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O nascimento de Samuel

Houve um homem chamado Elcana, da tribo de Efraim, que vivia em Ramataim de Zofim nos montes de Efraim. O nome de seu pai era Jeroão, o do seu avô Eliú, do bisavô Toú e do trisavô Zufe. Tinha duas mulheres, Ana e Penina. Esta última tinha filhos, porém Ana não tinha nenhum.

Todos os anos Elcana ia com a sua família até ao tabernáculo em Silo para adorar o Senhor dos exércitos e sacrificar-lhe. Nesse tempo, os sacerdotes em funções eram os dois filhos de Eli, Hofni e Fineias. No dia em que apresentava o seu sacrifício, Elcana assinalava o facto, dando presentes a Penina e aos seus filhos. Ainda que amasse muito Ana, apenas lhe podia dar um só presente, porque o Senhor lhe tinha fechado a madre. Por essa razão, Ana não recebia presentes que pudesse ela própria passar aos filhos. As coisas complicavam-se ainda mais porque Penina provocava Ana e a humilhava porque o Senhor a tinha deixado estéril. Todos os anos era a mesma coisa. Penina troçava e ria da outra, quando iam a Silo, e Ana chorava muito e deixava de comer.

“O que é que se passa, Ana?”, perguntava Elcana. “Porque não comes? Porquê toda essa agitação? É por não teres filhos? Não sou eu para ti melhor do que dez filhos?”

Uma noite depois de jantar, quando foram a Silo, Ana dirigiu-se ao santuário do Senhor. Eli, o sacerdote, encontrava-se sentado no lugar habitual ao lado da entrada. 10 Ana encontrava-se profundamente angustiada e chorava amargamente enquanto orava ao Senhor. 11 Fez então este voto: “Ó Senhor dos exércitos, se atentares para a minha tristeza e responderes à minha oração, dando-me um filho, então eu to tornarei a dar; será teu por toda a sua vida e o cabelo nunca lhe será cortado.”

12 Eli reparou que ela mexia os lábios, sem se lhe ouvir a voz, visto que orava em silêncio. 13 Pensou que estaria toldada pelo vinho e dirigiu-lhe estas palavras: 14 “Então tu vens para aqui embriagada? Vai curar a bebedeira para outro sítio.”

15 “Oh! Não, meu senhor!”, replicou ela. “Eu não bebi! Encontro-me é muito triste e estava a abrir o meu coração ao Senhor. 16 Peço-te que não penses que a tua serva é uma mulher qualquer! Tenho estado a orar assim por causa da minha dor e angústia.”

17 “Nesse caso, anima-te! Que o Deus de Israel responda à tua oração, conforme o que lhe pediste!”

18 “Fico-te muito grata.” E regressou mais feliz, começando a alimentar-se normalmente.

19 Toda a família se levantou cedo na manhã seguinte e foi ao tabernáculo adorar o Senhor mais uma vez, regressando depois a Ramá. Elcana e Ana deitaram-se juntos e o Senhor lembrou-se do seu pedido. 20 Na altura própria nasceu-lhe um menino, a quem chamou Samuel. “Porque o pedi ao Senhor”, disse ela.

21 No ano seguinte, Elcana, Penina e os filhos foram, como todos os anos, ao tabernáculo, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e cumprir a sua promessa. 22 Mas Ana não foi, pois dissera ao marido: “Prefiro esperar até que o menino seja desmamado; depois então levá-lo-ei ao santuário para ser apresentado diante do Senhor, e ali ficará.”

23 “Está bem. Faz como melhor te parecer”, concordou Elcana. “Faça-se a vontade do Senhor.” Ela ficou em casa e criou o menino até que foi desmamado.

24 Então, ainda muito pequenino, levaram-no à casa do Senhor, em Silo. E levaram consigo um novilho de três anos para o sacrifício, 22 litros de farinha e algum vinho. 25 Depois do sacrifício entregaram a criança a Eli.

