de má qualidade dá fruto de má qualidade. Com efeito, uma árvore conhece-se pela qualidade do fruto que dá. 34 Raça de serpentes! Como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? O que está em abundância no coração vem à superfície no falar. 35 Um homem bom produz coisas boas do seu bom tesouro interior; e um homem mau produz, do tesouro da sua maldade, coisas más. 36 E garanto-vos: no dia do juízo hão de dar conta de cada palavra leviana que tiverem dito. 37 Pelas tuas palavras serás justificado e também por elas serás condenado.”

O sinal de Jonas

(Lc 11.29-32)

38 Então, alguns especialistas na Lei e fariseus foram pedir a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal.”

39 Jesus respondeu-lhes: “Pede esta geração má e adúltera um sinal, mas não receberá nenhum, a não ser o do profeta Jonas! 40 Pois assim como Jonas passou três dias e três noites dentro daquele grande peixe, assim também o Filho do Homem estará nas entranhas da Terra três dias e três noites. 41 Também os homens de Nínive se levantarão para condenar esta geração, porque se arrependeram ao ouvir a pregação de Jonas. E agora está aqui alguém que é superior a Jonas. 42 No dia do juízo, a rainha, de Sabá há de levantar-se e condenar esta geração, porque fez uma viagem longa e difícil para escutar a sabedoria de Salomão. Mas aqui está quem é superior a Salomão.

Regresso do espírito impuro

(Lc 11.24-26)

43 Quando um espírito impuro é expulso de um homem vai para lugares áridos, procurando onde ficar; não encontrando lugar, diz: 44 ‘Vou voltar para a morada que deixei.’ E descobre que a sua antiga morada está desocupada, varrida e arranjada. 45 Então, o demónio vai buscar outros sete espíritos, ainda piores do que ele, e todos entram na tal pessoa para morar nela. E, deste modo, fica pior do que antes. Assim acontecerá a esta geração perversa.”

A mãe e os irmãos de Jesus

(Mc 3.31-35; Lc 8.19-21)

46 Jesus estava a ensinar às multidões quando apareceram a sua mãe e irmãos à entrada da casa onde ele estava, procurando falar com ele. 47 Alguém lhe disse: “A tua mãe e irmãos estão lá fora e querem falar contigo.” 48 Jesus respondeu: “Quem é a minha mãe, e quem são os meus irmãos?” 49 E, apontando para os seus discípulos, acrescentou: “Estes é que são a minha mãe e os meus irmãos! 50 Todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus, é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”

A parábola do semeador

(Mc 4.1-9; Lc 8.4-8)

13 Mais tarde, naquele mesmo dia, Jesus saiu de casa e desceu até ao mar. Logo se juntou uma multidão imensa, pelo que entrou num barco e se sentou nele, enquanto a multidão ficava na praia. E explicou-lhes muitas coisas por meio de parábolas como esta: “Certo homem foi semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em solo pedregoso e com pouca terra; como o solo não tinha profundidade cresceram logo. Mas quando o sol rompeu, murcharam; e como não ganharam raízes, acabaram por secar. Outras caíram entre espinhos que, em pouco tempo, sufocaram os rebentos. Outras, porém, caíram em bom solo e deram uma colheita de cem, sessenta ou trinta vezes mais. Quem tem ouvidos, ouça!” 10 Os discípulos foram ter com ele e perguntaram-lhe: “Porque falas às pessoas por parábolas?”

Razão das parábolas

(Mc 4.10-20; Lc 8.9-15; 10.23-24)

11 Ele respondeu-lhes: “É-vos concedido conhecer os mistérios do reino dos céus, mas não a eles. 12 Quem tiver receberá e terá em abundância; mas, a quem não tem, até o que tiver lhe será tirado. 13 Por isso, lhes falo por parábolas, porque veem, mas ficam sem ver, ouvem e ficam sem ouvir nem entender.

