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Este cântico foi composto pelo rei Salomão.

Ela

Que ele me beije com a sua boca,
porque o seu amor me é melhor do que o vinho!
Como o teu perfume é agradável!
Como o teu nome é doce!
Não admira que todas as raparigas gostem de ti!
Leva-me contigo! Anda, corramos!
O rei levou-me para o seu palácio.
Como seremos felizes!
O seu amor é melhor para mim do que o vinho.
Não admira que todas as raparigas te apreciem!
Eu sou morena, mas bela,
ó filhas de Jerusalém,
crestada como as tendas curtidas de Quedar,
e, no entanto, formosa como as tendas de seda de Salomão!
Não olhem sobranceiramente para mim, por eu ser assim escura,
porque foi o Sol que me queimou.
Os meus irmãos tinham má vontade comigo
e mandaram-me para fora,
a trabalhar nas vinhas sob os raios do Sol,
e foi assim que a minha pele se queimou!
Diz-me, tu, a quem eu amo,
para onde vais levar o teu rebanho a pastar?
Onde é que o farás descansar ao meio-dia?
Porque irei lá ter contigo,
e assim não andarei no meio dos rebanhos dos teus companheiros,
dando impressão de ser uma rapariga de cabeça leve.

Ele

Se ainda não o sabes, ó mulher mais bela de todas,
segue as pisadas do meu rebanho,
e apascenta os teus cabritos lá,
junto às tendas dos pastores.
Tu és bela para mim, meu amor,
como as éguas dos carros do Faraó!
10 Como são bonitas as tuas faces, entre os teus brincos,
e belo é o teu pescoço com os colares que te adornam!
Como fica soberbo o teu pescoço,
com esse magnífico colar de pedras preciosas!
11 Haveremos de te fazer brincos de ouro e outras joias de prata.

Ela

12 O rei está assentado à sua mesa,
encantado com o meu perfume de nardo.
13 O seu amor, para mim,
é como um ramalhete de mirra,
que guardo entre os meus seios.
14 O meu amado é um ramo de flores nas vinhas de En-Gedi.

Ele

15 Como és bela, meu amor, como és linda!
Teus olhos são suaves, como pombas.

Ela

16 És gentil, meu querido!
Como és encantador!
A relva verde será o nosso leito de amor.

Ele

17 À sombra dos cedros, as vigas da nossa casa,
e debaixo dos ciprestes, o teto que nos cobre!

Ela

Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.

Ele

Sim, um lírio entre espinhos;
assim é a minha querida,
quando a comparo às outras.

Ela

O meu amado é como uma macieira,
no meio das árvores do pomar,
quando comparado com outros rapazes.
Sento-me à sua desejada sombra;
o seu fruto é doce ao meu paladar.
Leva-me a beber na sala de banquetes
e ergue sobre mim o estandarte do amor.
Sustém-me com fruta, com uvas, com maçãs,
pois estou desfalecendo de amor.
Põe a sua mão esquerda debaixo da minha cabeça
e com a direita abraça-me.
Ó filhas de Jerusalém, conjuro-vos,
pelas gazelas e cervas dos bosques,
que não acordem o meu amado,
até que ele queira!

Já o ouço, o meu amor!
Lá vem ele, galopando sobre os montes,
saltando por cima das colinas.
O meu querido é como uma gazela,
ou o filho dum veado.
Vejam, aí está ele, por detrás do nosso muro;
agora, está já a olhar pelas janelas!
10 Disse-me o meu amor:
“Levanta-te, querida, minha bela, e vem!
11 Porque já passou o inverno;
a chuva parou e foi-se.
12 As flores começam a brotar nos campos;
é o tempo de cantar e de podar;
ouve-se o cantar da rola nos nossos campos.
13 As figueiras começam a dar os seus primeiros figos,
e os cachos começam a aparecer nas vinhas.
Já começam a cheirar bem!
Levanta-te, amor, minha linda, e vem!”

Ele

14 Minha pomba, que te escondes nas fendas das penhas,
no fundo dos desfiladeiros,
faz-me ouvir a tua voz tão doce;
mostra-me o teu rosto encantador.
15 As raposinhas andam correndo pelas vinhas.
Apanhem-nas,
porque os cachos estão já todos a desabrochar.

Ela

16 O meu amor é meu e eu sou dele.
Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios!
17 Antes que refresque o dia e caiam as sombras,
volta, meu querido;
faz-te semelhante a uma gazela,
ou ao filho dum veado sobre os montes de Beter.

Ela

De noite, na minha cama,
busquei aquele que a minha alma deseja.
Procurei por ele e não o encontrei.
Levantei-me, saí para as ruas da cidade, pelas praças,
a ver se o achava, mas em vão.
Os guardas, que faziam a ronda na cidade, detiveram-me,
e perguntei-lhes:
“Viram aquele que eu tanto amo?”
Mas, passado pouco tempo,
logo achei aquele que a minha alma deseja
e não o deixei até o ter levado para casa,
para o velho quarto de minha mãe.
Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém,
pelas gazelas e cervas do campo,
que não despertem o meu amor,
até que ele queira.

Que é isto que se eleva, dos desertos,
semelhante a uma nuvem de fumo, cheirando a mirra,
a incenso e a toda a espécie de pós aromáticos
que se podem importar?
Olhem: é o carro de Salomão!
Rodeiam-no sessenta dos homens mais valentes de Israel.
Todos eles são hábeis no manejo de armas
e de instrumentos de guerra.
Cada um deles tem a sua espada pronta, à cintura,
para defender o rei contra qualquer incidente noturno.
O rei Salomão mandou fazer, para si próprio,
um palanquim com madeira do Líbano.
10 Os seus suportes são de prata;
o dossel é de ouro e o assento forrado de púrpura;
todo o interior foi revestido, com carinho,
pelas raparigas de Jerusalém!
11 Saiam, ó filhas de Sião!
Venham admirar o rei Salomão!
Reparem na coroa com que sua mãe o coroou no dia do casamento,
nesse dia de grande alegria para ele!

Ele

Como és formosa, meu amor, como és bela!
Os teus olhos são como pombas, escondidas atrás do teu véu.
Os teus cabelos, como um rebanho de cabras
pastando no monte de Gileade.
Os teus dentes são brancos como a lã de ovelhas tosquiadas,
subindo do lavadouro.
Todas elas têm gémeos,
não há nenhuma estéril entre elas.
Os teus lábios são como um fio de escarlate.
Como é linda a tua boca!
As tuas faces são duas romãs,
por detrás do teu véu.
O teu pescoço é como a torre de David,
erguida como um arsenal.
Ela está ornada com mil escudos de guerra,
todos eles escudos dos heróis.
Os teus dois seios são como duas crias,
como crias gémeas de gazela,
apascentando-se entre lírios.
Antes que refresque o dia,
e caiam as sombras,
irei ao monte de mirra e ao outeiro de incenso.
És toda formosa, minha querida!
Não tens nenhum defeito!

