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O sonho dos quatro animais

Uma noite, durante o primeiro ano do reinado de Belsazar, rei da Babilónia, Daniel teve um sonho e relatou-o por escrito. Foi assim: No meu sonho estava a assistir a uma tremenda tempestade num grande oceano, com fortes ventos soprando em todas as direções. Então quatro enormes animais saíram do mar, todos eles diferentes.

O primeiro era semelhante a um leão, mas tinha asas de águia; no entanto, estas encontravam-se arrancadas e, por isso, não podia mais voar; estava de pé, sobre duas patas, como um ser humano; foi-lhe mesmo dada uma mente humana.

O segundo parecia-se com um urso, levantado sobre as suas patas traseiras. Vi-lhe três costelas entre os dentes e ouvi uma voz que lhe dizia: “Levanta-te! Devora muita gente!”

O terceiro destes animais parecia-se com um leopardo, mas no seu dorso tinha asas como os pássaros, e quatro cabeças! Foi-lhe dado grande poder sobre o género humano.

Enquanto continuava a olhar, no meu sonho, um quarto animal levantou-se das águas, terrível e espantoso. Devorava as vítimas, desfazendo-as primeiro em pedaços, com grandes dentes de ferro e pisando-as sob as patas. Era de longe muito mais brutal e feroz que os anteriores e tinha dez chifres.

Atentando para esses chifres, reparei que nascia entre eles um outro mais pequeno e que, na sequência disso, três dos outros foram arrancados com a raiz e tudo, para lhe deixar espaço; essa ponta mais pequena tinha olhos humanos; tinha também uma boca, com a qual falava com grande arrogância.

A certa altura, foram colocados uns tronos e um ancião de idade avançada sentou-se para julgar. A roupa que trazia vestida era da maior alvura e o seu cabelo era branquíssimo. Estava sentado num trono feito de chamas, o qual se deslocava sobre rodas de fogo; 10 um rio de fogo jorrava dele; tinha milhões de anjos ao seu serviço; centenas de milhões de pessoas esperavam as suas ordens e serviam-no; então o tribunal começou a sua sessão e foram abertos os livros.

11 Continuando eu a olhar, o quarto animal brutal foi morto e o seu corpo ligado para ser queimado, por causa da sua altivez para com o Deus poderoso e por causa da soberba do seu chifre mais pequeno. 12 Quanto aos outros três animais, foi-lhes retirado o seu domínio; no entanto, a sua vida foi prolongada ainda durante algum tempo.

13 Seguidamente, assisti ao aparecimento de um Filho de Homem, segundo me pareceu, trazido até ali sobre nuvens desde o céu; aproximou-se do ancião e foi-lhe apresentado. 14 Deram-lhe poder para governar e para que fosse honrado em todas as nações do mundo, pelo que todos os povos da Terra lhe devem obedecer. O seu poder é eterno, nunca mais terá fim; o seu governo nunca será destruído.

15 Eu estava confuso e perturbado com tudo o que tinha visto. 16 Por isso, aproximei-me de um dos que estavam junto ao trono, para lhe perguntar o sentido de todas estas coisas. E explicou-me:

A interpretação do sonho

17 “Estes quatro animais representam quatro reinos[a] que um dia hão de governar a Terra. 18 Mas por fim o povo do Deus altíssimo terá autoridade sobre os governos do mundo para sempre!”

19 Depois perguntei acerca do quarto animal, que não era semelhante aos outros, aquele animal terrível e espantoso, com os seus dentes de ferro e garras de bronze, o animal que despedaçava e devorava as suas vítimas com facilidade, e depois pisava os restos que deixava para trás. 20 Pretendi igualmente saber quanto aos dez chifres e sobre o que era mais pequeno, que apareceu depois e provocou o desaparecimento de três outros, o qual tinha olhos e boca, com a qual dizia coisas arrogantes, e que era mais forte que os outros. 21 Pois eu tinha visto este chifre a fazer guerra contra o povo de Deus e vencê-lo, 22 até à altura em que o ancião de idade avançada veio, abriu o tribunal e reabilitou o seu povo, dando-lhe poderes de governo sobre o mundo.

23 “Este quarto animal”, disse-me, “representa o quarto poder mundial que governará a Terra. Será mais brutal que qualquer dos outros; devorará todo o mundo, destruindo tudo diante de si. 24 Os seus dez chifres são dez reis que aparecerão saídos do seu império; depois outro rei aparecerá, ainda mais violento que os dez outros, e humilhará três deles. 25 Desafiará o Deus altíssimo e consumirá os santos com perseguições, tentando alterar todas as leis, a moral e os costumes. O povo de Deus estará nas suas mãos por três anos e meio.

26 Mas abrir-se-á o tribunal de justiça e retirará todo o poder a este rei corrompido, destruindo-o totalmente. 27 Nessa altura, todas as nações debaixo dos céus e todo o poder será entregue ao povo santo do Deus altíssimo. E o reino de Deus será um reino sem fim e todos os governantes e domínios o adorarão, obedecerão e servirão eternamente.”

28 Assim acabou a visão. Fiquei grandemente perturbado e com o rosto pálido de espanto, mas não disse a ninguém o que via.