14 Assim se cumpre a profecia de Isaías:

‘Ainda que ouçam com os vossos ouvidos, não entenderão.
Ainda que vejam e vejam, não perceberão.
15 Que o coração deste povo se embruteça,
e se lhes fechem os ouvidos e os olhos.
Não estou empenhado em que os seus olhos vejam,
os seus ouvidos ouçam e os seus corações compreendam,
nem em que se arrependam, para que os cure.’[j]

16 Felizes são os vossos olhos por verem, e os vossos ouvidos por ouvirem! 17 É realmente como vos digo: muitos profetas e muitos justos desejaram ver o que vocês veem e não o viram; ouvir o que vocês ouvem e não o ouviram!

18 Prestem atenção à parábola do homem que andava a semear. 19 A todo aquele que ouve a palavra do reino e não a percebe, vem o Maligno e arranca a semente que tinha sido semeada no seu coração. Esta é a semente que cai à beira do caminho. 20 A semeada em solo pedregoso é o que ouve a palavra e a recebe com alegria. 21 Todavia, não deita raízes, antes dura pouco; aparecem dificuldades ou perseguições por causa da palavra, e logo essa pessoa se escandaliza. 22 A semeada entre os espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações desta vida e a ambição da riqueza abafam a palavra, pelo que fica sem fruto. 23 A semente plantada em bom solo é aquele que ouve a palavra e a entende e produz fruto: cem, sessenta ou trinta vezes mais.”

A parábola do trigo e do joio

24 Jesus contou outra parábola: “O reino dos céus é como um lavrador que semeou boa semente no seu campo. 25 Mas uma noite, enquanto os servos dormiam, veio o seu inimigo que semeou joio entre o trigo. 26 Quando a seara começou a crescer, o joio cresceu também. 27 Os servos daquele lavrador vieram dizer-lhe: ‘Senhor, aquela semente não era de boa qualidade? Como é que o campo está cheio de joio?’

28 ‘Foi obra de algum inimigo’, explicou ele. ‘Queres que arranquemos o joio?’, perguntaram os servos. 29 ‘Não. Se fizerem isso, arrancam também o trigo. 30 Deixem ambos crescer juntos até à colheita e direi aos ceifeiros que tirem primeiro o joio e o queimem, mas guardem o trigo no celeiro.’ ”

A parábola da semente de mostarda e do fermento

(Mc 4.30-32; Lc 13.18-19)

31 Ainda outra parábola: “O reino dos céus é como uma semente de mostarda que um homem planta no seu campo; 32 embora seja a menor de todas as sementes, ao crescer é a maior das plantas e transforma-se num arbusto em cujos ramos as aves do céu vêm fazer os seus ninhos.”

A parábola do fermento

(Mc 4.33-34; Lc 13.20-21)

33 Jesus contou também esta parábola: “O reino dos céus pode ser comparado ao fermento que uma mulher misturou em três medidas de farinha, até toda ela levedar.”

34 Tudo isto Jesus anunciava às multidões por meio de parábolas. Aliás, nunca o fazia sem lhes contar uma parábola. 35 Assim se cumpriu o que tinha sido anunciado pelo profeta:

“Falarei por parábolas;
explicarei mistérios escondidos desde o princípio do mundo.”[k]

Explicação da parábola do joio

36 Então entrou em casa, depois de despedir o povo, e os discípulos pediram-lhe que explicasse a parábola do joio do campo. 37 “É assim: aquele que lança a semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo e a semente representa o povo do reino; o joio é o povo que pertence ao Maligno. 39 O inimigo que semeou o joio entre o trigo é o Diabo; a colheita é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos.

40 Assim como o joio é apartado e queimado, assim também será no fim do mundo. 41 Mandarei os meus anjos que apartarão do reino tudo o que provoca escândalos e todos os que praticam transgressões; 42 e os lançarão na fornalha que os queimará. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então os justos brilharão como o Sol no reino do seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça!

A parábola do tesouro escondido e da pérola

44 O reino dos céus é como um tesouro escondido no campo; um homem descobriu-o e voltou a escondê-lo. Todo entusiasmado, vendeu todos os seus bens para comprar aquele campo!