26 “Senhor”, disse Ana, “eu sou aquela mulher que aqui esteve certa vez orando ao Senhor. 27 Pedi-lhe que me desse um filho e a minha petição foi ouvida. 28 Venho agora oferecê-lo ao Senhor por toda a sua vida.” Assim, deixou-o no tabernáculo para o serviço do Senhor. E ali eles adoraram ao Senhor.

A oração de Ana

Ana fez a seguinte oração:
“Como me sinto feliz no Senhor!
Nele tenho novas forças!
Agora já posso responder a quem me quer mal,
porque o Senhor deu solução ao meu problema.
Como me sinto feliz!

Ninguém é tão santo como o Senhor.
Não há outro deus,
nem há rocha alguma como o nosso Deus.

Deixem de ser tão orgulhosos e altivos!
O Senhor é Deus de sabedoria,
e julgará as vossas ações.

Os arcos dos heróis foram quebrados.
Os que fraquejam foram revestidos de força.
Os que viviam na fartura agora
dão tudo por uma côdea de pão;
e os que andavam a morrer de fome agora são fartos.
A que era estéril tem agora sete filhos;
e a que ia tendo sempre filhos agora deixou de os ter.

O Senhor é quem tira a vida,
mas é também quem a dá.
Ele faz descer ao mundo dos mortos[a]
e levanta novamente os que para lá foram.
O Senhor tira a riqueza,
mas também sabe dá-la;
        abaixa, mas também exalta.
Tira o pobre do pó da terra,
sim, da mais baixa miséria,
e trata-o como príncipes,
fazendo-o sentar-se em lugares de honra.

Toda a Terra pertence ao Senhor;
foi ele quem deu estruturas a todo este mundo.
Protegerá os seus fiéis;
mas o malvado será silenciado, lançado nas trevas.

O ser humano não tem capacidade de o enfrentar pela força.
10 Os que contendem com o Senhor serão aniquilados;
trovejará desde os céus sobre eles.
O Senhor julga sobre a Terra,
duma extremidade à outra.

Dará força ao seu rei,
exaltará o poder do seu ungido.”

11 Então regressaram todos a Ramá, mas sem Samuel; este menino tornou-se um servidor do Senhor, ajudando o sacerdote Eli.

A maldade dos filhos de Eli

12 No entanto, os filhos de Eli eram pessoas de muito má conduta que não manifestavam qualquer interesse pelo Senhor. 13 Tinham por hábito, sempre que alguém estava a oferecer um sacrifício, e enquanto a carne do animal do sacrifício cozia, mandar um criado, com um grafo de três dentes, 14 pô-lo dentro da caldeira, dizendo que fosse o que fosse que o garfo espetasse seria levado para os filhos de Eli. E faziam isso com todas as pessoas que iam a Silo para adorar. 15 Outras vezes o criado, mesmo antes do rito de queima da gordura sobre o altar, reclamava um determinado pedaço da carne, antes que fosse cozida, para a assar depois.

16 Se aquele que apresentava o sacrifício dissesse: “Leva quanto quiseres, mas deixa primeiro que a gordura seja queimada”, então o criado respondia: “Não. Dá-mo agora, se não tiro-to à força.”

17 Assim, o pecado destes jovens era muito grande aos olhos do Senhor, pois tratavam com desprezo as ofertas que o povo trazia perante Deus.

18 Samuel, apesar de criança, estava já ao serviço do Senhor e vestia uma veste sacerdotal[b] como o dos sacerdotes. 19 Todos os anos a mãe fazia-lhe uma túnica de linho, à medida, que lhe trazia quando vinha com o marido para o sacrifício anual. 20 Antes de regressarem a casa, Eli abençoava Elcana e Ana, pedindo a Deus que lhes desse outros filhos que substituíssem aquele que tinha oferecido ao Senhor. 21 E o Senhor respondeu dando a Ana três rapazes e duas meninas. Samuel continuava a crescer e permanecia ao serviço do Senhor.

