Add parallel Print Page Options

As ruas de Jerusalém, outrora tão movimentadas e cheias de gente, estão agora desertas, silenciosas. A cidade, como uma viúva abatida pelo peso do desgosto, senta-se desolada no meio da sua amargura. Ela que já foi a rainha das nações é agora uma escrava.

Soluça a noite inteira, correm-lhe grossas lágrimas pelas faces. Entre os seus antigos aliados que a amaram não há um só que esteja disposto a ajudá-la. Todos os seus amigos são agora seus inimigos.

Judá foi levada em cativeiro no meio de aflições e de pesados trabalhos. E agora ali está ela no exílio, bem longe. Não consegue encontrar descanso, porque todos os que a perseguiram apanharam-na no meio dos seus apertos.

Os caminhos que conduzem a Sião estão tristes, abandonados. Já não se encontram cheios de alegres multidões que vinham participar nas celebrações festivas do templo; os portais da cidade estão silenciosos; os sacerdotes suspiram; as virgens estão enlutadas; agora chora amargamente.

Os seus inimigos agora dominam-na, porque o Senhor castigou Jerusalém por todos os seus muitos pecados, os seus filhos foram capturados e levados como escravos para longe.

Toda a sua beleza, a sua majestade, se foi; os seus nobres são como veados cheios de fome à procura de pastagens, demasiado fracos para poderem fugir do caçador.

Agora, no meio da aflição, lembra-se dos dias felizes já passados. Recorda-se daqueles belos momentos de alegria que teve antes que os inimigos escarnecedores a tivessem ferido e ninguém houve que lhe desse ajuda.

Jerusalém pecou horrivelmente e por isso, agora é posta de lado como um trapo sujo. Todos os que a honraram, agora desprezam-na, pois veem-na despida, humilhada, e ela lamenta-se e esconde o rosto.

Cedeu à imoralidade e recusou encarar o facto de que o castigo não haveria de falhar. Agora jaz na valeta, sem que haja alguém para lhe estender a mão e a levantar. “Ó Senhor, vê a minha aflição!”, grita ela. “O inimigo triunfou!”

10 Os seus adversários saquearam-na completamente, levando-lhe tudo o que tinha de precioso. Teve de ver nações estrangeiras violando o templo sagrado, estrangeiros que tu tinhas proibido até de lá entrar.

11 O seu povo geme e clama por pão; venderam tudo quanto tinham para obter alimento que lhes desse algumas forças. “Vê, Senhor!”, roga ela. “Repara como estou abandonada!”

12 Não vos comove isto, vocês que passam perto? Olhem e vejam se há aflição semelhante à minha, por causa de tudo o que o Senhor tem feito no dia da sua terrível cólera.

13 Enviou fogo do céu que me arde ainda dentro dos ossos; estendeu uma rede no meu caminho e fez-me voltar atrás. Deixou-me doente e desolada todos os dias da minha vida.

14 Ligou-me com cordas aos meus pecados e pôs-me ao pescoço como que um jugo de escravidão. Abateu a minha força e entregou-me aos inimigos; estou sem ajuda nas suas mãos.

15 O Senhor calcou com os pés todos os meus homens fortes. Um grande exército veio, ao seu chamamento, para esmagar os mais nobres dos jovens. O Senhor pisou a sua cidade querida como cachos de uvas num lagar.

16 É por isso que choro; lágrimas quentes rolam-me nas faces. O meu consolador está bem longe e só ele poderia ajudar-me. Os meus filhos não têm futuro; estamos numa terra conquistada.

17 Jerusalém roga por socorro e ninguém lhe acode, porque o Senhor falou assim: “Que os seus vizinhos sejam os seus adversários! Que ela seja atirada fora, por eles, como trapos imundos!”

18 O Senhor é justo, pois eu rebelei-me. Por isso, ó gentes de toda a parte, vejam a minha angústia e desespero, porque os meus filhos e filhas foram transportados para muito longe como escravos.

19 Roguei aos meus aliados que me trouxessem auxílio. Esperança vã! Eles não estão, de forma alguma, dispostos a ajudar-me. Nem tão-pouco o poderiam os meus sacerdotes e anciãos, estes estão deitados nas ruas, morrendo de fome, vasculhando nas lixeiras à procura de restos de comida.