Vem comigo do Líbano, minha esposa!
Olharemos para baixo, do cimo das montanhas,
do alto dos cumes de Amaná, Senir e Hermon,
onde os leões habitam e os leopardos vagueiam.
Arrebataste-me o coração, meu amor, minha esposa.
Fico vencido, quando os teus olhos se põem em mim;
fico preso às voltas do teu colar.
10 Como me é doce o teu amor, minha querida mulher!
Ele vale muito mais, para mim, do que o melhor vinho!
O perfume do teu amor é mais intenso
do que o das melhores especiarias.
11 Os teus lábios, minha esposa, são de mel!
Sim, mel e leite estão debaixo da tua língua!
A fragrância dos teus vestidos
é semelhante à das florestas de cedro do Líbano.
12 A minha querida esposa é como um jardim privado,
como uma fonte de que mais ninguém bebe,
que é só para mim.
13 És semelhante a um pomar de romãs encantador,
que dá frutos excelentes,
onde se cheiram flores de alfena e de nardo:
14 o nardo, o açafrão, o cálamo, a canela
e toda a espécie de árvores de incenso;
a mirra, o aloés e outras especiarias agradabilíssimas.
15 Tu és a fonte principal dos jardins,
és como um poço de águas vivas,
alimentando as correntes que descem das montanhas do Líbano.

Ela

16 Levanta-te, vento norte, desperta!
Vem, vento sul, sopra sobre o meu jardim!
Espalhem os seus perfumes encantadores!
Que ele venha para o seu jardim
e coma os seus frutos excelentes!

Ele

Cá estou eu no meu jardim, minha querida esposa!
Colhi a minha mirra e as minhas especiarias.
Comi o meu favo com o mel.
Bebi o meu vinho e o meu leite.

As filhas de Jerusalém:

Oh! Querido e amado, come e bebe!

Sim, bebe abundantemente!

Ela

Uma noite, estava eu a dormir,
o meu coração acordou, num sonho.
É que ouvi a voz do meu amor,
que estava a bater à porta do meu quarto:
“Abre, minha querida, minha amada!
Minha pomba sem defeito!
Passei a noite toda fora
e estou coberto de orvalho.”
Mas eu respondi-lhe:
“Já me despi, iria vestir-me de novo?
Já lavei os pés, iria tornar a sujá-los?”
O meu amor tentou abrir, ele próprio, o fecho da porta
e as minhas entranhas estremeceram por amor dele.
Saltei, por fim, da cama para lhe abrir.
As minhas mãos destilavam mirra,
quando puxei a fechadura da porta.
Abri, então, ao meu amado,
mas ele já se tinha ido embora.
O meu coração parou de bater.
Busquei-o por toda a parte, sem o encontrar.
Chamei por ele, mas não obtive resposta.
Os guardas, que faziam a ronda na cidade,
viram-me e espancaram-me, deixando-me ferida;
a sentinela da muralha rasgou-me o manto.
Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém,
que se encontrarem o meu amor
lhe digam que estou doente de amor.

As filhas de Jerusalém:

Ó mulher de rara beleza,
que tem o teu amado mais do que qualquer outro,
para que nos peças tal coisa?

Ela

10 O meu querido tem uma pele de cor saudável;
é elegante e melhor do que dez mil outros mais!
11 A sua cabeça é como ouro puríssimo;
tem os cabelos ondulados e pretos retintos.
12 Os seus olhos são duas pombas,
junto a uma corrente de águas límpidas e calmas.
13 As suas faces são um canteiro de especiarias;
os seus lábios, perfumados,
são como lírios que gotejassem mirra!
14 Os seus braços parecem argolas de ouro engastadas de topázios;
o seu corpo é como esplêndido marfim,
escrustado de safiras.
15 As sua pernas, é como se fossem pilares de mármore,
assentes em bases de ouro puro,
parecem-se com os maravilhosos cedros do Líbano;
não têm rival!
16 O seu falar é doce!
Sim, é todo desejável!
Tal é o meu amado, o meu amigo,
ó filhas de Jerusalém!

As filhas de Jerusalém:

Ó mais formosa entre as mulheres,
para onde foi o teu amado?
Estamos dispostas a ir procurá-lo contigo.

Ela

O meu amor desceu ao seu jardim,
aos canteiros de bálsamo,
para apascentar os seus rebanhos e colher lírios.
Eu sou do meu amado
e o meu amado é meu.
Ele apascenta o seu rebanho entre os lírios!

Ele

Ó minha querida, és tão bela!
Tão encantadora como a terra de Tirza[a]!
Sim, tão bela como Jerusalém!
A tua beleza conquistou-me,
como se se tratasse dum exército imponente.
Desvia de mim os teus olhos,
porque eles me perturbam!
O teu cabelo, emoldurando-te o rosto,
é como um rebanho de cabras pastando em Gileade.
Os teus dentes são como um rebanho de ovelhas recém-lavadas,
Todas elas têm gémeos;
não há estéreis entre elas.
Como duas metades de romã,
assim são as tuas faces, escondidas atrás do teu véu.
Sessenta são as rainhas,
oitenta as concubinas,
as virgens não têm conta.
Mas tu, minha pomba, és única entre elas!
És perfeita, não tens rival!
As mulheres de Jerusalém ficaram encantadas, quando te viram,
e até as rainhas e as concubinas te louvam.

As filhas de Jerusalém:

10 Quem é esta que aparece como a alva do dia,
formosa como a Lua,
pura como o Sol,
incondicionalmente conquistadora?

Ele

11 Desci até ao bosque das nogueiras,
fui até ao vale para ver os novos frutos ali,
para ver se floresciam as vides
e se já brotavam as romeiras.
12 Mas antes de me dar conta disso,
os meus pensamentos já me haviam sentado
no carro com o meu príncipe.