A visão de Daniel do carneiro e do bode

No terceiro ano do reinado de Belsazar, tive outra visão. Desta vez eu estava em Susã, a capital da província de Elão, e encontrava-me junto ao rio Ulai. Olhando eu em volta, vi um carneiro ali perto do rio que tinha dois chifres muito altos; um destes chifres era mais comprido que o outro; entretanto, o mais longo foi o último a nascer, dos dois. O carneiro marrava em tudo o que encontrava no caminho e ninguém era capaz de o impedir ou de lhe subtrair as vítimas. Fazia o que entendia e engrandeceu-se muito.

Estando eu a considerar estas coisas, apareceu de repente um bode vindo do ocidente; aproximava-se de uma forma tal que nem tocava no chão. Este bode, que tinha um chifre no meio dos olhos, correu furiosamente para o carneiro que tinha as duas pontas. Caindo sobre o carneiro partiu-lhe ambas as hastes. Este último ficou sem nenhuma força e o bode abateu-o e pisou-o. Não havia mais salvação para ele. O animal vencedor tornou-se orgulhoso e ficou muito engrandecido. Contudo, quando estava no auge do seu poder, foi-lhe quebrado o único chifre que tinha e no seu lugar apareceram-lhe outros quatro chifres, também de tamanho considerável, apontando em todas as direções.

Um destes, crescendo devagar ao princípio, depressa se tornou muito forte e começou a atacar para o sul e para o oriente, fazendo guerra contra a terra gloriosa de Israel. 10 Tornou-se tão poderoso que chegou a atacar os exércitos celestiais. 11 Chegou mesmo a desafiar o seu comandante, lançando por terra algumas das suas estrelas, pisando-as e fazendo cancelar os sacrifícios diários contínuos que se faziam em sua adoração, e profanando o seu santuário. 12 Mas o exército dos santos e o sacrifício diário foi destruído por causa das transgressões; a verdade foi lançada por terra; fez o que lhe agradou e prosperou.

13 Em seguida, ouvi dois dos santos anjos que dialogavam entre si: “Quando será novamente restabelecido o sacrifício contínuo? Quando será castigada a destruição do templo e o povo de Deus tornado de novo triunfante?”

14 “Duas mil e trezentas tardes e manhãs deverão decorrer primeiro!”, respondeu-lhe o outro. “Depois o santuário será purificado!”

Gabriel interpreta a visão

15 Estava eu a tentar compreender o sentido desta visão, quando apareceu uma figura humana diante de mim. 16 E ouvi a voz dum homem chamando do outro lado do rio: “Gabriel, diz a Daniel o significado deste sonho!”

17 Então Gabriel veio para onde eu me encontrava. Mas quando se aproximou de mim fiquei muito perturbado e caí com o rosto em terra. “Homem mortal”, disse-me ele, “tens de perceber que estes acontecimentos que viste figurados nessa visão não terão lugar antes que venha o fim dos tempos.”

18 Depois perdi os sentidos, estando com o rosto em terra, mas ele tocou-me, ergueu-me e ajudou-me a manter-me em pé. 19 “Estou aqui para te dizer o que irá acontecer aquando da vinda dos tempos de ira, porque o que viste pertence ao fim dos tempos. 20 Os dois chifres do carneiro que observaste são os reis da Média e da Pérsia. 21 O bode peludo é a nação grega e o seu longo chifre representa o primeiro rei dessa nação. 22 Quando viste que foi quebrado e substituído por quatro outros mais pequenos, isso significa que o império grego se repartirá em quatro partes, cada uma com seu rei, nenhum deles tão grande como o primeiro.

23 Já no final desses reinados, quando a sua maldade atingir o seu máximo, um outro rei feroz se levantará com grande sagacidade e inteligência. 24 O seu poder será grande e não virá de si próprio. Prosperará para onde quer que se voltar; destruirá todos os que se lhe opuserem, ainda que o façam com poderoso exército; desvastará o santo povo de Deus. 25 Será mestre na arte do engano; muitos serão derrotados, ao serem apanhados desprevenidos, confiados numa falsa segurança. Sem pré-aviso destruí-los-á. Considerar-se-á tanto a si próprio que até será capaz de pretender travar batalha contra o Príncipe dos príncipes. Contudo, ao tentar fazê-lo, selará a sua própria condenação, pois será aniquilado pela mão de Deus, pois nenhum ser humano poderia vencê-lo.

26 Na tua visão ouviste falar nas tardes e manhãs que passarão, antes que os direitos do culto sejam restabelecidos. A visão foi-te explicada e será cumprida. Contudo, guarda-a por agora em segredo, porque ainda falta muito tempo até que se torne realidade.”

27 Eu fiquei exausto e doente por vários dias; mas restabeleci-me e continuei a dar execução aos meus deveres para com o rei. No entanto, fiquei muito impressionado com esse sonho que não entendi bem.

A oração de Daniel

Era agora o primeiro ano do reinado de Dario, filho de Assuero. Dario era medo e foi constituído rei dos caldeus. No primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros sagrados, de acordo com a palavra do Senhor, concedida a Jeremias, que Jerusalém deveria ficar desolada por 70 anos. Por isso, voltei o meu rosto para o Senhor Deus; busquei-o mediante orações e súplicas, jejuei e vesti-me com sacos, pondo cinza sobre mim. Também confessei os meus pecados assim como os do meu povo.