20 Vê, ó Senhor, a minha angústia! Tenho o coração quebrantado e a alma oprimida, porque me rebelei terrivelmente. Espera-me nas ruas a espada e em casa a fome e a morte.

21 Ouvem os meus gemidos e ninguém acorre para me dar auxílio. Todos os meus inimigos ouviram a minha angústia e até ficam contentes por verem o que fizeste. Apesar de tudo, ó Senhor, há de vir o tempo, com toda a certeza, porque foste tu quem o prometeu, em que lhes farás como me fizeste a mim.

22 Olha também para os seus pecados, ó Senhor, e castiga-os como me castigaste a mim, porque passo a vida a suspirar e o meu coração desfalece!

Uma nuvem de ira, da parte do Senhor, escureceu Sião. Aquela que era a mais bela cidade de Israel está agora estendida no pó da terra, expulsa das alturas do céu por ordem de Deus. No dia da sua tremenda cólera não houve sequer misericórdia para com o templo, o estrado dos seus pés.

O Senhor destruiu sem piedade cada casa em Israel; na sua ira derribou cada fortaleza, cada muralha; levou o reino até ao pó, acompanhado dos governantes.

Todas as energias de Israel se desvaneceram sob o seu terrível juízo; retirou-lhes totalmente a proteção na altura em que o inimigo atacou. Deus ardeu como um violento fogo através de todo o Israel.

Retesa o arco na direção do seu povo, como se este fosse seu adversário. A sua força é usada contra ele, para liquidar a melhor juventude. O seu furor derrama-se como matéria inflamada sobre eles.

Sim, o Senhor venceu Israel como se este fosse um inimigo; destruiu-lhe as fortificações, os palácios. Tristeza e lágrimas é a sorte que coube a Jerusalém.

Fez abater violentamente o seu templo como se se tratasse meramente duma cabana feita de ramos e folhas de árvores. O povo não pode mais celebrar as santas festividades, os sábados. Reis e sacerdotes caíram sob a sua indignação.

O Senhor rejeitou o seu próprio altar e rejeitou o seu santuário; deu as fortalezas deles aos inimigos, os quais fazem festas e se embebedam no templo do Senhor, tal como Israel costumava fazer nos dias de santas celebrações.

O Senhor determinou destruir os muros de Sião. Ele estendeu a linha de nivelar e calculou com precisão a destruição em curso. Por isso, as muralhas e as fortalezas caíram na sua frente.

As portas de Jerusalém já de nada servem; todas as fechaduras e cadeados estão violados e partidos; foi ele mesmo quem os arrombou. Os seus reis e os nobres estão escravizados em terras desconhecidas e afastadas, sem leis divinas para os governar, sem a visão do Senhor para guiar os profetas.

10 Os anciãos da filha de Sião sentam-se no chão em silêncio, vestidos de serapilheira. Lançam pó sobre as cabeças em sinal de luto e amargura. As jovens de Jerusalém inclinam as cabeças até ao chão com vergonha.

11 Tenho chorado até me secarem as lágrimas; o meu coração está quebrantado, tenho o espírito profundamente deprimido, por ver o que aconteceu ao meu povo; criancinhas e bebés desfalecem e morrem no meio das ruas.

12 “Mãe, mãe, quero comer!”, gritam elas e ficam-se sem vida no seu colo. São vidas que partem como se fosse numa batalha.

13 Alguma vez no mundo terá havido tristeza semelhante? Ó Jerusalém, com que poderei comparar a tua angústia? Como poderei eu confortar-te, Sião? Porque o teu mal é profundo como o fundo do mar. Quem poderá curar-te?

14 As visões que os teus profetas te anunciaram, são mensagens enganosas e falsas. Nem sequer tentaram salvar-te da escravidão, denunciando os teus pecados, antes calmamente te diziam que tudo ia bem.

15 Todos os que por ali passam abanam as cabeças, riem-se e dizem: “Vejam, a excelência da beleza e a alegria de toda a Terra, o estado em que ela ficou!”