22 Eli era já muito idoso, mas mantinha-se ao corrente de tudo o que se ia passando à sua volta. Sabia, por exemplo, que os seus filhos seduziam mulheres que se juntavam em grupos à entrada da tenda do encontro. 23 “Tenho ouvido coisas terríveis sobre o que vocês têm feito 24 e que o povo do Senhor me vem contando”, dizia Eli aos filhos. “Meus filhos, é muito mau o que ouço dizer a vosso respeito. 25 É muito grave levar o povo do Senhor a pecar. O pecado tem sempre o seu castigo, e isso é tanto mais verdade no vosso caso, pois isso que fazem é pecado contra o Senhor!” Mas eles não ligavam ao que o pai lhes dizia; por isso, o Senhor tinha já decidido tirar-lhes a vida.

26 O pequeno Samuel ia crescendo em tamanho e ganhava a simpatia de toda a gente, além de que se tornava objeto do favor do Senhor.

Profecia contra a casa de Eli

27 Um dia, veio ter com Eli um servo de Deus que lhe comunicou a seguinte mensagem da parte do Senhor: “Não revelei eu o meu poder, quando o povo de Israel era escravo no Egito? 28 Não escolhi o teu antepassado Levi, de entre todos os seus irmãos, para ser meu sacerdote e sacrificar junto do altar, queimar incenso e trazer as vestimentas sacerdotais enquanto me servia? E não dei também as ofertas apresentadas em sacrifício aos sacerdotes? 29 Então porque são tão vorazes em relação às outras ofertas que me são trazidas? Porque tens respeitado mais a vontade dos teus filhos do que a minha? Porque é que tanto tu como eles têm engordado com o melhor dos sacrifícios que me são oferecidos pelo meu povo?

30 Por isso, eu, o Senhor Deus de Israel, declaro que apesar de ter prometido que os descendentes da tribo de Levi seriam sempre meus sacerdotes, seria insensato pensar que os vossos atos poderiam continuar. Eu darei honra apenas a quem me honra e afastarei aqueles que me desprezam. 31 Porei um fim à tua família, para que não me sirvam mais como sacerdotes. Cada um dos seus membros morrerá antes do tempo normal. Nenhum chegará a velho. 32 Terás ocasião de constatar a prosperidade que darei ao meu povo, mas tu e a tua família achar-se-ão em necessidade e angústia. Ninguém entre vós alcançará uma idade avançada. 33 Os que prolongarem o seu tempo de vida será para viverem na amargura e no desgosto; os seus filhos morrerão na força da idade.

34 E para te provar que é verdade aquilo que te foi dito, e que há de acontecer, farei com que os teus dois filhos, Hofni e Fineias, morram no mesmo dia! 35 Depois suscitarei um sacerdote fiel para me servir e fazer tudo aquilo que eu disser. Abençoarei os seus descendentes; e todos os da sua linhagem serão sacerdotes diante do meu ungido para sempre. 36 Então os da tua família se inclinarão perante ele, para pedir dinheiro e comida: ‘Rogamos-te’, dirão eles, ‘que nos deixes ter alguma função entre os sacerdotes, para que tenhamos alguma coisa para comer.’ ”

Samuel chamado pelo Senhor

Entretanto, o menino Samuel continuava a servir o Senhor como assistente de Eli. As mensagens diretas, da parte do Senhor, eram muito raras naqueles tempos; mas uma certa noite aconteceu o seguinte:

Eli, que já tinha quase perdido a vista, devido à sua muita idade, foi deitar-se no seu quarto. A lâmpada de Deus ainda não se tinha apagado[c] e Samuel dormia no tabernáculo do Senhor, perto da arca. E o Senhor chamou por ele: “Samuel! Samuel!”

“Sim! Que é?”, respondeu Samuel. Levantou-se e correu a ir ter com Eli: “Aqui estou. Que desejas?”

“Mas eu não te chamei”, disse-lhe Eli. “Vai deitar-te.” Samuel retirou-se e foi deitar-se.

Então o Senhor chamou-o novamente e Samuel tornou a saltar da cama e a ir ter com Eli: “Que é? Necessitas de alguma coisa?”