“Ó Senhor, meu Deus!” orava eu. “Tu és um grande e temível Deus! Sempre guardas a aliança e a tua misericórdia para com aqueles que amas e guardam as tuas leis. Mas nós pecámos muitíssimo; rebelámo-nos contra ti e tivemos em pouca conta os teus mandamentos. Recusámos prestar atenção aos teus servos, os profetas, que mandaste repetidas vezes através dos anos, com as tuas mensagens para os nossos reis e governantes, assim como para todo o povo.

Ó Senhor, tu és justo! Quanto a nós, estamos sempre envergonhados com os nossos pecados, como hoje se vê. Sim, todos nós, a gente de Judá, o povo de Jerusalém, assim como todo o Israel, que espalhaste por toda a parte, perto e longe, por causa da nossa infidelidade para contigo. Ó Senhor, nós, os nossos reis, governantes e pais estamos profundamente abatidos por causa de todos os nossos pecados. Mas o Senhor, nosso Deus, é misericordioso e perdoa até mesmo aqueles que se rebelaram contra ele. 10 Senhor, nosso Deus, nós desobedecemos-te, escarnecemos de todas as leis que nos deste através dos teus servos, os profetas. 11 Todo o Israel transgrediu a tua Lei. Afastámo-nos de ti e recusámos continuar a ouvir-te.

Foi assim que a tremenda maldição de Deus se descarregou sobre nós, a maldição escrita na Lei de Moisés, teu servo. 12 Fizeste exatamente como avisaste que farias, pois nunca houve tal desastre como aquele que nos aconteceu em Jerusalém, a nós e aos nossos chefes. 13 Cada uma das maldições contra nós, escritas na Lei de Moisés, se realizaram; todos os males preditos, todos eles aconteceram. Mesmo assim, não procurámos o favor do Senhor, nosso Deus, desviando-nos dos nossos pecados e praticando a justiça. 14 E foi por isso que o Senhor deliberadamente nos esmagou com calamidades que tinha preparado. Pois o Senhor, nosso Deus, é justo em tudo o que executa; nós é que não queremos obedecer.

15 Ó Senhor, nosso Deus, foi com grande poder e honra para ti que tiraste o teu povo do Egito! 16 Senhor, faz agora algo de semelhante! Ainda que tenhamos pecado profundamente e que seja tão grande a nossa maldade, por causa de todas as tuas misericórdias, Senhor, retira, te pedimos, a tua ira de Jerusalém, a tua cidade, o teu santo monte! Porque os pagãos troçam de ti, por deixares a tua cidade em ruínas, devido aos nossos pecados.

17 Ó nosso Deus, escuta a oração do teu servo! Ouve enquanto te rogo que o teu rosto se ilumine de novo com a paz e a alegria sobre o teu desolado santuário, que é a tua própria glória, Senhor! 18 Meu Deus, inclina os teus ouvidos e ouve os meus rogos! Abre os teus olhos e vê a nossa miséria e como a tua cidade está em ruínas! Sim, porque toda a gente sabe que se trata da tua cidade. Não te pedimos isso porque pensamos que o merecemos, mas porque confiamos na tua bondade, a despeito da gravidade dos nossos pecados. 19 Ó Senhor, ouve-nos! Ó Senhor, perdoa-nos! Ó Senhor, escuta e atua! Não te demores em defesa da tua própria causa, ó meu Deus, pois o teu povo e a tua cidade trazem o teu próprio nome!”

Os quatrocentos e noventa anos

20 Estive assim a orar e a confessar o meu pecado e o do meu povo, implorando fervorosamente ao Senhor, meu Deus, a favor de Jerusalém, o seu santo monte. 21 Gabriel, que eu vira na minha primeira visão, deslocou-se entretanto rapidamente nos ares, até junto de mim; era a altura do sacrifício da tarde. 22 E disse-me: “Daniel, encontro-me aqui para te ajudar a compreenderes os planos de Deus. 23 No momento em que começaste a orar, foi dada uma ordem e eu aqui estou para te dizer qual foi, visto que Deus te ama muito. Escuta e procura compreender o sentido da visão que tiveste!

24 Deus decretou um período de setenta vezes sete anos, para libertar o seu povo e a sua santa cidade do pecado e do mal, para que os pecados sejam perdoados e reine a justiça para sempre, para que a visão e a profecia se cumpram e o santuário seja de novo consagrado. 25 Agora ouve bem! Passarão sete vezes sete anos, mais sete vezes sessenta e dois anos, desde a altura em que for dada ordem para a reconstrução de Jerusalém, até à vinda do Messias, o Príncipe! As ruas e os muros de Jerusalém serão reconstruídos, a despeito dos tempos perigosos que hão de acontecer.

26 Depois deste período de sete vezes sessenta e dois anos, o Messias será morto. Levantar-se-á um rei cujos exércitos destruirão a cidade e o templo. Mas serão vencidos por uma tempestade; até ao fim haverá guerras com as suas desgraças. 27 Este rei fará um acordo de sete anos com o povo; decorrido metade desse tempo, denunciará o tratado e proibirá os judeus de fazerem qualquer sacrifício ou oferta; posteriormente, como cúmulo das suas terríveis ações, o inimigo profanará completamente o santuário de Deus. Mas quando chegar o tempo determinado nos planos de Deus, o julgamento de Deus será derramado sobre esse assolador.”

Footnotes

  1. 7.17 Literalmente: reis.