As filhas de Jerusalém:

13 Volta, volta, ó sulamita!
Regressa para que possamos ver-te outra vez!

Ele

Porque querem olhar para uma simples rapariga de Sulam,
como para uma dança de Maanaim?
Como são bonitos os teus pés ágeis, ó princesa!
As voltas das tuas coxas são como joias,
trabalhadas por mãos de artista.
O teu umbigo, como uma artística taça,
cheia de fino licor;
o teu ventre é um campo de trigo cercado de lírios.
Os teus dois seios parecem-se com duas crias,
com gémeas de gazela.
O teu pescoço é como uma torre de marfim;
os teus olhos são dois límpidos poços,
em Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim.
O teu nariz tem a forma airosa
duma torre do Líbano, olhando para Damasco.
Como o monte Carmelo
é a coroa das montanhas que o rodeiam,
assim é a tua cabeça sobre ti.
Os teus cabelos são de púrpura.
O rei está preso pelas tuas belas tranças.
Como és formosa!
Como és encantadora, ó delícia de amor!
Tens o porte altivo e elegante de uma palmeira.
Os teus seios são como cachos de uvas.
Eu disse assim: “Hei de subir à palmeira!
Hei de agarrar-me aos seus ramos!”
Os teus seios são como cachos de uvas.
O hálito da tua respiração como o aroma de maçãs.
Os teus beijos dão a mesma alegria
que o melhor dos vinhos, suave e doce,
fazendo até falar os lábios dos que dormem.

Ela

10 Eu sou do meu amado!
Ele deseja-me!
11 Vem, meu amor!
Vamos para os campos!
Passemos as noites nas aldeias!
12 Levantemo-nos de manhã cedo
e saiamos às vinhas, a ver se já florescem as vides,
se já se abrem as flores e brotam as romeiras.
Ali te darei o meu grande amor!
13 As mandrágoras exalam a sua fragância.
Às nossas portas há toda a espécie de frutos,
dos mais excelentes, frescos e secos.
Guardei-os para ti, meu amor!
Oh! Se ao menos fosses meu irmão!
Poder-te-ia beijar à vontade!
Fosse quem fosse que estivesse a olhar,
não haveria de rir-se de mim.
Trazer-te-ia para a casa da minha mãe,
aquela que me ensinou.
Dar-te-ia a beber vinho aromático
e mosto das minhas romãs.
Pôr-me-ias a mão esquerda debaixo da cabeça
e com a direita me abraçarias.
Conjuro-vos, filhas de Jerusalém,
não acordem o meu amor, até que ele queira!

As filhas de Jerusalém:

Quem é esta que sobe do deserto,
encostada tão aprazivelmente ao seu amado?

Ela

Debaixo da macieira,
onde a tua mãe te deu à luz,
aí eu te acordei.
Põe-me como um selo sobre o teu coração,
grava-me como marca forte no teu braço.
Porque o amor é forte como a morte
e o ciúme cruel como o mundo dos mortos[b].
Flameja como labaredas de fogo,
são labaredas da chama divina.
Nem a água toda poderia apagar este amor;
tão-pouco enchentes de rios o poderiam fazer.
Alguém que quisesse comprar este amor,
com a riqueza toda que possuísse, não conseguiria.

Irmãos

Temos uma irmã, pequenina,
que ainda não tem seios.
Que faremos à nossa irmã,
se alguém pretender pedi-la em casamento?
Se ela for uma muralha,
construiremos sobre ela um palácio de prata;
se ela for uma porta,
cercá-la-emos com placas de cedro.

Ela

10 Eu sou uma muralha.
Os meus seios são como torres.
Por isso, eu sou, aos seus olhos,
como aquela que lhe traz contentamento.

11 Salomão teve uma vinha em Baal-Hamom
que entregou a uns rendeiros dali;
cada um dava-lhe mil peças de prata.
12 Quanto à minha vinha, ó Salomão, trato eu dela!
Leva as tuas mil peças de prata
e eu darei duzentas aos guardas que se ocupam dela.

Ele

13 Ó meu amor, que habitas em jardins,
os teus companheiros atentam para a tua voz!
Deixa-me ouvi-la também!

Ela

14 Vem depressa, meu querido!
Faz-te semelhante à gazela, ao veado novo,
correndo sobre montes perfumados!

Footnotes

  1. 6.4 Tirza. Cidade que, devido à sua beleza, foi feita capital de Israel pelo rei Jeroboão.
  2. 8.6 Sheol. Segundo o pensamento hebraico do Antigo Testamento, é o lugar dos mortos, mas não necessariamente como um sepulcro ou sepultura, que é um lugar de morte e definhamento, mas sim um lugar de existência consciente, embora sombria e infeliz.

A esposa anela pelo seu esposo

Cântico de cânticos, que é de Salomão.

Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho. Para cheirar são bons os teus unguentos; como unguento derramado é o teu nome; por isso, as virgens te amam. Leva-me tu, correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras.

Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam.

Eu sou morena e agradável, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão. Não olheis para o eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas; a vinha que me pertence não guardei. Dize-me, ó tu, a quem ama a minha alma: onde apascentas o teu rebanho, onde o recolhes pelo meio-dia, pois por que razão seria eu como a que erra ao pé dos rebanhos de teus companheiros?

Se tu o não sabes, ó mais formosa entre as mulheres, sai-te pelas pisadas das ovelhas e apascenta as tuas cabras junto às moradas dos pastores. Às éguas dos carros de Faraó te comparo, ó amiga minha. 10 Agradáveis são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu pescoço com os colares. 11 Enfeites de ouro te faremos, com pregos de prata.

12 Enquanto o rei está assentado à sua mesa, dá o meu nardo o seu cheiro. 13 O meu amado é para mim um ramalhete de mirra; morará entre os meus seios. 14 Como um cacho de Chipre nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado.

15 Eis que és formosa, ó amiga minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas.

16 Eis que és gentil e agradável, ó amado meu; o nosso leito é viçoso. 17 As traves da nossa casa são de cedro, as nossas varandas, de cipreste.

Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales.

Qual o lírio entre os espinhos, tal é a minha amiga entre as filhas.

Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar. Levou-me à sala do banquete, e o seu estandarte em mim era o amor. Sustentai-me com passas, confortai-me com maçãs, porque desfaleço de amor. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua mão direita me abrace.

Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira.

Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já vem saltando sobre os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo ou ao filho do corço; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, reluzindo pelas grades. 10 O meu amado fala e me diz:

Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem. 11 Porque eis que passou o inverno: a chuva cessou e se foi. 12 Aparecem as flores na terra, o tempo de cantar chega, e a voz da rola ouve-se em nossa terra. 13 A figueira já deu os seus figuinhos, e as vides em flor exalam o seu aroma. Levanta-te, amiga minha, formosa minha, e vem. 14 Pomba minha, que andas pelas fendas das penhas, no oculto das ladeiras, mostra-me a tua face, faze-me ouvir a tua voz, porque a tua voz é doce, e a tua face, aprazível.

15 Apanhai-me as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor. 16 O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. 17 Antes que refresque o dia e caiam as sombras, volta, amado meu; faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos corços sobre os montes de Beter.

De noite busquei em minha cama aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não o achei. Levantar-me-ei, pois, e rodearei a cidade; pelas ruas e pelas praças buscarei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o e não o achei. Acharam-me os guardas, que rondavam pela cidade; eu perguntei-lhes: Vistes aquele a quem ama a minha alma? Apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, até que o introduzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou. Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e cervas do campo, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira.