“Mas eu não te chamei, meu filho”, respondeu-lhe Eli. “Vai outra vez para a cama.”

Samuel nunca tinha recebido uma mensagem da parte de Senhor anteriormente. Então o Senhor chamou por ele terceira vez e, tal como antes, Samuel ergueu-se da cama e apresentou-se junto de Eli: “De que é que precisas?”

Mas desta vez Eli deu-se conta de que era o Senhor que falava com a criança. Por isso, disse a Samuel: “Olha, vai deitar-te de novo e se ouvires chamarem-te mais alguma vez, diz assim: ‘Fala, Senhor, porque o teu servo está a ouvir.’ ” E Samuel voltou para a cama.

10 Então o Senhor veio e ali ficou e chamou-o como das outras vezes: “Samuel! Samuel!”

E Samuel respondeu: “Fala, Senhor, porque o teu servo está a ouvir.”

11 E o Senhor disse a Samuel: “Vou fazer algo de espantoso em Israel. 12 Vou dar cumprimento a todas as tremendas coisas de que avisei Eli. 13 Avisei-o continuamente, a ele e à sua família, de que os castigaria por causa dos filhos andarem a blasfemar de Deus, sem que tivesse feito nada para os impedir. 14 Agora pois, jurei que os pecados de Eli e dos seus filhos não serão mais perdoados com sacrifícios ou ofertas.”

15 Samuel ficou na cama até amanhecer; depois abriu as portas do tabernáculo, como habitualmente, mas estava com receio de contar a visão a Eli. 16-17 No entanto, Eli chamou-o: “Meu filho, o que é que ele te disse? Conta-me tudo. Que Deus te castigue a ti se me esconderes alguma coisa!”

18 Então Samuel comunicou-lhe tudo o que o Senhor lhe dissera. “É a vontade do Senhor”, replicou. “Que ele faça o que melhor lhe parecer.”

19 Enquanto Samuel crescia, o Senhor estava com ele e cumpriu com tudo quanto tinha prometido. 20 Todo o Israel, de Dan até Berseba, ficou a saber que Samuel tinha sido confirmado como profeta do Senhor. 21 O Senhor continuou a transmitir mensagens a Samuel, em Silo, e ele comunicava-as ao povo de Israel.

Footnotes

  1. 2.6 No hebraico, Sheol, é traduzido, ao longo do livro, por mundo dos mortos. Segundo o pensamento hebraico do Antigo Testamento, é o lugar dos mortos, mas não necessariamente como um sepulcro ou sepultura, que é um lugar de morte e definhamento, mas sim um lugar de existência consciente, embora sombria e infeliz.
  2. 2.18 No hebraico, éfode de linho. Peça de vestuário habitualmente usada pelos sacerdotes, aqui provavelmente usada por devoção.
  3. 3.3 Lâmpada do santuário que, segundo Êx 27.21, devia estar acesa desde a tarde até pela manhã.

Elcana e suas mulheres

Houve um homem de Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efrateu. E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o nome da outra, Penina; Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filhos.

Subia, pois, este homem da sua cidade de ano em ano a adorar e a sacrificar ao Senhor dos Exércitos, em Siló; e estavam ali os sacerdotes em Siló; e estavam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Fineias, os dois filhos de Eli. E sucedeu que, no dia em que Elcana sacrificava, dava ele porções do sacrifício a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas. Porém a Ana dava uma parte excelente, porquanto ele amava Ana; porém o Senhor lhe tinha cerrado a madre. E a sua competidora excessivamente a irritava para a embravecer, porquanto o Senhor lhe tinha cerrado a madre. E assim o fazia ele de ano em ano; quando ela subia à Casa do Senhor, assim a outra a irritava; pelo que chorava e não comia. Então, Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que está mal o teu coração? Não te sou eu melhor do que dez filhos?

Ana roga a Deus que lhe dê um filho

Então, Ana se levantou, depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, o sacerdote, estava assentado numa cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor. 10 Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor e chorou abundantemente. 11 E votou um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.