A visão dos quatro animais simbólicos

No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, teve Daniel, na sua cama, um sonho e visões da sua cabeça; escreveu logo o sonho e relatou a suma das coisas. Falou Daniel e disse: Eu estava olhando, na minha visão da noite, e eis que os quatro ventos do céu combatiam no mar grande. E quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar. O primeiro era como leão e tinha asas de águia; eu olhei até que lhe foram arrancadas as asas, e foi levantado da terra e posto em pé como um homem; e foi-lhe dado um coração de homem. Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne. Depois disso, eu continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também esse animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio. Depois disso, eu continuava olhando nas visões da noite, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez pontas.

Estando eu considerando as pontas, eis que entre elas subiu outra ponta pequena, diante da qual três das pontas primeiras foram arrancadas; e eis que nessa ponta havia olhos, como olhos de homem, e uma boca que falava grandiosamente.

Eu continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e um ancião de dias se assentou; a sua veste era branca como a neve, e o cabelo da sua cabeça, como a limpa lã; o seu trono, chamas de fogo, e as rodas dele, fogo ardente. 10 Um rio de fogo manava e saía de diante dele; milhares de milhares o serviam, e milhões de milhões estavam diante dele; assentou-se o juízo, e abriram-se os livros. 11 Então, estive olhando, por causa da voz das grandes palavras que provinha da ponta; estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo, desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo. 12 E, quanto aos outros animais, foi-lhes tirado o domínio; todavia, foi-lhes dada prolongação de vida até certo espaço de tempo. 13 Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha nas nuvens do céu um como o filho do homem; e dirigiu-se ao ancião de dias, e o fizeram chegar até ele. 14 E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino, o único que não será destruído.

15 Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me espantavam. 16 Cheguei-me a um dos que estavam perto e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isso. E ele me disse e fez-me saber a interpretação das coisas. 17 Estes grandes animais, que são quatro, são quatro reis, que se levantarão da terra. 18 Mas os santos do Altíssimo receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre e de eternidade em eternidade. 19 Então, tive desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, e as suas unhas, de metal; que devorava, fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobrava; 20 e também das dez pontas que tinha na cabeça e da outra que subia, de diante da qual caíram três, daquela ponta, digo, que tinha olhos, e uma boca que falava grandiosamente, e cuja aparência era mais firme do que o das suas companheiras. 21 Eu olhava, e eis que essa ponta fazia guerra contra os santos e os vencia. 22 Até que veio o ancião de dias, e foi dado o juízo aos santos do Altíssimo; e chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.

23 Disse assim: O quarto animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos; e devorará toda a terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. 24 E, quanto às dez pontas, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros e abaterá a três reis. 25 E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a lei; e eles serão entregues nas suas mãos por um tempo, e tempos, e metade de um tempo. 26 Mas o juízo estabelecer-se-á, e eles tirarão o seu domínio, para o destruir e para o desfazer até ao fim. 27 E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão. 28 Aqui findou a visão. Quanto a mim, Daniel, os meus pensamentos muito me espantavam, e mudou-se em mim o meu semblante; mas guardei essas coisas no meu coração.

A visão de um carneiro e de um bode

No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, apareceu-me uma visão, a mim, Daniel, depois daquela que me apareceu no princípio. E vi na visão (acontecendo, quando vi, que eu estava na cidadela de Susã, na província de Elão), vi, pois, na visão, que eu estava junto ao rio Ulai. E levantei os meus olhos e vi, e eis que um carneiro estava diante do rio, o qual tinha duas pontas; e as duas pontas eram altas, mas uma era mais alta do que a outra; e a mais alta subiu por último. Vi que o carneiro dava marradas para o ocidente, e para o norte, e para o meio-dia; e nenhuns animais podiam estar diante dele, nem havia quem pudesse livrar-se da sua mão; e ele fazia conforme a sua vontade e se engrandecia.

E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha uma ponta notável entre os olhos; dirigiu-se ao carneiro que tinha as duas pontas, ao qual eu tinha visto diante do rio; e correu contra ele com todo o ímpeto da sua força. E o vi chegar perto do carneiro, irritar-se contra ele; e feriu o carneiro e lhe quebrou as duas pontas, pois não havia força no carneiro para parar diante dele; e o lançou por terra e o pisou aos pés; não houve quem pudesse livrar o carneiro da sua mão. E o bode se engrandeceu em grande maneira; mas, estando na sua maior força, aquela grande ponta foi quebrada; e subiram no seu lugar quatro também notáveis, para os quatro ventos do céu.

E de uma delas saiu uma ponta mui pequena, a qual cresceu muito para o meio-dia, e para o oriente, e para a terra formosa. 10 E se engrandeceu até ao exército dos céus; e a alguns do exército e das estrelas deitou por terra e os pisou. 11 E se engrandeceu até ao príncipe do exército; e por ele foi tirado o contínuo sacrifício, e o lugar do seu santuário foi lançado por terra. 12 E o exército lhe foi entregue, com o sacrifício contínuo, por causa das transgressões; e lançou a verdade por terra; fez isso e prosperou. 13 Depois, ouvi um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a visão do contínuo sacrifício e da transgressão assoladora, para que seja entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados? 14 E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.

15 E aconteceu que, havendo eu, Daniel, visto a visão, busquei entendê-la e eis que se me apresentou diante uma como semelhança de homem. 16 E ouvi uma voz de homem nas margens do Ulai, a qual gritou e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão. 17 E veio perto de onde eu estava; e, vindo ele, fiquei assombrado e caí sobre o meu rosto; mas ele me disse: Entende, filho do homem, porque esta visão se realizará no fim do tempo.