O cortejo nupcial. O esposo exprime o seu amor pela esposa

Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra, de incenso e de toda a sorte de pós aromáticos? Eis que é a liteira de Salomão; sessenta valentes estão ao redor dela, dos valentes de Israel. Todos armados de espadas, destros na guerra; cada um com a sua espada à cinta, por causa dos temores noturnos. O rei Salomão fez para si um palanquim de madeira do Líbano. 10 Fez-lhe as colunas de prata, o estrado de ouro, o assento de púrpura, o interior revestido com amor pelas filhas de Jerusalém. 11 Saí, ó filhas de Sião, e contemplai o rei Salomão com a coroa com que o coroou sua mãe no dia do seu desposório e no dia do júbilo do seu coração.

Eis que és formosa, amiga minha, eis que és formosa; os teus olhos são como os das pombas entre as tuas tranças, o teu cabelo é como o rebanho de cabras que pastam no monte de Gileade. Os teus dentes são como o rebanho das ovelhas tosquiadas, que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e nenhuma estéril entre elas. Os teus lábios são como um fio de escarlata, e o teu falar é doce; a tua fronte é qual pedaço de romã entre as tuas tranças. O teu pescoço é como a torre de Davi, edificada para pendurar armas; mil escudos pendem dela, todos broquéis de valorosos. Os teus dois peitos são como dois filhos gêmeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.

Antes que refresque o dia e caiam as sombras, irei ao monte da mirra e ao outeiro do incenso.

Tu és toda formosa, amiga minha, e em ti não mancha. Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos leopardos. Tiraste-me o coração, minha irmã, minha esposa; tiraste-me o coração com um dos teus olhos, com um colar do teu pescoço. 10 Que belos são os teus amores, irmã minha! Ó esposa minha! Quanto melhores são os teus amores do que o vinho! E o aroma dos teus bálsamos do que o de todas as especiarias! 11 Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro das tuas vestes é como o cheiro do Líbano. 12 Jardim fechado és tu, irmã minha, esposa minha, manancial fechado, fonte selada. 13 Os teus renovos são um pomar de romãs, com frutos excelentes: o cipreste e o nardo, 14 o nardo e o açafrão, o cálamo e a canela, com toda a sorte de árvores de incenso, a mirra e aloés, com todas as principais especiarias. 15 És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!

16 Levanta-te, vento norte, e vem tu, vento sul; assopra no meu jardim, para que se derramem os seus aromas. Ah! Se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes!

A esposa finge indiferença pelo esposo, mas segue-o imediatamente, busca-o e reconcilia-se com ele

Já vim para o meu jardim, irmã minha, minha esposa; colhi a minha mirra com a minha especiaria, comi o meu favo com o meu mel, bebi o meu vinho com o meu leite.

Comei, amigos, bebei abundantemente, ó amados.

Eu dormia, mas o meu coração velava; eis a voz do meu amado, que estava batendo:

Abre-me, irmã minha, amiga minha, pomba minha, minha imaculada, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos, das gotas da noite.

despi as minhas vestes; como as tornarei a vestir? lavei os meus pés; como os tornarei a sujar? O meu amado meteu a sua mão pela fresta da porta, e o meu coração estremeceu por amor dele. Eu me levantei para abrir ao meu amado, e as minhas mãos destilavam mirra, e os meus dedos gotejavam mirra sobre as aldravas da fechadura. Eu abri ao meu amado, mas já o meu amado se tinha retirado e se tinha ido; a minha alma tinha-se derretido quando ele falara; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me respondeu. Acharam-me os guardas que rondavam pela cidade, espancaram-me e feriram-me; tiraram-me o meu manto os guardas dos muros.

Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que, se achardes o meu amado, lhe digais que estou enferma de amor.

Que é o teu amado mais do que outro amado, ó tu, a mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado, que tanto nos conjuraste.

10 O meu amado é cândido e rubicundo; ele traz a bandeira entre dez mil. 11 A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos são crespos, pretos como o corvo. 12 Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. 13 As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas; os seus lábios são como lírios que gotejam mirra. 14 As suas mãos são como anéis de ouro que têm engastadas as turquesas; o seu ventre, como alvo marfim, coberto de safiras. 15 As suas pernas, como colunas de mármore, fundadas sobre bases de ouro puro; o seu aspecto, como o Líbano, excelente como os cedros. 16 O seu falar é muitíssimo suave; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, e tal o meu amigo, ó filhas de Jerusalém.

Para onde foi o teu amado, ó mais formosa entre as mulheres? Para onde virou a vista o teu amado, e o buscaremos contigo?

O meu amado desceu ao seu jardim, aos canteiros de bálsamo, para se alimentar nos jardins e para colher os lírios. Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele se alimenta entre os lírios.

Formosa és, amiga minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras. Desvia de mim os teus olhos, porque eles me perturbam. O teu cabelo é como o rebanho das cabras que pastam em Gileade. Os teus dentes são como o rebanho de ovelhas que sobem do lavadouro, e das quais todas produzem gêmeos, e não estéril entre elas. Como um pedaço de romã, assim são as tuas faces entre as tuas tranças. Sessenta são as rainhas, e oitenta, as concubinas, e as virgens, sem número. Mas uma é a minha pomba, a minha imaculada, a única de sua mãe e a mais querida daquela que a deu à luz; vendo-a, as filhas lhe chamarão bem-aventurada, as rainhas e as concubinas a louvarão.

10 Quem é esta que aparece como a alva do dia, formosa como a lua, brilhante como o sol, formidável como um exército com bandeiras?

11 Desci ao jardim das nogueiras, para ver os novos frutos do vale, a ver se floresciam as vides, se brotavam as romeiras. 12 Antes de eu o sentir, me pôs a minha alma nos carros do meu povo excelente.

13 Volta, volta, ó sulamita, volta, volta, para que nós te vejamos.

Por que olhas para a sulamita como para as fileiras de dois exércitos?