12 E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o Senhor, Eli fez atenção à sua boca, 13 porquanto Ana, no seu coração, falava, e só se moviam os seus lábios, porém não se ouvia a sua voz; pelo que Eli a teve por embriagada. 14 E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. 15 Porém Ana respondeu e disse: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o Senhor. 16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora. 17 Então, respondeu Eli e disse: Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda a tua petição que lhe pediste. 18 E disse ela: Ache a tua serva graça em teus olhos. Assim, a mulher se foi seu caminho e comeu, e o seu semblante já não era triste.

19 E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o Senhor, e voltaram, e vieram à sua casa, a Ramá. Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.

Nasce Samuel e é consagrado a Deus

20 E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.

21 E subiu aquele homem Elcana, com toda a sua casa, a sacrificar ao Senhor o sacrifício anual e a cumprir o seu voto. 22 Porém Ana não subiu, mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então, o levarei, para que apareça perante o Senhor e lá fique para sempre. 23 E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer a teus olhos; fica até que o desmames; tão somente confirme o Senhor a sua palavra. Assim, ficou a mulher e deu leite a seu filho, até que o desmamou. 24 E, havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o trouxe à Casa do Senhor, a Siló. E era o menino ainda muito criança. 25 E degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli. 26 E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao Senhor. 27 Por este menino orava eu; e o Senhor me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido. 28 Pelo que também ao Senhor eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao Senhor foi pedido. E ele adorou ali ao Senhor.

O cântico de Ana

Então, orou Ana e disse: O meu coração exulta no Senhor, o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação. Não santo como é o Senhor; porque não outro fora de ti; e rocha nenhuma como o nosso Deus. Não multipliqueis palavras de altíssimas altivezas, nem saiam coisas árduas da vossa boca; porque o Senhor é o Deus da sabedoria, e por ele são as obras pesadas na balança. O arco dos fortes foi quebrado, e os que tropeçavam foram cingidos de força. Os que antes eram fartos se alugaram por pão, mas agora cessaram os que eram famintos; até a estéril teve sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu. O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece; abaixa e também exalta. Levanta o pobre do pó e, desde o esterco, exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os príncipes, para o fazer herdar o trono de glória; porque do Senhor são os alicerces da terra, e assentou sobre eles o mundo. Os pés dos seus santos guardará, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas; porque o homem não prevalecerá pela força. 10 Os que contendem com o Senhor serão quebrantados; desde os céus, trovejará sobre eles; o Senhor julgará as extremidades da terra, e dará força ao seu rei, e exaltará o poder do seu ungido. 11 Então, Elcana foi-se a Ramá, à sua casa; porém o menino ficou servindo ao Senhor, perante o sacerdote Eli.

Os crimes dos filhos de Eli

12 Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não conheciam o Senhor; 13 porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo era que, oferecendo alguém algum sacrifício, vinha o moço do sacerdote, estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes em sua mão; 14 e dava com ele, na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o garfo tirava o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia ali a Siló. 15 Também, antes de queimarem a gordura, vinha o moço do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote, porque não tomará de ti carne cozida, senão crua. 16 E, dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então, ele lhe dizia: Não, agora a hás de dar; e, se não, por força a tomarei. 17 Era, pois, muito grande o pecado desses jovens perante o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor.

O ministério de Samuel

18 Porém Samuel ministrava perante o Senhor, sendo ainda jovem, vestido com um éfode de linho. 19 E sua mãe lhe fazia uma túnica pequena e, de ano em ano, lha trazia quando com seu marido subia a sacrificar o sacrifício anual. 20 E Eli abençoava a Elcana e à sua mulher e dizia: O Senhor te dê semente desta mulher, pela petição que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar. 21 Visitou, pois, o Senhor a Ana, e concebeu e teve três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor.