18 E, estando ele falando comigo, caí com o meu rosto em terra, adormecido; ele, pois, me tocou e me fez estar em pé. 19 E disse: Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira; porque ela se exercerá no determinado tempo do fim. 20 Aquele carneiro que viste com duas pontas são os reis da Média e da Pérsia; 21 mas o bode peludo é o rei da Grécia; e a ponta grande que tinha entre os olhos é o rei primeiro; 22 o ter sido quebrada, levantando-se quatro em lugar dela, significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, mas não com a força dela. 23 Mas, no fim do seu reinado, quando os prevaricadores acabarem, se levantará um rei, feroz de cara, e será entendido em adivinhações. 24 E se fortalecerá a sua força, mas não pelo seu próprio poder; e destruirá maravilhosamente, e prosperará, e fará o que lhe aprouver; e destruirá os fortes e o povo santo. 25 E, pelo seu entendimento, também fará prosperar o engano na sua mão; e, no seu coração, se engrandecerá, e, por causa da tranquilidade, destruirá muitos, e se levantará contra o príncipe dos príncipes, mas, sem mão, será quebrado. 26 E a visão da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, cerra a visão, porque só daqui a muitos dias se cumprirá.

27 E eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, levantei-me e tratei do negócio do rei; e espantei-me acerca da visão, e não havia quem a entendesse.

A oração de Daniel. As setenta semanas. O Messias

No ano primeiro de Dario, filho de Assuero, da nação dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus, no ano primeiro do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos. E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração, e rogos, e jejum, e pano de saco, e cinza.

E orei ao Senhor, meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas o concerto e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; pecamos, e cometemos iniquidade, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis, nossos príncipes e nossos pais, como também a todo o povo da terra. A ti, ó Senhor, pertence a justiça, mas a nós, a confusão do rosto, como se vê neste dia; aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, e a todo o Israel; aos de perto e aos de longe, em todas as terras por onde os tens lançado, por causa da sua prevaricação, com que prevaricaram contra ti. Ó Senhor, a nós pertence a confusão do rosto, aos nossos reis, aos nossos príncipes e a nossos pais, porque pecamos contra ti. Ao Senhor, nosso Deus, pertence a misericórdia e o perdão; pois nos rebelamos contra ele 10 e não obedecemos à voz do Senhor, nosso Deus, para andarmos nas suas leis, que nos deu pela mão de seus servos, os profetas. 11 Sim, todo o Israel transgrediu a tua lei, desviando-se, para não obedecer à tua voz; por isso, a maldição, o juramento que está escrito na Lei de Moisés, servo de Deus, se derramou sobre nós; porque pecamos contra ele. 12 E ele confirmou a sua palavra, que falou contra nós e contra os nossos juízes que nos julgavam, trazendo sobre nós um grande mal; porquanto nunca debaixo de todo o céu aconteceu como em Jerusalém. 13 Como está escrito na Lei de Moisés, todo aquele mal nos sobreveio; apesar disso, não suplicamos à face do Senhor, nosso Deus, para nos convertermos das nossas iniquidades e para nos aplicarmos à tua verdade. 14 Por isso, o Senhor vigiou sobre o mal e o trouxe sobre nós; porque justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as suas obras, que fez, pois não obedecemos à sua voz. 15 Na verdade, ó Senhor, nosso Deus, que tiraste o teu povo da terra do Egito com mão poderosa e ganhaste para ti nome, como se vê neste dia, pecamos; procedemos impiamente. 16 Ó Senhor, segundo todas as tuas justiças, aparte-se a tua ira e o teu furor da tua cidade de Jerusalém, do teu santo monte; porquanto, por causa dos nossos pecados e por causa das iniquidades de nossos pais, tornou-se Jerusalém e o teu povo um opróbrio para todos os que estão em redor de nós. 17 Agora, pois, ó Deus nosso, ouve a oração do teu servo e as suas súplicas e sobre o teu santuário assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do Senhor. 18 Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos e ouve; abre os teus olhos e olha para a nossa desolação e para a cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças, mas em tuas muitas misericórdias. 19 Ó Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo se chamam pelo teu nome.

20 Estando eu ainda falando, e orando, e confessando o meu pecado e o pecado do meu povo Israel, e lançando a minha súplica perante a face do Senhor, meu Deus, pelo monte santo do meu Deus, 21 estando eu, digo, ainda falando na oração, o varão Gabriel, que eu tinha visto na minha visão ao princípio, veio voando rapidamente e tocou-me à hora do sacrifício da tarde. 22 E me instruiu, e falou comigo, e disse: Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. 23 No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; toma, pois, bem sentido na palavra e entende a visão.

24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para extinguir a transgressão, e dar fim aos pecados, e expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e ungir o Santo dos santos. 25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E, depois das sessenta e duas semanas, será tirado o Messias e não será mais; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações. 27 E ele firmará um concerto com muitos por uma semana; e, na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.

Daniel sonha com quatro animais

Durante o primeiro ano em que Belsazar foi rei[a] de Babilônia, eu, Daniel, tive um sonho e, enquanto estava na minha cama, tive visões na minha mente. Ao acordar, anotei o mais importante do sonho. A seguir irei falar a respeito do que eu escrevi.