16 Todos os teus inimigos troçam de ti; torcem-se a rir, arreganham os dentes e dizem: “Até que enfim a destruímos! Fartámo-nos de esperar por este momento, mas acabou por chegar! Estamos a ver nós próprios a sua queda!”

17 Foi o Senhor mesmo quem fez isto, como já tinha dito antes claramente; cumpriu as suas promessas de condenação feitas já há muito tempo; destruiu Jerusalém sem misericórdia e fez com que os seus inimigos se alegrassem e vangloriassem das suas próprias forças.

18 O povo chora perante o Senhor. Ó gente de Jerusalém, deixem as lágrimas escorrer como um ribeiro; não deixem de chorar, não deem descanso aos vossos olhos noite e dia!

19 Levanta-te de noite e clama a Deus; derrama o teu coração como se fosse água, perante o Senhor; levanta para ele as mãos e intercede pelos teus filhos que morrem de fome nas ruas.

20 Ó Senhor, olha! É ao teu próprio povo que estás a fazer isto! Serão as mães obrigadas a comer os próprios filhinhos que adormeceram nos braços? Estarão os sacerdotes e os profetas destinados a morrer mesmo no templo do Senhor?

21 Olha para eles, estendidos no meio das ruas, velhos e novos, rapazes e raparigas, mortos pelas armas inimigas. Mataste-os, Senhor, no teu furor, mataste-os sem piedade.

22 Mandaste vir deliberadamente terrores de toda a parte contra mim, como se se tratasse de um dia de festa. No tempo da tua ira ninguém conseguiu escapar, ninguém ficou vivo. Todos os meus filhinhos jazem mortos pelas ruas por onde passou o inimigo.

Sou um homem que viu as aflições que a vara do Senhor fez derramarem-se. Levou-me até às trevas profundas, tirou-me toda a luz. Voltou-se contra mim. Dia e noite a sua mão pesa sobre mim.

A minha pele está envelhecida e a minha carne mirrada; quebrou-me os ossos todos. Construiu torres fortificadas contra mim; rodeou-me de angústia e de tormento. Meteu-me dentro de lugares tenebrosos, semelhante aos que dormem há muito o seu último sono.

Emparedou-me; estou impossibilitado de fugir; agrilhoou-me com pesadas cadeias. Ainda que grite e clame, não ouvirá os meus rogos! Encarcerou-me num sítio rodeado de muros altos e espessos; encheu o meu caminho de emboscadas.

10 Espia-me como um urso prestes a atacar e como um leão pronto a saltar sobre a presa. 11 Fez-me extraviar do meu caminho; fez-me em pedaços e deixou-me a escorrer sangue, abandonado. 12 Retesou o arco e apontou certeiramente contra mim.

13 As suas setas entraram profundamente no meu coração. 14 O meu próprio povo ri-se de mim. Cantam o dia inteiro as suas canções dissolutas. 15 Encheu-me de amargura; deu-me a beber um copo cheio da mais profunda tristeza.

16 Fez-me comer cascalho, de tal forma que até os dentes se me partiram; fez-me rolar no meio da cinza e da sujidade. 17 Esqueci-me até do que significa prosperidade; perdi toda a tranquilidade na minha vida. 18 Até já me esqueci da alegria que essas coisas provocam. Só sei dizer: A minha força foi-se. Não espero nada de Deus!

19 Oh! Lembra-te da amargura e do sofrimento que lançaste sobre mim! 20 Nunca mais esquecerei estes horríveis anos. A minha alma passará a viver numa completa vergonha.

21 Mas há ainda um raio de esperança. 22 É que as misericórdias do Senhor não têm fim; foram as misericórdias do Senhor que impediram que fôssemos consumidos em absoluto; 23 grande é a sua fidelidade. A sua compaixão é sempre renovada em cada dia. 24 O Senhor é aquilo de que preciso para viver; é a minha única riqueza, por isso, espero nele.

25 O Senhor é bom para os que esperam nele, para os que o buscam. 26 É bom ter esperança e aguardar calmamente a salvação do Senhor. 27 É bom para um jovem estar sob disciplina.