Que formosos são os teus pés nos sapatos, ó filha do príncipe! As voltas de tuas coxas são como joias, trabalhadas por mãos de artista. O teu umbigo, como uma taça redonda, a que não falta bebida; o teu ventre, como monte de trigo, cercado de lírios. Os teus dois peitos, como dois filhos gêmeos da gazela. O teu pescoço, como a torre de marfim; os teus olhos, como os viveiros de Hesbom, junto à porta de Bate-Rabim; o teu nariz, como a torre do Líbano, que olha para Damasco. A tua cabeça sobre ti é como o monte Carmelo, e os cabelos da tua cabeça, como a púrpura; o rei está preso pelas suas tranças. Quão formosa e quão aprazível és, ó amor em delícias! A tua estatura é semelhante à palmeira, e os teus peitos, aos cachos de uvas. Dizia eu: Subirei à palmeira, pegarei em seus ramos; e, então, os teus peitos serão como os cachos na vide, e o cheiro da tua respiração, como o das maçãs. E o teu paladar, como o bom vinho para o meu amado, que se bebe suavemente e faz com que falem os lábios dos que dormem. 10 Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição. 11 Vem, ó meu amado, saiamos ao campo, passemos as noites nas aldeias. 12 Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas, vejamos se florescem as vides, se se abre a flor, se já brotam as romeiras; ali te darei o meu grande amor. 13 As mandrágoras dão cheiro, e às nossas portas toda sorte de excelentes frutos, novos e velhos; ó amado meu, eu os guardei para ti.

Ah! Quem me dera que foras meu irmão e que te tivesses amamentado aos seios de minha mãe! Quando te achasse na rua, beijar-te-ia, e não me desprezariam! Levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; e te daria a beber vinho aromático e do mosto das minhas romãs. A sua mão esquerda esteja debaixo da minha cabeça, e a sua direita me abrace.

Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, que não acordeis nem desperteis o meu amor, até que queira.

O amor inalterável do esposo para com a esposa

Quem é esta que sobe do deserto e vem encostada tão aprazivelmente ao seu amado?

Debaixo de uma macieira te despertei, ali esteve tua mãe com dores; ali esteve com dores aquela que te deu à luz. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, labaredas do Senhor. As muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse toda a fazenda de sua casa por este amor, certamente a desprezariam.

Temos uma irmã pequena, que ainda não tem peitos; que faremos a esta nossa irmã, no dia em que dela se falar? Se ela for um muro, edificaremos sobre ela um palácio de prata; e, se ela for uma porta, cercá-la-emos com tábuas de cedro.

10 Eu sou um muro, e os meus peitos, como as suas torres; então, eu era aos seus olhos como aquela que acha paz.

11 Teve Salomão uma vinha em Baal-Hamom; entregou essa vinha a uns guardas; e cada um lhe trazia pelo seu fruto mil peças de prata.

12 A minha vinha que tenho está diante de mim; as mil peças de prata são para ti, ó Salomão, e duzentas, para os guardas do seu fruto.

13 Ó tu que habitas nos jardins, para a tua voz os companheiros atentam; faze-ma, pois, também ouvir.

14 Vem depressa, amado meu, e faze-te semelhante ao gamo ou ao filho dos corços sobre os montes dos aromas.

Este é o mais bonito dos cânticos, feito por Salomão.[a]

Canta a amada

Encha-me com seus beijos,
    porque o seu amor é mais doce do que o vinho.
O seu aroma[b] é uma delícia!
    E o seu nome[c] é como o melhor dos perfumes.[d]
    Por isso as jovens amam você.
Leve-me com você, fujamos juntos!

Que o rei me leve à sua habitação!

Canta o coro

Ficamos alegres por você e nos lembraremos
    que o amor que você tem é mais doce do que o vinho.

Canta a amada

Com toda a razão as jovens amam você.
Filhas de Jerusalém, eu sou morena, mas bonita.
    Sou morena como as tendas de Quedar e de Salmã.[e]

Não prestem atenção na cor da minha pele
    que o sol tem escurecido.
É que os meus irmãos ficaram chateados comigo
    e me mandaram cuidar das suas vinhas,
    mas não cuidei de mim mesma.[f]

Amor meu, diga para mim aonde leva pastar o seu rebanho.
    Diga para mim aonde o leva para descansar ao meio-dia.
    Se me falar isso, poderei estar ao seu lado.
Não terei que estar procurando por você às escondidas
    entre os rebanhos dos seus amigos,
    como uma mulher coberta com véu.

Canta o amado

Como você não saberia onde me encontrar,
    ainda mais você, que é a mais bonita das mulheres?
Se você não souber isso, siga as pisadas do rebanho
    e leve pastar os seus cabritos,
    junto às tendas dos pastores.

Amada minha, como você chama a atenção dos homens!
    É como uma égua entre os cavalos que puxam as carruagens do faraó.[g]
10 As suas faces ficam bonitas com enfeites,
    e o seu pescoço fica lindo com um colar.
11 Faremos para você uma cadeia de ouro
    incrustada de prata.

Canta a amada

12 Meu perfume[h] vai cobrindo o rei em toda a sua volta
    enquanto descansa ao meu lado em seu leito.[i]

13 Meu amado é como uma bolsa pequena de mirra
    que passa a noite entre os meus peitos.
14 Meu amado é como um ramalhete de flores de hena
    das vinhas de En-Gedi[j].

Canta o amado

15 Amada minha, você é mesmo bonita!
    É realmente muito bonita!
    Os seus olhos são tão lindos como os das pombas.

Canta a amada

16 E você é tão bonito, amor meu!
    É tão encantador!

Canta o amado

O pasto fresco e agradável é o nosso leito!
17     Os cedros são as vigas da nossa casa,
    e o nosso telhado é o cipreste.

Canta a amada

Sou só uma flor de Sarom[k],
    um lírio dos vales[l].

Canta o amado

Amada minha, entre todas as mulheres,
    você é para mim como um lírio entre os espinhos.

Canta a amada

Amor meu, entre todos os homens,
    você é para mim como uma macieira entre as árvores silvestres.

Tenho gostado de descansar debaixo da sua sombra
    e saborear o seu doce fruto.
Com a intenção de plantar sua bandeira de amor sobre mim,
    meu amado me levou à casa do vinho.

Estou debilitada por causa de amar tanto.
    Por isso deem-me de comer passas
    e alimentem-me com maçãs.
Ele coloca um dos seus braços debaixo da minha cabeça
    e com o outro, me abraça.

Canta o amado

Mulheres de Jerusalém, jurem
    pelas gazelas e cervos do campo
que não incomodarão nem acordarão o amor
    até que seja o momento indicado.

Canta a amada

Escutem! É a voz do meu amado!
    Olhem para ele! Lá vem apressado,
saltando entre as montanhas
    e brincando pelos montes.
Parece uma gazela
    ou um cervo jovem.

Olhem para ele ali, escondido atrás da parede,
    olhando pela janela
    e espiando por entre as grades.