Tive uma visão durante a noite. Vi que sopravam os quatro ventos do céu e faziam com que o grande mar ficasse agitado. De repente, quatro animais gigantes saíram da água. Todos eram diferentes. O primeiro parecia um leão com asas de águia. Enquanto eu olhava, as suas asas foram tiradas e ele foi levantado para que ficasse sobre dois pés como um homem. E foi lhe dada uma mente[b] de ser humano. Logo vi outro animal. Este segundo animal parecia um urso e um dos seus lados estava levantado. Tinha três costelas entre seus dentes e uma voz lhe dizia:

—Fique em pé e coma toda a carne que você desejar.

Depois, continuei olhando e vi outro animal que parecia um leopardo com quatro asas nas costas e quatro cabeças. A este animal lhe foi dado poder para governar. Logo depois vi na minha visão o quarto animal. Era um animal terrível, espantoso e de uma força impressionante. Tinha dentes de ferro e devorava várias criaturas. Destruía os ossos delas e pisoteava o que sobrava. Era muito diferente dos outros três animais e tinha dez chifres. Eu estava olhando os chifres quando surgiu outro entre os dez que já tinha e quebrou três deles. Este novo chifre tinha olhos de ser humano e uma boca que louvava seu grande poder.

O juízo do quarto animal

Enquanto olhava, apareceram alguns tronos
    e o Ancião venerável[c] se sentou no seu trono.
Sua roupa era branca como a neve;
    seu cabelo era branco como a lã pura.
Seu trono era de fogo,
    e as chamas eram as suas rodas.
10 Um rio de chamas
    corria diante dele.
Milhares o serviam,
    milhões estavam na sua frente.
Parecia que um juízo estava prestes a começar,
    e os livros foram abertos.

11 Eu continuava impressionado olhando a boca do chifre que louvava seu grande poder. Enquanto isso, mataram aquele animal, fizeram que ficasse em pedaços e o queimaram. 12 Com relação aos outros animais, tiraram deles o poder que tinham, mas os deixaram viver por mais um pouco.

13 Eu continuava com estas visões durante a noite. De repente, vi que saía do meio das nuvens alguém parecido com um ser humano[d]. Chegou perto do Ancião venerável e foi apresentado a ele. 14 Foi dado a ele poder, glória e autoridade para que todos os povos, nações e línguas o sirvam. Seu domínio não terá fim e seu reino nunca será destruído.

A interpretação do sonho

15 Eu, Daniel, estava angustiado e o que tinha visto na visão me deixou preocupado. 16 Então cheguei perto de um dos que serviam ao Ancião venerável e lhe pedi que me explicasse tudo isso. Ele me explicou:

17 —Os quatro animais representam quatro reis que vão governar na terra. 18 Mas os santos de Deus receberão o reino e governarão para sempre.

19 Eu queria saber o que representava o quarto animal, que era muito diferente dos outros. Esse animal era terrível, assustador e de uma força impressionante. Tinha dentes de ferro e garras de bronze. Ele devorava e triturava tudo, e pisoteava com as patas o que sobrava. 20 Queria saber o significado dos dez chifres da cabeça, e do último que surgiu e quebrou três dos dez chifres que já tinha. Este novo chifre tinha olhos de homem e uma boca que louvava o seu grande poder; seu tamanho era maior do que os outros. 21 Enquanto eu olhava, esse pequeno chifre começou a lutar contra os santos de Deus e os derrotava. 22 Até que apareceu o Ancião venerável e favoreceu os santos do Deus Altíssimo. Por isso os santos derrotaram o monstro e se apoderaram do reino.

23 Então, aquele que me estava explicando disse:

—O quarto animal é o quarto reino, que é diferente dos outros reinos. Devorará toda a terra, pisará nela e a destruirá. 24 Os dez chifres representam os dez reis desse reino. Depois deles virá outro rei que será muito diferente dos outros. Esse novo rei tirará do poder três reis. 25 Ele falará contra o Deus Altíssimo e causará dano e sofrimento aos santos de Deus. Também tratará de mudar a lei e os costumes. Os santos de Deus estarão sob seu poder durante três anos e meio. 26 Mas depois se fará justiça. Todo poder será tirado dele e o seu reino será totalmente destruído. 27 Quando isso acontecer, todo poder e todos os reinos da terra estarão nas mãos dos santos de Deus. Eles governarão para sempre e o reino deles não terá fim. Todos os governadores e todas as pessoas os respeitarão e estarão ao seu serviço.

28 Esse foi o final do sonho, mas eu, Daniel, seguia muito preocupado e pálido, por isso não podia deixar de pensar nisso.

A visão do carneiro e do bode

Durante o terceiro ano em que Belsazar foi rei, eu, Daniel, tive outra visão. Esta visão aconteceu[e] depois da primeira. A seguir falarei a respeito da visão que tive.

Eu estava à margem do rio Ulai, na cidade de Susã, que é a capital da província de Elão. Quando levantei o olhar, vi um carneiro à margem do rio. Tinha dois chifres muito compridos, mas um era mais comprido do que o outro, embora tivesse nascido depois. Vi que o carneiro atacava com seus chifres em direção ao oeste, ao norte e ao sul. Animal algum podia enfrentar o carneiro e nada nem ninguém podia ajudar os outros animais. O carneiro continuava fazendo o que queria e cada vez ficava mais poderoso.