45 O reino dos céus é ainda como um negociante que procura pérolas de alta qualidade. 46 Ao descobrir um bom negócio, uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui para adquiri-la.

A parábola da rede

47 O reino dos céus também pode comparar-se a um pescador que lança a rede e apanha peixes de toda a espécie. 48 Quando a rede está cheia, arrasta-a para a praia, senta-se e seleciona os peixes que são bons para comer, deitando fora os de má qualidade. 49 Assim será também no fim do mundo; os anjos virão para separar os maus dos justos, 50 lançando os maus no fogo; ali haverá choro e ranger de dentes. 51 E perguntou-lhes: Compreendem agora?” Responderam: “Sim, compreendemos.”

52 Então acrescentou: “Todo o especialista na Lei que for instruído acerca do reino dos céus é semelhante ao chefe de família que tira do seu tesouro coisas que pertencem à nova aliança e também à antiga!”

Um profeta sem honra

(Mc 6.1-6; Lc 4.16-30)

53 Quando Jesus acabou de contar estas parábolas, 54 voltou para a sua terra[l] e ensinava o povo na sinagoga, para espanto deles. E diziam: “Como é isto possível? De onde lhe veio toda esta sabedoria e tais milagres? 55 Não é ele o filho de um carpinteiro? E a sua mãe não se chama Maria? E os seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? 56 E as suas irmãs não moram todas aqui? Como é que arranjou esta capacidade?” 57 E estavam escandalizados com ele. Então, Jesus disse-lhes: “Um profeta é honrado em qualquer lugar menos na sua terra e na sua própria casa.” 58 Por isso, fez ali poucos milagres, por causa da falta de fé deles.

A morte de João Batista

(Mc 6.14-29; Lc 9.7-9)

14 Quando o governador Herodes ouviu falar da fama de Jesus, disse aos seus homens: “Deve ser João Batista que voltou à vida; por isso, faz tais milagres.” Com efeito, Herodes tinha prendido João, acorrentando-o no cárcere, por causa de Herodíade, que era mulher de seu irmão Filipe. Visto que João lhe dizia com insistência: “Não te é lícito tomá-la por mulher.” Por sua vontade, teria matado João, mas receava que houvesse tumultos, pois o povo inteiro tinha João na conta de profeta.

Todavia, numa festa de anos de Herodes, a filha de Herodíade agradou-lhe muito pela forma como dançou. Então jurou dar-lhe o que ela quisesse. A jovem, incitada pela mãe, pediu: “Dá-me a cabeça de João Batista numa bandeja!” O rei ficou triste com o pedido mas, comprometido pelo juramento feito diante dos convidados, ordenou que lhe fosse dado o que ela pedira. 10 Assim João foi degolado no cárcere; 11 a sua cabeça foi trazida numa bandeja e entregue à jovem, que a levou à mãe. 12 Os discípulos de João foram buscar o corpo e sepultaram-no, contando a Jesus o sucedido.

Jesus alimenta 5000 homens

(Mc 6.32-44; Lc 9.10-17; Jo 6.1-13)

13 Depois de ter recebido a notícia, Jesus saiu sozinho num barco para uma região deserta, a fim de ficar a sós. O povo, vendo para onde se tinha dirigido, seguiu-o por terra, vindo de muitas vilas. 14 Quando Jesus saiu do barco, já lá se encontrava uma enorme multidão; teve compaixão deles e curou os que estavam doentes.

15 Ao cair da tarde, os discípulos foram ter com ele e disseram-lhe: “Este lugar é deserto e a hora já vai avançada. Manda o povo retirar-se, para ir às aldeias comprar o que comer.”