28 Porque fá-lo sentar-se solitário, em silêncio, sob o controlo do Senhor, 29 inclinar o rosto para o chão, para o pó da terra; no fim, haverá esperança para ele. 30 Que aprenda a dar a outra face a quem o fere, que saiba enfrentar a afronta.

31 O Senhor não o abandonará para sempre. 32 Ainda que Deus o faça sofrer, mostrar-lhe-á a sua compaixão, de acordo com a sua grande misericórdia. 33 Porque não é do seu agrado afligir as pessoas, deixá-las tristes.

34 Quando são espezinhados os prisioneiros da terra, 35 e quando defraudam os direitos das pessoas, perante o Altíssimo, 36 e recusam fazer-lhes justiça, não é de admirar que o Senhor os queira castigar.

A humilhação de Jerusalém. Os pecados e aflições do povo

Álefe.

Como se acha solitária aquela cidade dantes tão populosa! Tornou-se como viúva a que foi grande entre as nações; e princesa entre as províncias tornou-se tributária!

Bete.

Continuamente chora de noite, e as suas lágrimas correm pelas suas faces; não tem quem a console entre todos os seus amadores; todos os seus amigos se houveram aleivosamente com ela, tornaram-se seus inimigos.

Guímel.

Judá passou ao cativeiro por causa da aflição e por causa da grandeza da sua servidão; habita entre as nações, não acha descanso; todos os seus perseguidores a surpreenderam nas suas angústias.

Dálete.

Os caminhos de Sião pranteiam, porque não há quem venha à reunião solene; todas as suas portas estão desoladas; os seus sacerdotes suspiram; as suas virgens estão tristes, e ela mesma tem amargura.

Hê.

Os seus adversários a dominaram, os seus inimigos prosperam; porque o Senhor a entristeceu, por causa da multidão das suas prevaricações; os seus filhinhos vão em cativeiro na frente do adversário.

Vau.

E da filha de Sião foi-se toda a sua glória; os seus príncipes ficaram sendo como corços que não acham pasto e caminham sem força na frente do perseguidor.

Zain.

Lembra-se Jerusalém, nos dias da sua aflição e das suas rebeliões, de todas as suas mais queridas coisas, que tivera dos tempos antigos; quando caía o seu povo na mão do adversário, e ela não tinha quem a socorresse, os adversários a viram e fizeram escárnio da sua queda.

Hete.

Jerusalém gravemente pecou; por isso, se fez instável; todos os que a honravam a desprezaram, porque viram a sua nudez; ela também suspirou e voltou para trás.

Tete.

A sua imundícia está nas suas saias, nunca se lembrou do seu fim; por isso, foi pasmosamente abatida, não tem consolador. Vê, Senhor, a minha aflição, porque o inimigo se engrandece.

Jode.

10 Estendeu o adversário a sua mão a todas as coisas mais preciosas dela; pois viu entrar no seu santuário as nações acerca das quais mandaste que não entrassem na tua congregação.

Cafe.

11 Todo o seu povo anda suspirando, buscando o pão; deram as suas coisas mais preciosas a troco de mantimento para refrescarem a alma; vê, Senhor, e contempla, pois me tornei desprezível.

Lâmede.

12 Não vos comove isso, a todos vós que passais pelo caminho? Atendei e vede se há dor como a minha dor, que veio sobre mim, com que me entristeceu o Senhor, no dia do furor da sua ira.

Mem.

13 Desde o alto enviou fogo a meus ossos, o qual se assenhoreou deles; estendeu uma rede aos meus pés, fez-me voltar para trás, fez-me assolada e enferma todo o dia.

Nun.

14 Já o jugo das minhas prevaricações está atado pela sua mão; elas estão entretecidas, subiram sobre o meu pescoço, e ele abateu a minha força; entregou-me o Senhor na suas mãos, e eu não posso levantar-me.

Sâmeque.

15 O Senhor atropelou todos os meus valentes no meio de mim; apregoou contra mim um ajuntamento, para quebrantar os meus jovens; o Senhor pisou, como em um lagar, a virgem filha de Judá.

Ain.

16 Por essas coisas, choro eu; os meus olhos, os meus olhos se desfazem em águas; porque se afastou de mim o consolador que devia restaurar a minha alma; os meus filhos estão desolados, porque prevaleceu o inimigo.