Enquanto olhava o carneiro, vi que um bode surgia desde o oeste. O bode andava por toda a terra sem tocar o chão. Além disso, o bode tinha um chifre muito grande entre os olhos. O carneiro dos chifres compridos continuava à margem do rio, e o bode, furioso, saiu correndo em direção ao carneiro. Vi que o bode bateu no carneiro e quebrou os seus dois chifres. O carneiro ficou caído no chão e o bode pisoteou nele e o deixou sem força. Nada nem ninguém conseguiu salvar o carneiro.

O bode ficava cada vez mais forte e, quando conseguiu ter mais poder, o chifre se quebrou. Em seguida, surgiram quatro chifres substituindo aquele que tinha se quebrado. Os quatro novos chifres eram muito compridos e tinham crescido em quatro diferentes direções. De um desses chifres surgiu um chifre menor, que tinha crescido em direção ao sul e ao leste. Esse chifre tinha crescido em direção da nossa terra formosa.[f] 10 Esse chifre menor cresceu tanto que chegou até o céu; ali derrubou algumas estrelas, as fez cair até o chão e as pisoteou. 11 O sol era a maior estrela, mas o chifre continuou crescendo e ficou maior do que o sol. O chifre derrotou o sol e destruiu o seu templo. 12 O chifre fez maldades: não permitiu que se oferecessem os sacrifícios diários e colocou a verdade no chão. Enfim, continuou fazendo o que bem queria e era bem-sucedido em tudo.

13 Depois escutei que um dos santos estava falando e outro lhe perguntou quanto tempo mais iria durar o que estava acontecendo com os sacrifícios diários e quando iriam terminar estas terríveis ofensas e pisoteios contra o santuário e as estrelas sagradas. 14 O santo respondeu que isto iria acontecer durante 2.300 dias. Depois disso, o santuário iria ser purificado.

15 Eu, Daniel, tive essa visão e tentava entender o seu significado. Enquanto pensava nisso, apareceu diante de mim alguém que parecia um homem. 16 Então, escutei uma voz que vinha do rio e dizia:

—Gabriel,[g] explique a este homem o que ele viu.

17 Então ele se aproximou de mim, e eu, muito assustado, cai no chão. Porém, ele me falou:

—Homem, entenda que esta visão mostra coisas que acontecerão no futuro.

18 Quando ele falou comigo, eu desmaiei mas ele me levantou e me colocou em pé. 19 Então me disse:

—Agora vou explicar o que você viu. Vou falar para você o que irá acontecer no final do tempo de ira, no tempo estabelecido para o fim. 20 O carneiro dos dois chifres representa os reis da Média e da Pérsia; 21 o bode representa o rei da Grécia. O chifre grande, que o bode tem entre os olhos, é o primeiro rei. 22 Os quatro chifres, que surgiram no lugar do primeiro chifre após este se partir, representam quatro reinos que provêm do primeiro reino, embora não serão tão fortes como esse.

23 —Quando esses reinos estejam perto do seu fim, existirá então muita gente má e trapaceira. Então surgirá um rei teimoso e muito trapaceiro. 24 Esse rei será muito forte e poderoso, mas não pelo seu próprio esforço.[h] Causará destruição e será bem-sucedido no que faça. Esse rei destruirá muitos líderes poderosos e muitas pessoas santas. 25 Esse rei será muito inteligente, mas usará a sua inteligência para fazer as suas trapaças e destruir muitas pessoas. Trairá a muitos e os destruirá quando ninguém estiver esperando. Achará que é muito importante e enfrentará o Príncipe dos príncipes, mas esse rei será destruído e a sua destruição não será por mãos humanas. 26 A visão desses tempos das manhãs e das tardes é certa, mas faça com que ela fique selada, porque essas coisas levarão muito tempo para acontecer.

27 Eu, Daniel, estive doente durante vários dias. Após esses dias, eu retornei ao meu trabalho com o rei. Mas continuava preocupado e pasmo pela visão, pois não tinha entendido o seu significado.

A oração de Daniel

Dario era o filho de Assuero[i] e pertencia à nação dos medos. Dario governava sobre a Babilônia, o reino dos caldeus. Durante o primeiro ano do reinado de Dario, eu, Daniel, estava lendo as Escrituras num certo dia. Enquanto lia, comecei a perceber que a mensagem do SENHOR ao profeta Jeremias falava do templo de Jerusalém ficar em ruínas durante setenta anos. Então decidi orar ao Senhor, meu Deus, e pedir a sua ajuda. Não comi nada, mas vesti roupas de luto e coloquei cinzas na minha cabeça. Orei ao SENHOR, meu Deus, e lhe confessei as minhas faltas. Falei para ele:

—O Senhor é um Deus grande e poderoso, que guarda a aliança e protege aos que lhe amam e cumprem os seus mandamentos. Nós temos pecado, cometido crimes, e sido malvados, afastando-nos do Senhor e dos seus ensinos. Não demos a importância necessária às palavras dos profetas, seus servos, os quais falavam no seu nome aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos pais, e a todo o povo.