16 Jesus, porém, respondeu: “Não é preciso serem eles a ir. Deem-lhes vocês de comer!” 17 E disseram: “Mas como? Temos só cinco pães e dois peixes!” 18 Ao que respondeu: “Tragam-mos aqui!” 19 Então mandou o povo sentar-se sobre a erva e, tomando os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e abençoou-os. Depois, partiu os pães em pedaços e deu-os aos discípulos, para que os levassem à multidão. 20 Todos comeram até ficar satisfeitos. E quando as sobras foram recolhidas enchiam doze cestos. 21 Nesse dia, a multidão era de uns 5000 homens, não falando em mulheres e crianças.

Jesus anda sobre a água

(Mc 6.45-51; Jo 6.16-21)

22 Logo a seguir, Jesus mandou os discípulos voltar para o barco e partir à sua frente para a outra margem do lago, enquanto ele tratava de mandar as multidões embora. 23 Depois subiu à montanha para orar a sós. Caiu a noite e ele ainda ali se encontrava sozinho. 24 No lago, o barco já se tinha afastado muito da terra e passava dificuldades por causa das ondas, pois o vento soprava em sentido contrário.

25 Por volta das quatro horas da madrugada, Jesus foi ter com eles, a caminhar sobre a água. 26 Os discípulos, ao verem-no caminhar sobre a água, ficaram assustados, dizendo ser um fantasma. E gritaram com medo. 27 Imediatamente Jesus lhes disse: “Está tudo bem, sou eu, não tenham medo!”

28 Então Pedro gritou-lhe: “Senhor, se realmente és tu, manda-me ir ter contigo caminhando sobre a água.” 29 Jesus disse-lhe: “Vem!” Pedro saiu do barco e caminhou por cima da água em direção a Jesus. 30 Mas, ao olhar em torno de si sentindo o vento forte, ficou apavorado e começou a afundar-se. “Senhor, salva-me!” 31 Jesus estendeu-lhe logo a mão e socorreu-o: “Homem de pequena fé, porque duvidaste?” 32 Quando subiram para o barco, o vento cessou. 33 Os outros prostraram-se diante de Jesus, dizendo: “És realmente o Filho de Deus!”

Jesus cura doentes em Genezaré

(Mc 6.53-56)

34 Quando chegaram a Genezaré, do outro lado do lago, 35 os habitantes daquela terra reconheceram-no, espalharam a notícia da sua chegada por toda a região e trouxeram-lhe todos os doentes. 36 Estes pediam-lhe que os deixasse tocar nem que fosse na borda da sua roupa. E todos os que lhe tocavam ficavam curados.

Puro e impuro

(Mc 7.1-23)

15 Chegaram então de Jerusalém uns fariseus e especialistas na Lei para falarem com Jesus, perguntando-lhe: “Porque desobedecem os teus discípulos aos costumes dos antigos? Não acatam o nosso ritual de lavagem das mãos antes de comer.” Ao que Jesus respondeu: “E porque será que as vossas próprias tradições vão contra os mandamentos bem claros de Deus? Por exemplo, Deus ordenou: ‘Honra o teu pai e a tua mãe’, acrescentando que ‘todo aquele que falar contra o pai ou a mãe deverá ser morto.’[m] Mas vocês dizem: ‘Quem disser ao pai ou à mãe que aquilo que deveria dar-lhes é para dar a Deus, está dispensado de honrar os seus pais.’ Assim ofendem a Lei divina para defender as vossas tradições criadas por homens. Fingidos! Bem falou Isaías, o profeta, a vosso respeito:

‘Este povo honra-me com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim.
Os seus atos de adoração são vazios,
porque ensinam doutrinas criadas por homens.’ ”[n]

10 Então chamou de novo a multidão e disse-lhe: “Escutem o que vos digo e procurem entender. 11 O que entra pela boca não torna o homem impuro; antes o que sai da sua boca é que o torna impuro.” 12 Os discípulos disseram-lhe: “Escandalizaste os fariseus com aquela observação.” 13 E Jesus respondeu: “Toda a planta não plantada por meu Pai do Céu será arrancada. 14 Portanto, não se preocupem com eles. São cegos condutores de cegos. Quando um cego guia outro cego, acabam ambos por cair numa vala.”