22 Era, porém, Eli muito velho e ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel e de como se deitavam com as mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação. 23 E disse-lhes: Por que fazeis tais coisas? Porque ouço de todo este povo os vossos malefícios. 24 Não, filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço; fazeis transgredir o povo do Senhor. 25 Pecando homem contra homem, os juízes o julgarão; pecando, porém, o homem contra o Senhor, quem rogará por ele? Mas não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria matar. 26 E o jovem Samuel ia crescendo e fazia-se agradável, assim para com o Senhor como também para com os homens.

Profecia contra a casa de Eli

27 E veio um homem de Deus a Eli e disse-lhe: Assim diz o Senhor: Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando os israelitas ainda no Egito, na casa de Faraó? 28 E eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para sacerdote, para oferecer sobre o meu altar, para acender o incenso e para trazer o éfode perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. 29 Por que dais coices contra o sacrifício e contra a minha oferta de manjares, que ordenei na minha morada, e honras a teus filhos mais do que a mim, para vos engordardes do principal de todas as ofertas do meu povo de Israel? 30 Portanto, diz o Senhor, Deus de Israel: Na verdade, tinha dito eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão envilecidos. 31 Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho algum em tua casa. 32 E verás o aperto da morada de Deus, em lugar de todo o bem que houvera de fazer a Israel; nem haverá por todos os dias velho algum em tua casa. 33 O homem, porém, que eu te não desarraigar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e toda a multidão da tua casa morrerá quando chegar à idade varonil. 34 E isto te será por sinal, a saber, o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Fineias: que ambos morrerão no mesmo dia. 35 E eu suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o meu coração e a minha alma, e eu lhe edificarei uma casa firme, e andará sempre diante do meu ungido. 36 E será que todo aquele que ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele, por uma moeda de prata e por um bocado de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum ministério sacerdotal, para que possa comer um pedaço de pão.

Deus fala com Samuel em sonhos

E o jovem Samuel servia ao Senhor perante Eli. E a palavra do Senhor era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta. E sucedeu, naquele dia, que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos se começavam a escurecer, que não podia ver) e estando também Samuel deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, em que estava a arca de Deus, o Senhor chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui. E correu a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, torna a deitar-te. E foi e se deitou. E o Senhor tornou a chamar outra vez a Samuel. Samuel se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, filho meu, torna a deitar-te. Porém Samuel ainda não conhecia o Senhor, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor. O Senhor, pois, tornou a chamar a Samuel, terceira vez, e ele se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então, entendeu Eli que o Senhor chamava o jovem. Pelo que Eli disse a Samuel: Vai-te deitar, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor, porque o teu servo ouve. Então, Samuel foi e se deitou no seu lugar.

10 Então, veio o Senhor, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve. 11 E disse o Senhor a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel, a qual todo o que ouvir lhe tinirão ambas as orelhas. 12 Naquele mesmo dia, suscitarei contra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa; começá-lo-ei e acabá-lo-ei. 13 Porque eu lhe fiz saber que julgarei a sua casa para sempre, pela iniquidade que ele bem conhecia, porque, fazendo-se os seus filhos execráveis, não os repreendeu. 14 Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais será expiada a iniquidade da casa de Eli com sacrifício nem com oferta de manjares.

Samuel conta a visão a Eli

15 E Samuel ficou deitado até pela manhã e, então, abriu as portas da Casa do Senhor; porém temia Samuel relatar esta visão a Eli. 16 Então, chamou Eli a Samuel e disse: Samuel, meu filho. E disse ele: Eis-me aqui. 17 E ele disse: Que palavra é a que te falou? Peço-te que ma não encubras; assim Deus te faça e outro tanto se me encobrires alguma palavra de todas as palavras que te falou. 18 Então, Samuel lhe contou todas aquelas palavras e nada lhe encobriu. E disse ele: É o Senhor; faça o que bem parecer aos seus olhos.

19 E crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. 20 E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do Senhor. 21 E continuou o Senhor a aparecer em Siló, porquanto o Senhor se manifestava a Samuel, em Siló, pela palavra do Senhor.