—O Senhor é bondoso e justo conosco. O Senhor nos tirou da nossa terra por causa dos nossos pecados. O Senhor fez o que é justo e a culpa é nossa. Os homens de Judá e os habitantes de Jerusalém estão envergonhados. Todos os israelitas, não importando o país onde estejam morando, se é longe ou perto, sentem vergonha pelas faltas que cometeram contra o Senhor. SENHOR, todos nossos reis, nossos governantes e nossos pais pecaram e por isso sentimos muita vergonha. O Senhor é compassivo e perdoa ainda que tenhamos nos rebelado. 10 Não temos obedecido aos seus ensinos, SENHOR, pois nos deu esses ensinos através dos seus profetas, mas nós não os temos escutado. 11 O povo de Israel não obedeceu aos seus ensinos nem os cumpriu, por isso recai sobre nós a maldição e o juramento que estão escritos na lei do seu servo Moisés. 12 O Senhor nos alertou que nós e os nossos líderes iríamos ter um castigo. E assim aconteceu. Jerusalém foi destruída e todo o povo sofreu muito. Povo algum sobre a terra tem sofrido tanto como o povo de Jerusalém. 13 O castigo que foi anunciado pela lei de Moisés se cumpriu tal como estava escrito. Entretanto, nós não mudamos o nosso mau comportamento. Ao contrário, continuamos ofendendo ao SENHOR, nosso Deus, e não obedecemos à sua verdade. 14 O SENHOR, nosso Deus, esteve alerta a isso e enviou a desgraça contra nós, pois o SENHOR é justo em tudo o que faz e nós não lhe obedecemos.

15 —O Senhor libertou o povo de Israel com grande poder e desde então até hoje o seu nome ficou famoso, mas nós temos pecado e temos cometido maldades. 16 Meu Senhor, como é bondoso e justo. Suplico ao Senhor que não continue irado com Jerusalém, que é a sua cidade e o seu monte santo. Nós e os nossos pais cometemos muitos pecados, por isso as pessoas das nações vizinhas zombam do seu povo.

17 —Deus, nosso Senhor, suplico que escute esta oração do seu servo. Pelo bem do seu povo e de todos, peço que nos ajude e que tenha compaixão da dor que a destruição do seu templo tem causado. 18 Deus meu, me escute! Olhe as ruínas da cidade que leva o seu nome. Estou suplicando pela sua misericórdia, porque sei que não temos nos comportado bem. Suplico ao Senhor porque sei que é bondoso e misericordioso. 19 Deus meu, escute a minha oração e perdoe à gente. Deus meu, atenda a gente e não tarde em nos ajudar por amor a si mesmo, e pelo bem do seu povo e da cidade na qual invocamos o seu nome.

A visão das setenta semanas

20 Eu estava orando e confessando os meus pecados e os do povo de Israel. Estava pedindo ao SENHOR, meu Deus, que ajudasse o seu monte santo. 21 Enquanto eu orava, chegou perto de mim o mesmo Gabriel que apareceu a mim uma vez em sonhos. Veio voando no momento da oferta da tarde. 22 Gabriel me ajudou a entender o que não compreendia e me disse:

—Daniel, vim para cá para ajudá-lo a entender. 23 Quando você começou a sua oração, Deus respondeu. Vim para lhe dizer que Deus ama você e que irá entender a visão que teve porque é um homem inteligente. 24 Deus deu ao seu povo e à cidade santa um prazo de setenta semanas.[j] Durante esse tempo as pessoas deverão deixar a maldade e o pecado. Elas têm que procurar a purificação pelos erros cometidos. Devem promover uma justiça que dure para sempre. Assim, a visão revelada será confirmada e o lugar santíssimo será consagrado.

25 —Daniel, entenda muito bem o que irei lhe dizer. Passarão sete semanas desde o momento em que a ordem de retornar e reconstruir Jerusalém for dada até que chegue o rei escolhido.[k] Jerusalém terá de novo uma praça e um canal ao redor para se proteger. A construção durará sessenta e duas semanas, mas existirá muito sofrimento nesse tempo. 26 Quando passem as sessenta e duas semanas, o rei escolhido morrerá e ficará sem nada. Então, o povo do seguinte governante destruirá a cidade e o santuário. O fim chegará como uma inundação. Haverá guerra até o fim e tudo ficará totalmente destruído, como Deus o determinou. 27 Depois, o governante fará uma aliança com muita gente durante uma semana. As ofertas ficarão interrompidas durante meia semana. Em vez delas, um homem destruidor porá ídolos abomináveis,[l] mas Deus já ordenou que o destruidor seja completamente destruído.

Footnotes

  1. 7.1 o primeiro ano em que Belsazar foi rei 533 a.C.
  2. 7.4 mente Literalmente, “coração”.
  3. 7.9 Ancião venerável Literalmente, “Ancião de dias”. Esta é uma forma de se referir ao eterno Deus.
  4. 7.13 ser humano Literalmente, “filho de homem”.
  5. 8.1 Esta visão aconteceu Daqui em diante o livro de Daniel está escrito em hebraico. Dn 2.7-7.28 está escrito em aramaico, o idioma oficial do império babilônico.
  6. 8.9 nossa terra formosa É uma referência a Israel.
  7. 8.16 Gabriel Este nome significa “guerreiro de Deus”.
  8. 8.24 mas não (…) esforço Alguns manuscritos da LXX não têm estas palavras, as quais podem ter sido copiadas por engano do v22.
  9. 9.1 Assuero ou “Xerxes”.
  10. 9.24 setenta semanas Quer dizer, setenta semanas de anos, ou seja 490 anos. Ver Lv 26.18-45.
  11. 9.25 rei escolhido Literalmente, “Messias Príncipe”.
  12. 9.27 Em vez (…) abomináveis ou “vem um destruidor entre asas de abominação”.