Pê.

17 Estende Sião as suas mãos, não há quem a console; mandou o Senhor acerca de Jacó que fossem inimigos os que estão em redor dele; Jerusalém é para eles como uma coisa imunda.

Tsadê.

18 Justo é o Senhor, pois me rebelei contra os seus mandamentos; ouvi, pois, todos os povos e vede a minha dor; as minhas virgens e os meus jovens se foram para o cativeiro.

Cofe.

19 Chamei os meus amadores, mas eles me enganaram; os meus sacerdotes e os meus anciãos expiraram na cidade, enquanto buscavam para si mantimento, para refrescarem a sua alma.

Rexe.

20 Olha, Senhor, quanto estou angustiada; turbada está a minha alma, o meu coração está transtornado no meio de mim, porque gravemente me rebelei; fora, me desfilhou a espada, dentro de mim está a morte.

Chim.

21 Ouvem que eu suspiro, mas não tenho quem me console; todos os meus inimigos que souberam do meu mal folgam, porque tu o determinaste; mas, em trazendo tu o dia que apregoaste, serão como eu.

Tau.

22 Venha toda a sua iniquidade à tua presença, e faze-lhes como me fizeste a mim por causa de todas as minhas prevaricações; porque os meus suspiros são muitos, e o meu coração está desfalecido.

O cerco, a fome e a ruína de Jerusalém

Álefe.

Como cobriu o Senhor de nuvens, na sua ira, a filha de Sião! Derribou do céu à terra a glória de Israel e não se lembrou do escabelo de seus pés, no dia da sua ira.

Bete.

Devorou o Senhor todas as moradas de Jacó e não se apiedou; derribou no seu furor as fortalezas da filha de Judá e as abateu até à terra; profanou o reino e os seus príncipes.

Guímel.

Cortou, no furor da sua ira, toda a força de Israel; retirou para trás a sua destra de diante do inimigo; e ardeu contra Jacó, como labareda de fogo que tudo consome em redor.

Dálete.

Armou o seu arco como inimigo, firmou a sua destra como adversário e matou tudo o que era formoso à vista; derramou a sua indignação, como fogo na tenda da filha de Sião.

Hê.

Tornou-se o Senhor como inimigo; devorou Israel, devorou todos os seus palácios, destruiu as suas fortalezas; e multiplicou na filha de Judá a lamentação e a tristeza.

Vau.

E arrancou a sua cabana com violência, como se fosse a de uma horta; destruiu a sua congregação; o Senhor, em Sião, pôs em esquecimento a solenidade e o sábado e, na indignação da sua ira, rejeitou com desprezo o rei e o sacerdote.

Zain.

Rejeitou o Senhor o seu altar, detestou o seu santuário; entregou na mão do inimigo os muros dos seus palácios; deram gritos na Casa do Senhor, como em dia de reunião solene.

Hete.

Intentou o Senhor destruir o muro da filha de Sião; estendeu o cordel, não retirou a sua mão destruidora; fez gemer o antemuro e o muro; eles estão juntamente enfraquecidos.

Tete.

Abateram as suas portas; ele destruiu e quebrou os seus ferrolhos; o seu rei e os seus príncipes estão entre as nações onde não lei, nem acham visão alguma do Senhor os seus profetas.

Jode.

10 Estão sentados na terra, silenciosos, os anciãos da filha de Sião; lançam pó sobre a sua cabeça, cingiram panos de saco; as virgens de Jerusalém abaixam a sua cabeça até à terra.

Cafe.

11 Já se consumiram os meus olhos com lágrimas, turbada está a minha alma, o meu coração se derramou pela terra, por causa do quebrantamento da filha do meu povo; pois desfalecem os meninos e as crianças de peito pelas ruas da cidade.

Lâmede.

12 Dizem a suas mães: Onde trigo e vinho? Quando desfalecem como o ferido pelas ruas da cidade, derramando-se a sua alma no regaço de suas mães.

Mem.

13 Que testemunho te trarei? A quem te compararei, ó filha de Jerusalém? A quem te assemelharei, para te consolar a ti, ó virgem filha de Sião? Porque grande como o mar é a tua ferida; quem te sarará?