10 Meu amado me disse:
“Levante-se, amada minha;
    venha comigo, preciosa.
11 Olhe que já não faz mais frio
    e parou de chover.
12 Nasceram novas flores
    e os pássaros voltaram a cantar[m]!
    O som dos pombos se ouve em nossa terra.
13 A figueira faz com que os seus figos fiquem maduros,
    e as vinhas florescem e espalham a sua fragância.
Levante-se, amada minha;
    venha comigo, preciosa.
14 Pomba minha, que anda nas fendas das rochas
    e nos penhascos das montanhas,
deixe-me ver o seu rosto, deixe-me ouvir a sua voz;
    porque a sua voz é doce e o seu rosto, bonito”.
15 Peguem as raposas,
    as raposas pequenas
que estragam as vinhas,
    porque nossa vinha está agora florescendo.

16 Ele é meu e eu sou sua!
    Ele se alimenta entre as flores da primavera.
17 Enquanto a brisa do dia respira
    e as sombras vão crescendo,[n]
volte, amado meu,
    como gazela ou cervo novo,
    por entre montanhas bem perfumadas.[o]
De noite, na minha cama, procurei pelo meu amado.
    Procurei por ele, mas não podia encontrá-lo!

Pensei: “Me levantarei!
    Percorrerei a cidade!
Pelas ruas e as praças
    procurarei o amor da minha vida!”

Procurei por ele,
    mas não consegui encontrá-lo!
Encontrei os guardas que fazem a ronda pela cidade
    e lhes perguntei se tinham visto o meu amado.

Apenas acabei de falar com eles,
    encontrei o amor da minha vida!
Abracei-o e não o soltei
    até que chegamos à casa da minha mãe,[p]
    à habitação daquela que me gerou.

Canta o amado

Mulheres de Jerusalém,
    jurem pelas gazelas e cervos do campo
que não incomodarão nem acordarão o amor
    até que seja o momento certo.[q]

Canta o coro

Quem é essa mulher que sobe do deserto[r]?
    Ela deixa ao seu passo uma nuvem de fumaça
perfumada de incenso, mirra
    e todo tipo de perfumes importados.[s]

Vejam! É a carruagem[t] de Salomão,
    escoltada por sessenta guerreiros,
    dos mais corajosos de Israel.
Todos são soldados experientes,
    muito habilidosos com a espada.
Levam espadas para se proteger
    dos perigos da noite.

O rei Salomão fez sua carruagem
    com madeira fina do Líbano.
10 As suas colunas as fez de prata,
    a cobertura de fio dourado,
o assento de púrpura.
    Seu interior está decorado com motivos de amor.

11 Mulheres de Sião, saiam
    e vejam o rei Salomão!
Vejam a coroa[u] que a sua mãe colocou nele no dia do seu casamento,
    quando o seu coração pulava de alegria.

Canta o amado

Quão bela é você, amada minha,
    realmente muito bela.
Os seus olhos parecem duas pombas
    por trás do véu.
O seu cabelo é comprido e ondulado;
    cai como um rebanho de cabras
    que descem pelos montes de Gileade.
Os seus dentes são brancos, como ovelhas tosquiadas
    que acabaram de tomar banho.
Todas têm gêmeos,
    não falta nenhuma.
Os seus lábios e a sua boca são lindos,
    como um fio de cor vermelha.
As suas faces, debaixo do seu véu,
    parecem pedaços de romã.
O seu pescoço mantém a cabeça erguida,
    é como a torre de Davi, feita para guardar o armamento.
Na sua cabeça são pendurados
    mil escudos de corajosos soldados.
Os seus seios são como dois cervos gêmeos
    que se alimentam entre as flores da primavera.
Subirei nessas montanhas perfumadas
    de incenso e mirra
enquanto o dia continuar respirando o vento fresco
    e as sombras forem aumentando[v].

Amada minha, tudo em você é lindo!
    Você não tem defeito algum.
Venha comigo, noiva minha,
    desça comigo do Líbano.
Desça depressa do alto do Amana[w],
    do topo do Senir[x] e do Hermom,
das covas dos leões,
    do monte dos leopardos.

Amada minha, você roubou o meu coração;
    roubou o meu coração com um só dos seus olhares,
    com uma só pérola do seu colar.
10 Amada minha,[y] o seu amor é maravilloso!
    É mais doce do que o vinho.
O aroma da sua pele é muito melhor
    do que o aroma que qualquer outra fragância possa ter!
11 Noiva minha, seus lábios sabem a mel;
    há leite e mel debaixo da sua língua.
E a fragância da sua roupa
    é tão doce e fresca[z]!
12 Amada minha, noiva minha,
    você é tão pura como um jardim
no qual ninguém tem entrado ainda[aa];
    como uma fonte que ninguém tem tocado[ab] ainda.
13 O seu corpo é como um jardim cheio de romãs,
    que dão o seu melhor fruto,
    perfumado com flores de hena,
14 nardos e açafrão[ac]
    com cálamo e canela[ad];
com todas as árvores de incenso,
    mirra e aloés;
    com os melhores perfumes.
15 Você é como uma fonte de água fresca
    que desce das montanhas do Líbano.

Canta a amada

16 Acorde, vento norte!
    Venha aqui, vento sul!
Soprem no meu jardim
    e espalhem a sua suave fragância
para que meu amado entre
    e prove dos seus deliciosos frutos.

Canta o amado

Amada minha, noiva minha,
    entrei no meu jardim,
peguei a minha mirra e as minhas especiarias,
    o meu mel do seu favo,
    e tenho bebido do meu néctar e do meu vinho.

Coro

Ó, queridos amigos, comam e bebam,
    fiquem embriagados de amor!

Canta a amada

Eu durmo, mas o meu coração vigia.
    Ouça, meu amado está chamando:
“Abra a porta,
    amada e companheira minha,
    minha pomba, minha amada perfeita.
Abra a porta,
    que a minha cabeça está coberta de orvalho
    e a chuva da noite tem molhado o meu cabelo”.

Eu lhe respondi: “Já tirei a minha roupa,
    terei que vesti-la de novo?
Já lavei os meus pés,
    terei que sujá-los de novo?”

Mas quando percebi
    que meu amado tentava abrir a porta,
    senti uma pena profunda dele.[ae]
Então me levantei para abrir a porta;
    as minhas mãos estavam cobertas de mirra
que escorria pelos meus dedos
    enquanto tentava abrir a porta.
Abri a porta,
    mas ele já tinha ido embora.
Quase morri ao ver
    que ele não estava mais lá.[af]
Procurei por ele, mas não o encontrei;
    chamei por ele mas não respondeu.
Os guardas da cidade me encontraram
    e bateram em mim.
Me feriram
    e tiraram o meu véu.[ag]

Mulheres de Jerusalém,
    prometam-me que se virem o meu amado
    lhe dirão que estou doente de amor.

Coro

Bela entre as belas,
    o que seu amado tem que outros homens não tenham?
O que ele tem que os outros não tenham
    para que nos obrigue a fazer essa promessa?