15 Pedro pediu a Jesus: “Explica-nos o que quer dizer esta parábola.”

16 “Então não compreendem?”, perguntou-lhe Jesus. 17 “Não percebem que tudo o que entra pela boca, vai para o estômago e é lançado na latrina? 18 Mas o que sai da boca provém do coração e é isso que torna o homem impuro. 19 Porque do coração vêm os maus pensamentos, homicídios, adultérios, imoralidades sexuais, roubos, falsos testemunhos e calúnias. 20 Estas coisas é que tornam o homem impuro. Mas este não fica impuro só por comer sem lavar as mãos.”

A fé da mulher cananita

(Mc 7.24-30)

21 Jesus deixou então aquela parte do país e foi para a zona de Tiro e Sídon. 22 Uma mulher de Canaã que ali residia veio ter com ele e clamava: “Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho do rei David! Porque a minha filha tem dentro dela um demónio que a trata terrivelmente!”

23 Jesus não lhe deu resposta. Os discípulos aproximaram-se e instaram com ele: “Diz-lhe que se vá embora; ela não deixa de andar a gritar atrás de nós.”

24 Jesus disse então à mulher: “Fui mandado a socorrer somente as ovelhas perdidas de Israel.”

25 Ela aproximou-se dele e adorou-o, suplicando novamente: “Senhor, ajuda-me!”

26 “Não está certo tirar o pão aos filhos e lançá-lo aos cães”, disse-lhe ele.

27 Ela retorquiu: “Isso é verdade, Senhor, mas até os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.”

28 “Mulher, a tua fé é grande; o teu pedido foi satisfeito.” E a filha ficou curada a partir daquele momento.

Jesus cura a todos

(Mc 7.31-37)

29 Jesus deixou aquele lugar e voltou para o mar da Galileia; subindo a uma montanha, sentou-se ali. 30 Uma enorme multidão trouxe-lhe os coxos, cegos, aleijados, mudos e muitos outros, pondo-os aos pés dele, que os curou a todos. 31 A multidão ficou admirada ao ver que os mudos podiam agora falar, que os aleijados recuperavam a saúde, os coxos andavam e os cegos recuperavam a visão! E dava glória ao Deus de Israel.

Jesus alimenta 4000 homens

(Mc 8.1-10)

32 Então Jesus chamou os discípulos para perto de si e disse: “Sinto compaixão desta gente, porque estão comigo há três dias e não têm com que se alimentar. E não quero mandá-los embora com fome para não desfalecerem pelo caminho.”

33 Os discípulos responderam-lhe: “E onde arranjaremos aqui num deserto pão em quantidade suficiente para sustentar tanta gente?”

34 “Quantos pães têm?”, perguntou-lhes. “Sete, e mais uns poucos peixinhos”, responderam.

Footnotes

  1. 10.25 Nome que habitualmente designa Satanás, príncipe dos demónios. Na origem, era uma expressão honorífica para designar Baal, a divindade suprema cananeia (Baal-Zebul), e que significaria Baal ou Senhor Príncipe. Os Hebreus alteraram o nome, por meio de um jogo paronímico, para Beel-Zebub, Senhor das Moscas, como forma de se referirem com sarcasmo aos deuses de outros povos.
  2. 10.34 Conforme o original, espada que, por metonímia, se pode traduzir por conflitos.
  3. 10.36 Ver Mq 7.6, citado neste versículo.
  4. 11.10 Ml 3.1.
  5. 12.1 Sábado. Dia de repouso semanal no calendário judaico.
  6. 12.4 Ver 1 Sm 21.1-6.
  7. 12.7 Os 6.6.
  8. 12.21 Is 42.1-4.
  9. 12.24 Ver nota a 10.25.
  10. 13.15 Is 6.9-10.
  11. 13.35 Sl 78.2.
  12. 13.54 Nazaré da Galileia.
  13. 15.4 Êx 20.12; 21.17; Lv 20.9; Dt 5.16.
  14. 15.9 Is 29.13.