Nun.

14 Os teus profetas viram para ti vaidade e loucura e não manifestaram a tua maldade, para afastarem o teu cativeiro; mas viram para ti cargas vãs e motivos de expulsão.

Sâmeque.

15 Todos os que passam pelo caminho batem palmas, assobiam e meneiam a cabeça sobre a filha de Jerusalém, dizendo: É esta a cidade que denominavam perfeita em formosura, gozo de toda a terra?

Pê.

16 Todos os teus inimigos abrem a boca contra ti, assobiam e rangem os dentes; dizem: Devoramo-la; certamente este é o dia que esperávamos; achamo-lo e vimo-lo.

Ain.

17 Fez o Senhor o que intentou; cumpriu a sua palavra, que ordenou desde os dias da antiguidade: derribou e não se apiedou; fez que o inimigo se alegrasse por tua causa, exaltou o poder dos teus adversários.

Tsadê.

18 O coração deles clamou ao Senhor: Ó muralha da filha de Sião, corram as tuas lágrimas como um ribeiro, de dia e de noite; não te dês descanso, nem parem as meninas de teus olhos.

Cofe.

19 Levanta-te, clama de noite no princípio das vigílias; derrama o teu coração como águas diante da face do Senhor; levanta a ele as tuas mãos, pela vida de teus filhinhos, que desfalecem de fome à entrada de todas as ruas.

Rexe.

20 Vê, ó Senhor, e considera a quem fizeste assim! Hão de as mulheres comer o fruto de si mesmas, as crianças que trazem nos braços? Ou matar-se-á no santuário do Senhor o sacerdote e o profeta?

Chim.

21 Jazem em terra pelas ruas o moço e o velho; as minhas virgens e os meus jovens vieram a cair à espada; tu os mataste no dia da tua ira; degolaste-os e não te apiedaste deles.

Tau.

22 Convocaste de toda parte os meus receios, como em um dia de solenidade; não houve no dia da ira do Senhor quem escapasse ou ficasse; aqueles que trouxe nas mãos e sustentei, o meu inimigo os consumiu.

A tristeza de Jeremias. Ele convida o povo a reconhecer o seu pecado e a voltar para Deus, para obter misericórdia

Álefe.

Eu sou o homem que viu a aflição pela vara do seu furor. Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz. Deveras se tornou contra mim; virou contra mim de contínuo, a mão todo o dia.

Bete.

Fez envelhecer a minha carne e a minha pele, quebrantou os meus ossos. Edificou contra mim e me cercou de fel e trabalho. Assentou-me em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos há muito.

Guímel.

Circunvalou-me, e não posso sair; agravou os meus grilhões. Ainda quando clamo e grito, ele exclui a minha oração. Circunvalou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas.

Dálete.

10 Fez-me como urso de emboscada, um leão em esconderijos. 11 Desviou os meus caminhos e fez-me em pedaços; deixou-me assolado. 12 Armou o seu arco, e me pôs como alvo à flecha.

Hê.

13 Fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava. 14 Fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo e a sua canção todo o dia. 15 Fartou-me de amarguras, saciou-me de absinto.

Vau.

16 Quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes; cobriu-me de cinza. 17 E afastaste da paz a minha alma; esqueci-me do bem. 18 Então, disse eu: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor.

Zain.

19 Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do fel. 20 Minha alma, certamente, se lembra e se abate dentro de mim. 21 Disso me recordarei no meu coração; por isso, tenho esperança.

Hete.

22 As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. 23 Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade. 24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto, esperarei nele.

Tete.

25 Bom é o Senhor para os que se atêm a ele, para a alma que o busca. 26 Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor. 27 Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade;

Jode.

28 assentar-se solitário e ficar em silêncio; porquanto Deus o pôs sobre ele. 29 Ponha a boca no pó; talvez assim haja esperança. 30 Dê a face ao que o fere; farte-se de afronta.

Cafe.

31 Porque o Senhor não rejeitará para sempre. 32 Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias. 33 Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.

Lâmede.

34 Pisar debaixo dos pés todos os presos da terra, 35 perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo, 36 subverter o homem no seu pleito, não o veria o Senhor?