Canta a amada

10 O meu amado é muito bonito e tem uma linda pele acastanhada como a cor da canela.
    Poderia reconhecê-lo embora ele estivesse entre dez mil homens.
11 A sua cabeça brilha como o ouro puro;
    seu cabelo é ondulado
    e de cor negra como a cor do corvo.
12 Os seus olhos são tranquilos,
    como duas pombas ao lado de uma fonte;
são limpos, lavados em leite,
    combinam bem com ele como se fossem joias.
13 As suas faces são suaves e fragantes,
    os seus lábios são como lírios perfumados.
14 Os seus braços são fortes e bonitos,
    como varas de ouro enfeitadas com pedras preciosas.
Seu tronco é como marfim polido
    coberto com safiras.
15 As suas pernas são como colunas de mármore
    sobre bases de ouro puro.
É alto como o mais majestoso
    cedro do Líbano.
16 Os seus lábios são os mais doces de todos
    e é o homem mais desejado.
Assim é o meu amado, filhas de Jerusalém,
    assim é o meu companheiro.

Coro

Ó, mulher bonita,
    aonde foi o seu amado?
Por qual caminho foi embora?
    Diga para a gente, a fim de que ajudemos você a procurá-lo.

Canta a amada

Meu amado foi ao seu jardim de flores perfumadas.
    Ele foi para descansar nos jardins
    e colher alguns lírios.
Eu pertenço ao meu amado
    e ele me pertence.
Ele descansa entre os lírios.

Canta o amado

Amada minha, é tão bonita como Tirza[ah],
    encantadora como Jerusalém,
majestosa como um exército
    que levanta as suas bandeiras.

Não me olhe,
    porque os seus olhos me perturbam muito.
O seu cabelo é comprido e ondulado,
    cai como um rebanho de cabras
    que descem pelos montes de Gileade.
Os seus dentes são brancos,
    como ovelhas tosquiadas
    que acabaram de tomar banho.
Todas têm gêmeos,
    não falta nenhuma.
Suas faces debaixo do seu véu
    parecem pedaços de romã.

Embora um rei possa ter sessenta rainhas,
    oitenta concubinas e uma infinidade de mulheres,
para mim só existe uma mulher,
    a minha amada perfeita, a minha pomba.
    Ela é a filha favorita da sua mãe.
Quando as jovens a veem… a louvam!
    Até as rainhas e as concubinas a louvam!

Coro

10 Quem é essa mulher
    que surge como a aurora,
bela como a lua, radiante como o sol
    e maravilhosa como as estrelas[ai]?

Canta o amado

11 Desci ao jardim das nogueiras
    para ver as plantas novas do vale,
ver se brotava a videira
    e se floreciam as romãs.
12 De súbito me fez sentir[aj] como um príncipe
    entre as carruagens do meu povo.[ak]
    Eu mesmo não sabia mais quem eu era.

Coro

13 Volte, sulamita[al], volte!
    Volte, pois queremos vê-la!

Canta o amado

Por que olham tão fixamente para a sulamita
    quando ela dança a dança dos campamentos?
Princesa[am], que belos são os seus pés nessas sandálias!
    O seu quadril parece uma joia feita pelo melhor artista.
O seu umbigo é como uma taça
    sempre cheia do melhor vinho.
A sua cintura é como o trigo
    cercado de flores.
Os seus seios são como
    dois cervos gêmeos de uma gazela.
O seu pescoço é comprido e fino
    como uma torre de marfim.
Os seus olhos são claros como as piscinas de Hesbom[an],
    ao lado da entrada de Bate-Rabim[ao].
O seu nariz é tão perfeito como a torre do Líbano,
    que olha diretamente para Damasco.
A sua cabeça é tão bela como o monte Carmelo;
    e o seu cabelo é de cor vermelho-escura, como a cor da seda,
    o rei está preso nas suas tranças.[ap]

Amada minha, você é muito bonita!
    Muito encantadora!
É alta, tão alta como a palmeira.
    E seus seios são como os cachos dessa palmeira.
Gostaria de subir nela
    e me pendurar nos seus ramos.

Que os seus seios sejam cachos de uvas
    e o seu hálito tenha o fresco aroma das maças!
    Os seus beijos são como o vinho.

Canta a amada

Vinho que passa suavemente para o meu amado[aq],

Canta o amado

e passa sobre a minha língua e os meus dentes[ar].

Canta a amada

10 Eu pertenço ao meu amado,
    e ele me deseja!
11 Venha, amor meu, saiamos ao campo
    e passemos a noite entre as plantas de hena[as].
12 Vamos acordar cedo e ir ver as vinhas,
    para ver se já deram novos frutos
e se os botões já brotaram.
    Vejamos se as romãs já floresceram.
    Ali entregarei a você todo o meu amor.

13 Amor meu, cheire o doce aroma das mandrágoras[at]
    e de todos os frutos deliciosos
    que há na nossa porta.
Todos esses frutos maravilhosos, amor meu,
    os tinha guardado para você:
    alguns secos e outros frescos.
Como eu gostaria que você fosse como um irmãozinho meu,
    um bebê da minha mãe.
Se o encontrasse na rua,
    beijaria você e ninguém me desprezaria por isso.

Levaria você para a casa da minha mãe,
    onde você me ensinaria sobre o amor[au];
e ali lhe daria de beber vinho de bom sabor,
    meu doce suco de romã.

Canta a amada

Ele coloca um dos seus braços debaixo da minha cabeça
    e com o outro me abraça.
Mulheres de Jerusalém, jurem
    que não incomodarão o amor, que não o acordarão
    até que seja o momento indicado.

Coro

Quem é essa mulher que sobe do deserto,
    encostada no seu amado?

Canta a amada

Debaixo da macieira acordei você,
    ali onde a sua mãe concebeu você,
    ali onde ela deu à luz.
Leve-me como uma tatuagem gravada no seu coração;
    leve-me como uma tatuagem gravada na sua pele.
O amor é mais forte do que a morte
    e a paixão é mais forte do que o sepulcro[av].
As suas brasas são de fogo,
    como uma chama divina.
Nada pode acabar com o amor,
    nada pode destruí-lo.
Se um homem oferecesse toda a sua fortuna
    para comprar o amor,
    as pessoas o desprezariam.

Coro

Temos uma irmã pequena,
    ainda é uma menina.
Que devemos fazer
    quando os homens começarem a dar em cima dela?

Se ela fosse uma parede,
    construiríamos ao seu redor uma torre de defesa.
E se fosse uma porta,
    a reforçaríamos com barras de aço.

Canta a amada

10 Eu sou uma parede
    e os meus seios são as suas torres.
Quando eu olho os olhos do meu amado,
    me sinto bem.[aw]

11 Salomão tinha uma vinha em Baal-Hamom
    e ordenou a alguns homens que a cuidassem.
Cada homem trazia seu fruto
    que valia mil moedas[ax] de prata.

12 Salomão, pode ficar
    com suas mil moedas de prata;
reparta duzentas moedas com os que trouxeram as uvas,
    mas eu fico com o meu campo de uvas.

Canta o amado

13 Você está ali, sentada no jardim,
    seus amigos ouviram você.
    Deixe-me ouvir a sua voz dizer:

Canta a amada

14 “Venha depressa, amor meu, como gazela,
    como um cervo jovem por entre as montanhas de bom aroma”.

Footnotes

  1. 1.1 por Salomão ou “em honra a Salomão”.
  2. 1.3 aroma Literalmente, “azeite” ou “perfume”.
  3. 1.3 nome Esta palavra no idioma hebraico soa como a palavra perfume.
  4. 1.3 é como o melhor dos perfumes ou “é como azeite derramado”. Derramar azeite era um sinal de poder ou riqueza. Em uma festa o anfitrião costumava oferecer azeite aos seus hóspedes para que estes o vertessem nas suas cabeças.
  5. 1.5 Quedar, Salmã Tribos árabes. O TM tem: “Salomão” em vez de “Salmã”.
  6. 1.6 mim mesma Literalmente, “minha própria vinha”.
  7. 1.9 entre os cavalos (…) do faraó As carruagens de infantaria eram puxadas por cavalos machos. “Uma égua entre as carruagens” significa que ela chama muito a atenção dos homens.
  8. 1.12 perfume Literalmente, “nardo”. Ver Nardo no vocabulário.
  9. 1.12 ou “Meu perfume chega até o rei enquanto ele está com seus companheiros”.
  10. 1.14 En-Gedi Oásis no deserto perto do mar Morto.
  11. 2.1 flor de Sarom Uma flor comum, provavelmente o narciso. Sarom é uma planície estreita que se estende ao sul do monte Carmelo, sobre a costa do Mediterrâneo.
  12. 2.1 lírio dos vales Literalmente, “a flor de asfódelo”. Uma flor comum que brota em Israel na primavera.
  13. 2.12 e os (…) cantar ou “é a época de cortar ramos”.
  14. 2.17 vão crescendo Literalmente, “fogem”. Pode fazer referência tanto ao começo como ao fim do dia.
  15. 2.17 montanhas bem perfumadas ou “as montanhas de Betero” ou “montanhas sinuosas”.
  16. 3.4 casa da minha mãe A casa da mãe era o lugar onde se passava a noite de núpcias e estava relacionada com o casamento em geral, porque era a mãe quem fazia os arranjos do casamento. Ver Gn 24.67 e Rt 1.8,9.
  17. 3.5 até que (…) certo Literalmente, “até que o amor o deseje”.
  18. 3.6 Quem é (…) do deserto Ver 8.5.
  19. 3.6 perfumes importados Literalmente, “pós de comerciantes”.
  20. 3.7 carruagem Literalmente, “liteira”.
  21. 3.11 coroa Pode ser uma coroa de flores, que era colocada no noivo no dia do casamento.
  22. 4.6 forem aumentando Literalmente, “fogem”. Pode ser uma referência tanto ao começo como ao fim do dia.
  23. 4.8 Amana É o nome de um monte do Líbano.
  24. 4.8 Senir É a palavra amorrea para um monte com neve. Faz referência ao monte Hermom.
  25. 4.10 Amada minha Literalmente, “Irmã minha”. Isto não significa que os dois fossem parentes, mas era uma expressão que se usava quando um homem tratava a uma mulher como se ela tivesse a mesma idade que ele. O mesmo acontece em 5.1; 7.6.
  26. 4.11 doce e fresca Literalmente, “como o Líbano”. O Líbano era famoso pelo cedro. Refere-se ao aroma perfumado do cedro.
  27. 4.12 no qual ninguém tem entrado ainda Literalmente, “fechado, porque os seus encantos são só para o seu amado”.
  28. 4.12 tocado Literalmente, “selado”.
  29. 4.14 açafrão Flor que se usava para fazer um condimento que tornava a cor da comida em amarelo-vermelho.
  30. 4.14 canela Flor que se usava como condimento e para fazer perfumes.
  31. 5.4 senti (…) dele Literalmente, “o meu interior ficou comovido por ele”.
  32. 5.6 Quase (…) não estava mais lá ou “Minha alma ficou abatida quando ele falou”.
  33. 5.7 tiraram o meu véu ou “arrancaram o meu manto”.
  34. 6.4 Tirza Uma das capitais do norte de Israel.
  35. 6.10 como as estrelas ou “como os exércitos do céu”. O hebraico não é claro. Ver 6.4.
  36. 6.12 me fez sentir Literalmente, “me fez subir”.
  37. 6.12 carruagens do meu povo ou “carruagens de Aminadabe” ou “do povo do rei”. O hebraico não é claro.
  38. 6.13 sulamita Pode se referir ao lugar de onde essa mulher era. Forma femenina do nome Salomão.
  39. 7.1 Princesa Literalmente, “Bate-Nadibe”, que significa “filha de príncipe”. Acontece o mesmo com a palavra Aminadabe no 6.12.
  40. 7.4 Hesbom Hesbom é uma cidade ao oeste do rio Jordão, famosa nos relatos bíblicos. Ver Nm 21.26-30.
  41. 7.4 Bate-Rabim Uma porta da cidade de Hesbom.
  42. 7.5 e o seu cabelo (…) nas suas tranças ou “e o seu cabelo é da cor púrpura como a cor da seda real. Está preso nas tranças”.
  43. 7.9 amado Segundo o TM. Já que o texto se refere ao amado, aqui a amada termina o que disse o amado e na seguinte linha é o amado que termina o que a amada disse.
  44. 7.9 os meus dentes Segundo a LXX, a versão siríaca, a versão de Áquila e a Vulgata. O TM e o targum aramaico têm: “os que dormem”.
  45. 7.11 plantas de hena ou “nas aldeias”.
  46. 7.13 mandrágoras Planta da família da batata, com raízes em forma de homem. As pessoas achavam que tinha o poder de fazer com que as mulheres se tornassem férteis.
  47. 8.2 onde (…) amor Segundo o TM. A LXX tem: “ao quarto daquela que me deu à luz”.
  48. 8.6 o sepulcro ou “Sheol”, o lugar onde vão os mortos.
  49. 8.10 Quando (…) me sinto bem Literalmente, “nos seus olhos acho paz”. Em hebraico estas palavras é parecida com os nomes Salomão e Sulamita.
  50. 8.11 mil moedas Literalmente, “mil siclos”. Ver tabela de pesos e medidas.